Produtores de grãos ‘compram’ chuva

Tecnologia provoca precipitações em regiões nas quais a estiagem ameaça as lavouras.

Com 29 dias de estiagem no início deste ano, e com o risco iminente de perder o investimento na lavoura, 25 grandes produtores de soja e arroz da região do Baixo Parnaíba, no nordeste do Estado do Maranhão, decidiram se unir para fazer algo inusitado: comprar chuva. Depois de estudar alternativas para levar água para suas plantações e evitar maiores prejuízos causados pela seca, o grupo acabou optando pela contratação de uma empresa especializada na "semeadura" de nuvens.

"Naquele período, a meteorologia previa chuvas de apenas 2 milímetros. Mas, após o segundo dia de trabalho da empresa, em algumas propriedades chegou a chover 100 milímetros", diz o agrônomo Sérgio Strobel, produtor de soja e de arroz que liderou os demais produtores na busca por uma solução.

Alívio. De acordo com ele, após a "semeadura" de nuvens, naquele dia choveu 60 milímetros na sua propriedade. "Foi um alívio, afinal, investimos cerca de R$ 1.500 por hectare."

Para custear a compra da tão esperada chuva, os 25 produtores criaram um "fundo chuva". "No total eram 300 mil hectares que precisavam de água. Nós dividimos então o custo total pela quantidade de terra que cada produtor possui e no fim cada um gastou R$ 8 por hectare", conta o produtor Strobel.

"A formação desses fundos tem sido adotada também em outras regiões", diz a diretora da empresa contratada para fazer chover nas lavouras maranhenses, Majory Imai. Segundo ela, outros grupos de produtores rurais também têm procurado a empresa em épocas de estiagem. "Recentemente fizemos uma trabalho semelhante no Estado da Bahia. E eles também se cotizaram para custear a semeadura das nuvens", diz Majory. "Apesar de conseguirmos fazer chover bastante, geralmente temos de voltar para realizar uma etapa complementar, já que o grande volume de água é rapidamente absorvida pelo solo muito seco."

No Maranhão, Strobel conta que o grupo já está reservando fundos para, se preciso, acionar novamente a "chuva" em meados de maio. "Em média, aqui chove até 2 mil milímetros. Mas a previsão para este ano está próxima dos 700 milímetros."

Além dos produtores rurais, a empresa também tem contrato com a Sabesp, para fazer chover sobre os sistemas do Alto Tietê e Cantareira. "Em 2008, quando a empresa previa um estresse hídrico nos dois sistemas, conseguimos elevar as reservas ao melhor nível dos últimos 25 anos. Porém, por razões óbvias (o excesso de chuva), o contrato foi encerrado."

PARA ENTENDER

Como fazer chuva artificial

Chuva artificial não é exatamente novidade. Nos EUA, a técnica para provocar precipitações teve início na década de 1930. Mas, diferentemente das técnicas utilizadas desde então, que consistem no bombardeiro de produtos químicos nas nuvens – como iodeto de prata e cloreto de sódio, proibidos em alguns países -, o método adotado pela empresa brasileira é baseado no uso de água potável. "A aeronave sobrevoa as nuvens e lança sobre elas gotículas de água de diâmetro controlado, maiores que as gotas existentes na nuvem. São as gotas "coletoras"", explica Majory Imai. Dentro da nuvem, ao entrar em contato com as outras gotas, as gotas coletoras imitam o processo natural de crescimento vertical das nuvens, pela evaporação. A partir de certo ponto, a nuvem se condensa, passando do estado gasoso para o líquido, e começa a chover.

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