Resistência vermelha

 Resistência vermelha

Grãos de arroz longo fino (tipo agulhinha) cruzados com arroz cultivado

Uso incorreto da tecnologia favorece a proliferação de plantas invasoras de difícil controle na lavoura de arroz
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O arroz vermelho (Oryza sativa) é um dos principais limitantes encontrados nas lavouras de arroz do RS, ocasionando a redução da produtividade e da qualidade dos grãos colhidos, já que essa mistura entre grãos no campo rebaixa a classificação na indústria, desvalorizando o produto.

Além de ser uma invasora de difícil controle devido ao elevado grau de infestação em áreas contaminadas, sua resistência aos herbicidas comumente usados na lavoura vem aumentado nos últimos anos.

Por ser da mesma espécie do arroz branco cultivado, seu manejo requer uma combinação de diferentes práticas culturais. Uma das alternativas de controle mais eficiente adotada pelos produtores consiste na utilização do Sistema de Produção Clearfield, que combina cultivares e híbridos resistentes a um rigoroso programa de monitoramento.

Para o pesquisador e gerente da divisão de pesquisa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Rodrigo Schoenfeld, o uso correto desta ferramenta, aliado às práticas preconizadas para manutenção do sistema, como preparo antecipado do solo, rotação de culturas, adoção de sementes certificadas e aplicação de produtos recomendados na dose certa, tem proporcionado aos produtores altos rendimentos em suas áreas.

“É conveniente que o produtor tenha em mente a importância da manutenção da tecnologia Clearfield, pois dificilmente haverá nas próximas outra forma de controle tão efetiva e de amplo espectro como esta”, observa.

Segundo ele, é justamente devido ao mau uso desta tecnologia que tem aumentado o problema da resistência no estado, não só de arroz vermelho, mas também de outras plantas invasoras. “O produtor precisa estar atento a este complexo de gramíneas, principalmente o capim-arroz (Echinochloa spp), cujo potencial de resistência pode ser acentuado com o uso prolongado de um mesmo herbicida ou com a utilização de herbicidas que apresentem o mesmo mecanismo de ação nas plantas”, explica.

Rotação de princípios
O que a pesquisa já vem chamando de “manejo integrado de gramíneas de difícil controle no sistema Clearfield”, conforme Rodrigo Schoenfeld, gerente de pesquisas do Irga, reforça a importância do uso de outros princípios ativos e não só das imidazolinonas.

“A partir desta abordagem passa a ter importância o uso do pré-emergente junto com o dessecante em ‘ponto de agulha’ e a aplicação sequencial dos herbicidas das imidazolinonas, além da utilização de outro princípio ativo para o controle de gramíneas como os AC Case”, recomenda.

Este cenário, na avaliação do pesquisador do Irga, reforça a possibilidade de que empresas como a Basf e outras instituições de pesquisas voltem a unir forças em uma nova frente de combate às invasoras nos moldes da campanha “Todos contra o arroz vermelho”, lançada na safra 2009/10. “A ideia que vem sendo discutida é de uma nova versão desta campanha, desta vez, porém, com um maior espectro de plantas daninhas que a anterior”, informa Schoenfeld.

Semente certificada é vital
O uso de sementes certificadas de arroz para o controle do arroz vermelho cada vez mais ganha importância como um procedimento preventivo que deve ser sempre adotado pelo agricultor como prática comum no sistema de produção irrigado.

“Sabe-se que o principal meio de dispersão desta invasora nas lavouras dá-se pelo uso de sementes infestadas e de baixa qualidade, daí a importância em se utilizar sementes certificadas”, avalia o chefe da seção de sementes (divisão de pesquisa) do Irga, Felipe Ferreira.

Ele explica que a certificação de sementes de arroz contempla o monitoramento de diversas etapas na produção deste insumo, tais como vistorias nos campos de sementes e coletas de amostras dos lotes a serem certificados.

Conforme Instrução Normativa n° 45, de 2013, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um lote de sementes somente pode ser certificado caso não sejam encontrados grãos de arroz vermelho ou preto na amostra (de 700 gramas) analisada no laboratório de sementes.

Este rigor no procedimento, na visão de Ferreira, demonstra a preocupação em se produzir e ofertar ao mercado lotes de sementes de alta pureza física e genética. “O avanço das tecnologias empregadas na lavoura de arroz exige o uso de sementes de alta qualidade, até porque, estas tecnologias muitas vezes vêm inseridas nas sementes. Cita-se como exemplo o uso de cultivares resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, que tem por objetivo controlar o arroz vermelho”, afirma.

O pesquisador aponta o mau uso de sementes como a principal causa para a perda de eficiência desta tecnologia. “Sementes de baixa qualidade podem conter grãos de arroz vermelho ou preto com resistência a estes herbicidas devido ao cruzamento entre o arroz cultivado, que é portador da resistência, e o arroz vermelho.

Nesse sentido, ressalta-se mais uma vez a importância de se utilizar semente certificada em vista de ser cada vez mais comum encontrarmos nas lavouras plantas de arroz vermelho híbrido cruzado com o cultivado”, argumenta.

Estas plantas, de acordo com Ferreira, requerem atenção por parte do produtor porque, em sua maioria, são muito semelhantes ao arroz cultivado por apresentarem a mesma estatura e arquitetura de planta, o mesmo ciclo e até grãos de arroz vermelho tipo agulhinha. “Isso mostra o quanto é difícil produzir sementes de arroz de qualidade e o quanto é importante adquiri-las de produtores de sementes credenciados e com produto certificado”, exemplifica o pesquisador.

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