Queda da oferta global pode gerar nova disparada do arroz
Diante do cenário de escassez, grandes consumidores iniciaram importações como forma de assegurar o abastecimento, um movimento que já provoca a alta da commodity nas bolsas..
Os preços internacionais do arroz poderão voltar aos níveis recordes de 2008 com a perspectiva de queda da oferta nos principais países produtores. Dois eventos climáticos extremos – seca e tufões – ameaçam minar a safra deste ano. Diante do cenário de escassez, grandes consumidores iniciaram importações como forma de assegurar o abastecimento, um movimento que já provoca a alta da commodity nas bolsas.
Nesta quarta-feira, na bolsa de Chicago, os contratos futuros com vencimento em novembro fecharam a US$ 13,9150 por hundredweight, alta de 41,50 centavos de dólar. Um lote com 2 mil “hundredweight” equivale a 91 toneladas métricas.
– Não estamos muito longe do cenário de guinada nos preços como ocorreu em 2008 – disse ontem o Secretário da Agricultura das Filipinas, Arthur Yap, em conferência no país.
– Para que os preços recordes voltem, não falta muito – acrescentou Euben Paracuelles, economista do Royal Bank of Scotland, em Cingapura.
– Os mesmos problemas climáticos estão prejudicando de novo a produção dos grandes exportadores de arroz.
Previsões do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apontam que a demanda global por arroz no ano fiscal que se encerrará em 2010 subirá para o maior nível desde 1960, excedendo a produção em 2,4 milhões de toneladas. O déficit entre oferta e demanda toma como base o recuo de 2,7% na produção global, para 433,6 milhões de toneladas.
Por um lado, a seca na América do Sul reduziu as irrigações no campo, forçando alguns produtores a diminuir a área plantada e, consequentemente, as exportações. Por outro, a Índia sofreu fortemente com chuvas de monções fracas desde 1972, minando as expectativas de uma boa safra pelo segundo ano consecutivo.
Com os grandes produtores comprometidos, começou a corrida por estoques. As Filipinas já fizeram encomendas para 2010 após as perdas robustas nas lavouras com a passagem de ciclones no mês passado, antecipando-se à guinada nos preços que se desenha.
– Precisamos nos preparar e trazer arroz imediatamente – afirmou Jessup Navarro, da Autoridade Nacional de Alimentação.
Segundo maior produtor mundial, a Índia também anunciou que planeja importar até 3 milhões de toneladas de arroz em 2010. A produção do país deve recuar em 18%, para 81 milhões de toneladas, no ano fiscal iniciado em 1º de outubro, valor inferior à demanda prevista de 89 milhões de toneladas, segundo a FAO.
– O governo pode se dar ao luxo de ter arroz estocado apodrecendo, mas não pode ter estoques baixos no caso de mais seca ou enchentes prejudicarem a lavoura – disse Rakesh Singh, executivo da Emmsons International.
A trading fornece cerca de 500 mil toneladas de arroz à Índia a cada ano. Se confirmada a importação, será a primeira vez que a Índia vai às compras desde 2006. Esse retorno também puxaria os preços do arroz da Tailândia, uma referência regional, em pelo menos 25% em relação aos níveis atuais, afirmou Singh.
– Estamos pisando sobre gelo. As circunstâncias mostram a possibilidade de retorno aos níveis recordes de preços – afirmou Dwight Roberts, presidente da Associação de Produtores de Arroz dos EUA.