Quem quer arroz de laboratório?

 Quem quer arroz de laboratório?

Laboratórios buscam um arroz com maior resistência ao frio e aos herbicidas

A polêmica dos transgênicos chega à lavoura orizícola
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Entre as metas da pesquisa com transgênicos está o desenvolvimento de variedades com resistência aos inseticidas e doenças e com maior qualidade nos grãos. O potencial produtivo das variedades existentes continua estagnado numa faixa que vai de 10 mil kg/ha a 12 mil kg/ha há 50 anos.

Os produtos alimentícios alterados geneticamente em laboratório já chegaram à mesa em países da América do Norte e Europa e começam a invadir o Brasil. São tomates que duram mais, milho de grãos maiores, soja tolerante aos herbicidas, abóboras resistentes a vírus e batatas imunes aos insetos. Com o arroz não é diferente. Já existem pesquisas em solo brasileiro para criar variedades resistentes aos insetos, herbicidas e ao frio.

Ao consumidor é impossível notar a diferença entre estes produtos e os grãos e hortaliças naturais. O sabor e a aparência são idênticos. A adoção da biotecnologia para modificar geneticamente os alimentos em laboratório, no entanto, não é um assunto livre de polêmicas. Há iniciativas políticas no Rio Grande do Sul, no Brasil e em vários países do mundo, principalmente da Europa, que criam barreiras ao desenvolvimento desta prática de pesquisa e produção.

O especialista em Biologia Molecular Vegetal e Fitopatologia da UFRGS, Marcelo Gravina de Moraes, acredita que esta prática poderá trazer avanços significativos à produção mundial de arroz. Ele lembra que atualmente são utilizados como método de produção de cultivares comerciais e de pesquisa o sistema convencional com cruzamento e seleção das variedades. "Algumas das principais exigências de melhoramento da cultura, com estas técnicas, no entanto, não estão sendo atendidas", explica Gravina de Moraes.

Falou e disse 

"O arroz plantado atualmente em todo o mundo é fruto de pesquisa da década de 50. De lá para cá variedades como o BR Irga 409 e 410 só foram sendo cruzadas e adaptadas. Não houve pesquisas básicas desde que lançadas as variedades modernas, de porte baixo, na década de 70"

Perspectivas

A biotecnologia é o caminho mais adequado para que a lavoura de arroz nacional alcance o potencial produtivo apontado pela pesquisa, segundo o doutor em Biologia Molecular em vegetais e fitossanidade, Marcelo Gravina de Moraes, da UFRGS. Ele afirma que as práticas de manejo e condução da lavoura empregadas no país ainda não conseguem buscar todo o potencial de produtividade das sementes utilizadas. A produtividade média dos gaúchos é de 5,5 mil quilos por hectare.

Os desafios da biotecnologia

1. Elevar potencial das variedades para mais de 12 toneladas/ha
2. Incorporar ao arroz resistência durável às doenças e insetos.
3. Chegar a uma variedade com tolerância a fatores ambientais (frio) visando maior estabilidade na produção.

Fonte: Marcelo Gravina de Moraes 

QUESTÃO BÁSICA 

E se o transgênico for liberado?

Se o arroz transgênico for liberado, o produtor que optar pelas variedades melhoradas geneticamente terá que utilizar um pacote de tecnologia especial, de acordo com o especialista em biotecnologia da UFRGS Marcelo Gravina de Moraes. Para não ficar dependente de uma semente ou correr o risco de passar a resistência do branco para o vermelho, através do cruzamento natural das espécies, é necessário realizar uma rotação das variedades. Para Gravina de Moraes, vão existir outras variedades com resistência por processos diferentes ou similares e até pode ser utilizada a semente convencional. "Técnicas de manejo e rotação são muito importantes para assegurar este controle", frisou.

As demandas da pesquisa em biotecnologia do arroz

1. Tolerância aos herbicidas
2. Tolerância ao frio
3. Resistência às doenças
4. Tolerância à toxidez por ferro
5. Resistência à bicheira-da-raiz
6. Produtividade
7. Qualidade do grão (incorporar vitaminas, inclusive)
8. Amilose (qualidade do cozimento)
9. Manejar o ciclo da cultura (torná-lo mais curto ou mais longo de acordo com a necessidade de cada região)

Ficha técnica 

Biotecnologia 

No sistema convencional de produção de novas variedades, quando se cruza uma espécie de cultivar, o híbrido terá todas as características dos pais. A transgênese usa só um gene.

Pelo sistema convencional, o retrocruzamento, é necessário ficar cruzando as espécies por vários anos até obter um resultado com características uniformes. Com a biotecnologia um gene é isolado in vitro e transferido para outra planta.

O primeiro impacto positivo é a redução do tempo de seleção. Depois é preciso saber se o resultado foi satisfatório. Este sistema torna mais simples e rápido o processo de obtenção de plantas melhoradas. É o caso do cultivo de anteras, sistema que está sendo adotado na produção de novas variedades pelo Irga.

Biotecnologia vem a ser o conjunto de tecnologias modernas de manipulação de material biológico. A transgênese é uma das técnicas. As outras são o cultivo in vitro (que já é desenvolvido no Irga, por exemplo), marcadores moleculares (uma espécie de impressão digital da planta, que dá suas características), onde o DNA da planta dá informação sobre o comportamento da variedade ou linhagem e é muito usado na área de sementes, e a transformação genética, que se dá através da transferência, in vitro, do DNA.

Esta tecnologia derruba a barreira da planta só aceitar transferência de DNA da mesma espécie, como ocorre nos métodos convencionais de melhoramento genético. Com o sistema transgênico, é possível transferir DNA do trigo para o arroz, de bactérias ou outros organismos.

É uma ferramenta para o melhoramento genético. Este sistema permite gerar plantas com características inalcançáveis através do melhoramento convencional e corrigir defeitos em cultivares de modo mais eficiente do que pelas práticas até agora existentes.

 

A busca da resistência ao herbicida

A busca do domínio da biotecnologia ocorre por causa do principal problema da lavoura arrozeira gaúcha: o alto nível de infestação das lavouras pelo arroz vermelho, uma variedade selvagem que cruza com o arroz branco e compromete a produtividade e a produção, além da qualidade do grão. Não há planta de arroz resistente aos herbicidas totais. Se descobriu, no entanto, genes resistentes ao glifosinado (princípio ativo do herbicida) em alguns microorganismos do solo, acrescentando um gene de resistência nas plantas do arroz. Ou seja, o herbicida é aplicado e mata as invasoras enquanto o arroz continua crescendo. Já existe produto para ser lançado nos EUA. No Brasil há pesquisa para transferir para outras variedades de arroz esta resistência. O arroz transgênico reduz o custo, mas exige cuidados especiais de manejo e rotação de sementes, por exemplo.

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