Relação de confiança
Planeta Arroz – Qual a sua expectativa em relação à safra brasileira de arroz para 2013/14?
Neri Geller – A minha expectativa é a mesma do presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira, isto é, a de uma safra equilibrada entre produção e consumo. Estamos estimando um volume na faixa de 12 milhões de toneladas, um pouco superior ao colhido no período anterior. Também temos a expectativa de exportar entre 800 e 900 mil toneladas, o que deverá equilibrar o volume de arroz que entra no país via importação.
Planeta Arroz – O senhor prevê alguma dificuldade para exportar esse volume, considerando os gargalos logísticos em relação à infraestrutura disponível no Porto de Rio Grande?
Neri Geller – Estamos acompanhando esta questão bem de perto. Tanto que este ano já tomamos algumas medidas, como a unificação dos procedimentos tanto da Anvisa quanto dos fiscais da Receita, justamente para dar mais fluxo nos portos não apenas em relação ao arroz e à soja, mas para toda a exportação de grãos do país. Ampliamos os turnos de trabalho, que antes eram dois, para 24 horas, o que deverá dar mais agilidade às cargas e descargas. Tem também a Medida Provisória 595/2012, chamada de MP dos Portos, criada para dar maior competitividade ao setor e destravar a logística do país. A partir deste novo marco regulatório, vamos ampliar a infraestrutura e modernizar a gestão dos portos, estimulando o investimento privado e o aumento da movimentação de cargas com redução dos custos e eliminação de barreiras alfandegárias.
Planeta Arroz – Na sua avaliação, quais são os maiores gargalos verificados no Porto de Rio Grande?
Neri Geller – Além da questão da própria estrutura, tem a burocracia, mas só com as duas medidas citadas anteriormente, como a unificação dos procedimentos e o aumento dos turnos de trabalho, já notamos uma melhora sensível no fluxo. O governo está olhando todos esses aspectos com uma lupa para resolver os gargalos. Mas não tenha dúvida de que, com essa estrutura, vamos escoar a safra de grãos sem grandes contratempos.
Planeta Arroz – Que fatores serão determinantes para a política que o governo pretende adotar com relação à comercialização da safra 2013/14?
Neri Geller – Com certeza, o governo está preparado para dar o suporte que for necessário. O produtor vai ficar resguardado se, por ventura, os preços do grão vierem a ficar abaixo do preço mínimo. Estamos com um orçamento de comercialização bastante significativo, mas temos uma visão clara de que não será necessário, porque o preço do arroz está bem acima do preço mínimo, o que é uma boa perspectiva para o setor em termos de renda. Além disso, há linhas de crédito e de custeio disponíveis para que o produtor possa fazer a sua lavoura com custos mais baixos.
Planeta Arroz – Há previsão de leilões para os próximos meses?
Neri Geller – Não, mas nós temos o problema de liberação de estoque. Se o preço médio passar de R$ 33,28, nós vamos fazer, isso está acertado com o setor e com a Secretaria de Agricultura do RS. Se o preço médio estiver só um pouquinho abaixo de R$ 33,28, a gente não faz. Por exemplo, tínhamos um leilão que foi cancelado porque o preço estava R$ 33,27, ou seja, um centavo abaixo do combinado. Isso demonstra que existe uma relação de confiança entre o setor produtivo e o governo. Mantemos um diálogo permanente com os produtores, com a Federarroz, e trabalhamos para que o arroz tenha produção forte, porque isso é importante para a economia do país. Ao mesmo tempo, estamos acompanhando e liberando os estoques para também não subir demais o preço e não causar inflação. Mas é importante ressaltar que existe uma relação de confiança e uma política muito bem definida com o setor, seja ela em crédito, comercialização ou liberação de estoques.
Planeta Arroz – E como fica a questão do preço mínimo, que não sofreu reajuste nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina?
Neri Geller – É um assunto que vamos começar a discutir com os deputados, com a Federarroz. Estamos fazendo os levantamentos do custo de produção e vamos retomar essa discussão muito em breve. O Mapa entende que tem que fazer uma avaliação, mas ainda não está nada definido.
Planeta Arroz – Qual a sua avaliação sobre a produção de arroz em outros estados, como no Maranhão, no Tocantins e no Mato Grosso?
Neri Geller – O Mapa está trabalhando para estimular o arroz de sequeiro, seja no MA, MT, GO ou em TO. No Centro-oeste, por exemplo, a cultura tem papel fundamental na incorporação de áreas degradadas ou de pastagem. É importante criar alternativas para estes mercados, porque é caro o frete para se transportar arroz gaúcho para o Nordeste.
Planeta Arroz – Para concluir, que análise o senhor faz do avanço da soja em áreas de arroz no RS?
Neri Geller – Há espaço para as duas culturas. O milho é outro cultivo que pode ser adaptado ao sistema de rotação com o arroz, como mostram claramente as pesquisas do Irga. Mas o RS nunca vai deixar de produzir arroz, pois apresenta topografia e clima ideais. Além disso, os produtores gaúchos têm o domínio da tecnologia para produzir com qualidade. No MT, que é meu estado e que conheço bem, o incremento da produção de arroz ocorre quando o preço está alto, como agora. Mas o arroz não se consolida como no Sul porque o Centro-oeste produz, no máximo ,50 sacas por hectare, enquanto no RS a produtividade média é de 150, 160 sacas por hectare.