Produção grande, problemas maiores
Alta produção expõe gargalos do Mato Grosso.
O Mato Grosso é o segundo maior estado brasileiro produtor de arroz. Cerca de 80% da produção está concentrada na região norte, na região de Sinop. No estado, a cultura do arroz sempre serviu em abertura de áreas para a soja e pastagens. Nos últimos anos, porém, o arroz passou a ser um bom negócio, chegando a ser cotado a R$ 42,00 em 2003 no Mato Grosso. Então, o cereal passou a integrar o sistema de produção em rotação com outras culturas e consórcios. A área foi ampliada, mas a estrutura não acompanhou esta evolução.
Na safra 2004/2005, o Mato Grosso colheu uma safra recorde e aumentou a produtividade. Estes fatores serviram para mostrar alguns gargalos. Por interferência do clima, a safra apresentou problemas de qualidade que prejudicaram ainda mais os preços. Ainda nesta linha, a cultivar Cirad 141, que representa 55% da área do Mato Grosso, perdeu características de longo fino em parte da produção. O grão extrapolou as especificações da norma técnica que rege a classificação nacional. Assim, com a classificação de longo, o arroz perdeu 50% de seu valor comercial. Por último, mas não menos preocupante, faltaram armazéns para guardar a safra.
O corretor Jorge Fagundes, da Futura Cereais, explica que no início da safra houve muita procura pela cultivar Primavera, preferida da indústria, o que praticamente terminou com este produto. Restou alguma coisa na mão de produtores que só pretendem pôr no mercado por preços remuneradores. Quando o arroz Cirad 141 entrou no mercado, também tinha alta qualidade e foi bem absorvido pelos cerealistas. “O problema ficou grave quando os preços começaram a cair demais com o avanço das safras do Sul e a entrada de mais arroz do Mercosul, começaram a ser ofertados grãos de menor qualidade no Mato Grosso e estourou o problema de classificação do Cirad”, explicou.
Em reuniões com o Ministério da Agricultura, as lideranças do MT tentaram modificar os critérios de classificação, mas não houve resposta positiva. Isso implicaria em alterar normas estabelecidas em 1988 em todo o Brasil e seguidas por parte do Mercosul. A sugestão foi de misturar o Cirad com arroz de melhor qualidade, numa proporção de 20%. Ainda assim, as cotações do Cirad, mesmo com 52% de inteiros, caíram de R$ 21,00 para R$ 13,00/60 quilos.
A crise de mercado se instalou e muitos protestos foram deflagrados. Os produtores de Sorriso anunciaram uma moratória de 60 dias para pagamento das dívidas e os de Matupá fecharam a BR 163, até que uma decisão da Justiça fez liberar o trânsito.
Questão básica
A Conab esclareceu que não alterou a classificação do produto, rotulando-o como tipo 2 e não como tipo 1, ou em classe longo no lugar de longo fino, como foi alegado pelos produtores. Segundo a Conab/MT, os técnicos constataram que, em boa parte das amostras, o produto não se enquadrou como longo fino por exceder os limites pré-estipulados para a espessura dos grãos, como previsto na Portaria 269/88, do Ministério da Agricultura, válidos para todo o Brasil. E responsabilizou os mantenedores da cultivar pela perda de qualidade do grão.