Produtores não devem colocar a decisão sobre os preços nas mãos do mercado ou do governo

O arroz é um produto da cesta básica e, se os produtores deixarem o governo definir o preço mínimo do grão, a decisão será sempre a de manter os preços baixos. Isso ocorre porque o negócio do governo é colocar comida barata na cidade.

A principal decisão de uma empresa é definir o preço de seu produto. As demais, estão subordinadas a ela. Com base nesta premissa, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Antonio Domingos Padula, abriu a segunda palestra técnica da 18ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, nesta sexta-feira (29/03).

Padula, que coordena o Centro de Estudos e Pesquisas na Área de Agronegócio da UFRGS, defende a tese de que são os produtores que devem definir o preço do grão e não colocar esta decisão nas mãos do mercado ou do governo federal. Segundo ele, é esta incapacidade do setor de se organizar produtiva e politicamente o principal entrave para a boa remuneração do agricultor.

Padula explicou que enquanto a indústria de insumos, a indústria de beneficiamento, o varejo e o os consumidores são setores organizados e concentrados, os agricultores são milhares e desorganizados. Segundo ele, o governo sempre vai priorizar os consumidores que estão na cidade, que são sua base eleitoral, oferecendo produtos a preços baixos.

– O arroz é um produto da cesta básica e, se os produtores deixarem o governo definir o preço mínimo do grão, a decisão será sempre a de manter os preços baixos. Isso ocorre porque o negócio do governo é colocar comida barata na cidade – avaliou.

De acordo com Padula, algumas decisões precisam ser tomadas para reverter esse quadro. Ele defende que os produtores precisam, primeiramente, controlar a oferta do produto. Conforme esta lógica, cada vez que aumenta a produção, aumenta a oferta e os preços caem.

– É a lei do mercado. O mercado deve estar sempre desabastecido. Aí sim se define preço – argumentou.

A segunda medida seria o controle dos estoques. Para isso, os produtores precisam estar organizados e representados politicamente. Este, segundo ele, é o maior desafio a ser enfrentado pelo setor. Por outro lado, argumenta que não adianta reduzir a oferta se o governo “abrir as porteiras” para o arroz dos países do Mercosul.

O professor da UFRGS também brincou com a platéia ao citar um exemplo, no mínimo interessante.

– Alguém aí sabe por que o produtor que tem silo na propriedade é também o que tem a casa mais bonita? Quem tem silo está definindo o preço, ou seja, escolhe o melhor momento para vender. Conseqüentemente é também o que obtém um melhor rendimento – explicou.

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