Produtores de arroz têm perdas de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões por chuva em TO
(Por Carolina Mainardes, Globo Rural) “Está sendo, praticamente, uma operação de guerra”. A frase da produtora rural Ana Clara Guanaes Carassa, que possui uma área em Lagoa da Confusão, no Tocantins, com 2 mil hectares de lavouras de arroz irrigado e de soja, ilustra bem as dificuldades dos agricultores da região devido às chuvas que atingem o município.
A propriedade que Ana Clara administra junto com o pai está a 39 quilômetros da lagoa e perto do rio. Com a proximidade, todas as parcelas das lavouras foram atingidas pela inundação. A operação para colher a safra de está exigindo o triplo de máquinas. “Estamos fazendo o que dá para perder o menos possível”, conta Ana Clara.
A chuva chegou no momento da colheita, o que exigiu um mutirão para arrumar trechos da estrada – também prejudicada -, assim como viabilizar a finalização do ciclo a tempo de garantir a qualidade dos grãos. Também foi preciso encontrar máquinas para a colheita em áreas alagadas.
“Esse tipo de máquina é menor, sem muita tecnologia – o que já compromete um pouco”, enfatiza Ana Clara. Ela explica que o processo acaba acontecendo com menos assertividade, quebra dos grãos e falha na limpeza.
Chuva e atraso na colheita também devem prejudicar a soja, que pode até apodrecer, lamenta a produtora, que tenta evitar perdas na classificação. “Estamos tentando colher e, ao mesmo tempo, analisando a produtividade dos lotes. Com certeza, vamos ter perdas”, prevê Ana Clara, que ainda não tem os números exatos do prejuízo.
Lagoa da Confusão é o único município do Tocantins que integra o ranking dos 100 municípios mais ricos do agronegócio, do Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE). Por causa das inundações, foi decretada situação de emergência na localidade. A Defesa Civil estadual estima pelo menos 40 desabrigados e aproximadamente 160 pessoas afetadas.
O alto volume de chuva levou ao transbordamento do Rio Urubu, que serve à região. De acordo com representantes do agronegócio local, em quatro dias, caíram de 340 a 350 milímetros na área da cabeceira do rio. Além de mais 100 milímetros em seis dias.
Nas áreas rurais, mais de 5 mil hectares de arroz irrigado foram comprometidos na região. As perdas no campo são estimadas em mais de 30 mil toneladas do cereal. Segundo Frederico Sodré dos Santos, superintendente adjunto da Federação de Agricultura do Estado de Tocantins (Faet), os prejuízos são calculados em R$ 50 milhões.
Colheita suspensa
Frederico dos Santos comenta que a Faet segue acompanhando a situação, principalmente das chamadas áreas de várzea de Lagoa da Confusão. Na próxima segunda-feira (3/4), representantes da Federação e técnicos visitarão as regiões mais atingidas no estado, juntamente com técnicos, para avaliar as perdas e tentar mitigar os danos.
“Essas áreas – nas quais a topografia é naturalmente favorável ao acúmulo de água e onde estão concentradas as lavouras irrigadas de arroz – têm registrado um volume de chuva muito grande”, observa.
A colheita está suspensa em várias fazendas, por causa da quantidade de água nas plantações. Wagno Milhomem, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Sudoeste do Tocantins (Aproest), avalia que a produção sofrerá perdas de quantidade e qualidade.
Dados da Aproest indicam que 13,5 mil hectares da produção de arroz irrigado da região foram prejudicados, um volume que pode chegar a 675 mil sacos de 60 kg. A associação informa que também foram atingidas lavouras e estradas nas proximidades dos rios Duerê, Formoso e Lago Verde.
O setor também está alerta para a conclusão da colheita da soja nas regiões em que a chuva persiste. A maior parte das lavouras do grão já foi colhida no Estado. Restam 15% dos campos. “Se retardar a colheita, a soja perde qualidade, o que acarretará mais prejuízos”, analisa Santos, da Faet.
Vanderlei Silva, presidente do Sindicato Rural de Lagoa da Confusão, reforça o alerta. “A chuva faz com que o grão vá escurecendo, abrindo, o que compromete a qualidade”, explica. “Mas não é tanta perda como no caso do arroz”, acrescenta.
Somando tudo, ele calcula um prejuízo até maior que o estimado pela Faet para os produtores das áreas atingidas. “Deve chegar a R$ 60 milhões.”
As chuvas comprometem também a condição das estradas no Tocantins, prejudicando o escoamento da safra. O transbordamento do rio Urubu deixou corredores de produção agrícola intrafegáveis.
De acordo com o superintendente da Federação de Agricultura do Estado, vicinais estão em estado ruim. E um trecho da BR-153, próximo à Wanderlândia – na divisa do Tocantins com o Maranhão – foi interditado devido ao rompimento de um bueiro.
O trecho faz parte do trajeto para o Porto do Itaqui, em São Luís do Maranhão, destino dos veículos que transportam a safra. “Essa interdição exige um desvio de 100 quilômetros”, explica Santos.
O presidente do sindicato rural de Lagoa da Conceição, Vanderlei Silva, ressalta que o tráfego já fica prior nas estradas da região mesmo em dias de chuva considerada normal. Carretas, segundo ele, ficam atoladas no barro. “A prefeitura tem dado um suporte, mas enquanto a chuva não parar, não tem estrada boa nessas áreas de várzea”, observa Vanderlei Silva.