Reflexo do passado
Preços e demanda em 2021 aumentam lavoura do Mercosul
A elevação de preços que predominou no primeiro semestre civil de 2021 e ao longo de 2020, marcando recordes globais, e a forte demanda internacional entusiasmaram os arrozeiros dos quatro países do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O resultado será uma safra 2% maior em área e 1,5% em produção. Serão 236,9 mil toneladas a mais e 45,3 mil hectares.
O consumo aumentará, em especial pela elevação de 400 mil toneladas (1,8%) na demanda brasileira em função da queda de mais de 50% nos preços domésticos desde o período de pico das cotações na pandemia e das exportações e de um aumento de mais de 100% no programa de renda social do governo federal. Argentina (1,5%) e Paraguai (1%) também apresentam uma indicação de pequena elevação do consumo interno e Uruguai (56 mil t) mantém-se estável.
A elevação de área já era prevista no bloco econômico. Além dos três países vizinhos, o Rio Grande do Sul sinalizava elevação da superfície plantada. Boa parte dos produtores planejou a safra 2021/22 apostando em uma volta dos preços aos patamares de 2020 e início de 2021, quando estiveram entre US$ 16,00 e US$ 20,00.
O Brasil manteve-se dentro de sua média histórica de exportação, projeta-se perto de 1,15 milhão de toneladas em base casca, mas cerca de 500 mil toneladas abaixo de seu potencial de 2021 por não ter preço doméstico para competir no mercado exterior. O Uruguai também viu um recuo de pelo menos 25% nas suas vendas internacionais este ano, até outubro. Ainda assim, o fato dos valores do grão serem fixados por negociação direta entre produtores e indústrias com base no desempenho de exportação (o país consome 4% do que produz) e a expectativa de avanços no mercado internacional deram suporte à elevação de área.
Na Argentina, o crescimento de apenas quatro mil hectares na superfície semeada está associado à elevação do custo e das sobretaxas de exportação. Haveria potencial para elevar a área em maior volume não fossem os fatores econômicos, como uma inflação de 35% que afeta o país.
Já no Paraguai o fator climático falou mais alto. Apesar da safra passada ter sido marcada por forte estiagem que atrapalhou a produção, gerou polêmicas ambientais e baixou a capacidade de escoamento da produção pela baixa histórica do Rio Paraná, com custos menores, os arrozeiros paraguaios seguem competitivos no Mercosul. No entanto, estão vendo crescer os custos fixos e referentes à legislação ambiental e às limitações de logística e transporte.
Questão básica
Um dos fatores que preocupa igualmente os produtores do Mercosul é a elevação dos custos de produção. Alguns insumos, como energia e combustíveis, estão longe de sua capacidade de resolução, mas parte dos rizicultores conseguiram adquirir fertilizantes e defensivos a preços mais competitivos no início do ano. Quem plantou mais tarde viu alguns itens mais do que dobrarem de preços. Para todos eles, o desafio em 2022 será obter preços de comercialização que superem os valores investidos e assegurem o nível de renda que muitos alcançaram em 2020/21.
Irga e Flar renegociam convênio continental
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), cuja base é o Centro Internacional de Agricultura Tropical, na Colômbia, abriram negociações para a renovação do convênio mantido entre as instituições para suporte às pesquisas e extensão rural. A tendência é de renovação, mas as bases devem ser alteradas de forma mais profunda.
Os presidentes do Flar, Alfredo Lago, que também preside a Associação de Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA), e do Irga, Rodrigo Machado, reuniram-se para discutir o tema. Segundo Machado, o contrato que venceu em 31 de julho não poderia ser renovado, pois precisa ser adequado às exigências jurídicas do Estado.
“Há aspectos que precisamos ajustar. O primeiro é técnico: nossa pesquisa e extensão precisam eleger quais pontos são do nosso interesse e as ações do Flar no Brasil precisam acontecer em linha com nossos pilares e orientações, não podemos financiar ações em que as recomendações são conflitantes. Depois há o aspecto administrativo. Precisamos de uma prestação de contas clara para justificar os investimentos e atender às exigências do Tribunal de Contas do Estado. Por fim, não podemos investir um valor tão significativo enquanto outros países participam sem contribuir”, explicou o presidente do Irga.
O último convênio teve validade por cinco anos. O valor básico era de US$ 175 mil, mas com aditivos chegou a US$ 330 mil por ano, ou R$ 1,78 milhão com o dólar a R$ 5,40. O Irga é o maior contribuinte do Flar. O presidente do fundo, Alfredo Lago, enfatizou que o Irga é vital para a continuidade do organismo de pesquisa internacional e acredita em uma renovação da parceria por mais cinco anos, com ajustes.