Recordes de exportação

 Recordes de exportação

O Brasil descobriu nichos importantes no mercado externo
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O Brasil dá passos decididos para assumir seu espaço de fornecedor no concorrido mercado internacional de arroz. A ofensiva iniciou em 2004, quando quebrou o recorde de exportação em duas décadas, com 53,72 mil toneladas de arroz (base casca) e um faturamento de 7,61 milhões de dólares. Em 2005, a marca já foi ultrapassada e o faturamento, até junho, chegou a 19,22 milhões de dólares para 141 mil toneladas. 

As indústrias gaúchas, responsáveis por quase a totalidade das exportações, descobriram um nicho de mercado especial: o arroz quebrado (canjicão) para a África, já que o baixo preço do produto elevou o nível de exigência no mercado interno. Senegal é o maior cliente do Brasil. Já importou 103 mil toneladas de arroz (base casca). A Suíça e países da América Latina surgem como outros importantes parceiros, na compra de quebrados e de arroz parboilizado. 

O analista de mercados Tiago Sarmento Barata lê esses números como a confirmação de que o Brasil pode participar como ofertante no mercado internacional de arroz, evoluir neste sentido e fortalecer sua posição. Apesar de produzir grãos de excelente qualidade, as exportações do Brasil ainda se concentram nos quebrados (91%) para abastecer o mercado africano. Em junho, o país exportou 20,5 mil toneladas, oito mil toneladas menos que em maio, porém 22 vezes mais do que havia exportado em junho de 2004. “É positivo para o país, que vem acumulando excedentes nos últimos anos, e importante para adquirir know-how e confiabilidade, fatores fundamentais para quem quer manter-se nesse mercado”, frisa Barata. 

Para José Rubens Arantes, diretor de suprimentos da Camil, a redução dos preços no mercado interno tornou o arroz de maior qualidade mais acessível ao consumidor brasileiro, abrindo uma janela para a exportação de quebrados. Coincidiu com a demanda, principalmente dos africanos, e com uma condição de câmbio favorável para esse produto. A Camil pretende passar de um volume de 20 mil toneladas para 50 mil toneladas (base casca) embarcadas para o exterior neste ano. 

ESFORÇO – O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul, César Gazzaneo, afirma que além dos preços e dos excedentes, as exportações estão sendo aumentadas por conta de um grande esforço do setor. “Sabemos do excedente que existe no Brasil e no Mercosul e precisamos tirar pelo menos uma parte deste excesso daqui para equalizar os preços da cadeia produtiva”, explicou.

Fique de olho
Entre janeiro e maio de 2005, o Brasil exportou um volume de 82,245 mil toneladas de arroz – beneficiado, quebrado, parboilizado, entre outros, sendo que 74,63 mil toneladas foram de quebrados, o que equivale a 120,76 mil toneladas em base casca. É mais que o dobro das 53,72 mil toneladas de arroz base casca exportadas em todo o ano de 2004. Em junho foram exportadas mais 20,5 mil toneladas de arroz – base casca -, somando no primeiro semestre 141 mil toneladas.

 

Expectativa no segundo semestre

O analista da empresa Safras & Mercado, Aldo Lobo, acredita que o nível de negócios de exportação de arroz do Brasil deve reduzir no segundo semestre. Se o câmbio cair, o país perde competitividade. Uma provável falta de navios deve interferir também. Segundo Lobo, os embar-ques já realizados correspondem aos negócios firmados no início do ano. A oscilação do dólar por questões políticas agita o mercado, que a partir de agosto pode tomar novos rumos. 

Além disso, Senegal, o principal cliente, importa arroz de boa qualidade da Ásia e usa nosso quebrado para misturar. Para Lobo, o país africano importou o suficiente para abastecer-se, o que explica a queda da demanda. O economista Camilo Feliciano de Oliveira acredita que o Brasil tem condições de exportar mais de 250 mil toneladas em 2005. Com uma valorização do dólar para o patamar entre R$ 2,60 e R$ 2,70, seria favorecida também a exportação de produto de maior qualidade. 

Questão básica
O mercado internacional de arroz em 2005 representa apenas 4,1% (25,5 milhões de toneladas) da produção mundial de 621 milhões de toneladas estimada pela FAO. Trata-se de um mercado absolutamente irreal pelo peso de altos subsídios conferidos pelos países exportadores e uma série de mecanismos de defesa de alguns países, como o Japão. Cerca de 90% de todo o arroz produzido e consumido no mundo está na Ásia. O Brasil ocupa a posição de maior produtor (13,29 milhões de tonela-das) e consumidor (12,9 milhões de toneladas) de arroz fora deste eixo. É o nono maior produtor mundial e consta da relação dos 10 maiores importadores do mundo. Desde 2004 começou a surgir na lista dos exportadores com volumes signifi-cativos. Até então, não passava do patamar de 30 mil toneladas por ano. 

 

Soltinho para o Japão

A indústria brasileira de arroz adota a estratégia de buscar mercados mais exigentes e viabilizar maior volume de negócios. É o caso da Josapar, do Rio Grande do Sul, que enviou 40,2 toneladas de arroz Tio João, marca líder no mercado nacional, para o Japão. A meta é atender os mais de 300 mil brasileiros que vivem no Japão e consomem arroz longo fino, soltinho, diferente do “empapado” consumido na Ásia. 

A Columbia Trading realizou o envio. “Foi um passo para abrir mercados diferenciados com produtos de alto valor agregado”, explicou Luciano Ferreira, gerente de vendas da Josapar. O Japão importa 600 mil toneladas por ano de diversos países. Essa é a primeira operação de exportação do arroz brasileiro ao mercado japonês. No ano passado, a empresa exportou sete mil toneladas (menos de 1% do total negociado no país). Até maio, 65% desse volume foi embarcado e a Josapar projeta exportações até 15% superiores a 2004. 

 

Exportação em números

– 53,72 mil toneladas* em 2004
– 7,61 milhões de dólares é o faturamento de 2004
– 141 mil toneladas* de janeiro a junho de 2005
– 19,22 milhões de dólares é o faturamento
– 103 mil toneladas* foram exportadas para o Senegal
– 250 mil toneladas* é a meta de exportação do Brasil
* Base casca 
 

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