Retomada das exportações exigirá nova estratégia
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Realizar vendas de arroz em casca para as Américas Central e do Norte e o Caribe exigirá nova estratégia dos traders gaúchos. México, El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Panamá e Nicarágua estão abastecidos pelo volume de compras em 2020 e não se vislumbra demanda até agosto. Cuba e Venezuela importam do Vietnã. Costa Rica adquiriu 25 mil toneladas que podem
ser embarcada do Brasil. A entrega foi suspensa em razão dos preços. Estes são os principais clientes de arroz em casca do país. No pico da entressafra, os Estados Unidos predominam nestes mercados. Hoje eles têm estoques, preço competitivo e frete mais curto e barato.
Nos EUA, o governo comprou 150 mil toneladas de arroz para ajuda humanitária, mas o fluxo de escoamento é inferior a 2020. Seguirá estreitando a janela de exportação e impedindo reação referencial no continente. A área 11% menor, divulgada pelo USDA, não mudou o mercado futuro em Chicago, cotado entre estável e mais baixo.
Neste cenário, o Brasil, sem demanda de arroz em casca no exterior, teve baixo movimento de branco e parboilizado. O embarques se concentram em quebrados para pet food. Preços médios do casca, posto em Rio Grande, baixaram de R$ 80,00 e buscam referências menores. Exportar é vital para estabelecer o piso interno. Cotações param de cair com navios embarcando. Também por isso, para travar a queda, traders e corretoras buscam sensibilizar alguns players nacionais da necessidade de formar lotes competitivos e retomar os embarques.
Seria a forma de competir do grão gaúcho sob a pressão de forte disponibilidade e competitividade lá fora, principalmente da oferta norte-americana abundante. Neste cenário, tradings internacionais não buscam fornecimento brasileiro pelas cotações acima dos padrões do mercado. O Brasil, apesar da qualidade, é exportador de oportunidade, precisa ter preço.
A demanda é fraca, mas está posta em patamares de preços. Competitivos, podemos voltar a ser opção ao mercado global, sensibilizar clientes a anteciparem compras do segundo semestre e recuperar parte do vácuo dos três primeiros meses do ano-safra. Isso exigirá a conscientização de grandes fornecedores no sentido de terem um lote da produção dirigida ao mercado externo e pelas regras das cotações internacionais.
A lição que fica de 2020 e os cinco primeiros meses de 2021, é a de que se soubemos “surfar nas melhores ondas” dos preços internos e externos na temporada passada, também precisamos aprender a surfar nas pequenas, que igualmente exigem equilíbrio e perseverança. Uns reais a menos ganhos na exportação, podem representar alguns a mais no mercado interno.
REFERÊNCIA
Se o navio no cais é referência ao piso de preços no Brasil, sua ausência o deixa sem balizamento e com trajetória incerta. Estamos falando da queda de R$ 12,00 em um mês, por saca, e de R$ 5,00 em uma semana. Sinalizar um piso é vital para estancar a queda. E enquanto não sair o próximo navio, dificilmente isso acontecerá.