Rodrigues: cenário é sombrio para o agronegócio em 2006
Rodrigues lembrou que os custos de produção da safra 2004/2005 foram altos, a oferta excedente depreciou preços de produtos como arroz, trigo e algodão, além da seca sem precedentes ter quebrado as safras de milho e soja.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse, em discurso emocionado no lançamento do Plano Nacional de Agroenergia, que a crise enfrentada pela agricultura brasileira é a pior dos últimos anos e que o cenário para o agronegócio é “sombrio” para 2006.
– Estamos no fundo do poço, mas vamos atravessá-lo e eu vou trabalhar nisso cada segundo que eu estiver no Ministério da Agricultura – disse, durante evento que acontece na sede da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba (SP).
Rodrigues lembrou que os custos de produção da safra 2004/2005 foram altos, a oferta excedente depreciou preços de produtos como arroz, trigo e algodão, além da seca sem precedentes ter quebrado as safras de milho e soja.
– Mesmo com a quebra na safra, os preços de grãos não se recuperaram porque com a taxa de juros que temos ninguém está disposto a comprar produtos e estocar – criticou Rodrigues.
O ministro, que estima uma perda de R$ 17 bilhões neste ano, continuou as críticas à política econômica e afirmou que o câmbio inibe a valorização em real dos produtos e os recursos para operações oficiais de crédito, como leilões de opções, foram cortados.
– Nós pedimos R$ 1 bilhão para garantir o preço mínimo, que é lei, mas até hoje 40% desses recursos foram liberados. E o cenário é justamente de um preço mínimo maior do que o de mercado – explicou o ministro.
A queda estimada em 5% da área plantada em 2005/2006, a possibilidade de ela atingir 20% em algumas regiões brasileiras e a redução do padrão tecnológico nas lavouras devem causar uma redução na produção de grãos, um aumento no uso de estoques e, conseqüentemente, uma valorização nos preços ao consumidor de produtos agrícolas. A previsão foi feita sexta-feira pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante o lançamento do Plano Nacional de Agroenergia, em Piracicaba.
– O que nos preocupa é que esses fatores trarão um recrudescimento inflacionário em 2007 – avaliou o ministro.
Segundo ele, dados apontam para quedas de 40% na aplicação de calcário, de 16% no uso de fertilizantes e de 20% na utilização de defensivos nas lavouras em 2005/2006. Rodrigues voltou a afirmar que não está satisfeito com a situação da agricultura e afirmou “ter esperança de convencer determinados setores do governo da importância do nosso setor e certeza de que o presidente Lula nos ajudará”.
Emocionado, o ministro afirmou:
– É lógico que estou frustrado por ter uma crise monumental como essa e não conseguir resolvê-la. É lógico que sinto ter chegado ao ministério nesse momento e é lógico que não estou feliz”.
No entanto, Rodrigues procurou passar uma mensagem de otimismo e esperança. Segundo ele a crise na agricultura faz parte de um ciclo de altos e baixos do setor e reafirmou que irá permanecer no Ministério.
– Não vamos baixar a cabeça. A competência do agricultor será a alavanca para essa virada – afirmou.
Rodrigues lembrou ainda que, além da questão econômica, “vários fantasmas pairam sobre a agricultura brasileira”.
O ministro citou, entre eles, a falta de avanço nas negociações da Rodada de Doha, as questões ainda não resolvidas, como logística, a falta de regulamentação da Lei da Biossegurança e a indefinição em relação ao código florestal e ao conceito e produtividade média para fins de desapropriação para a reforma agrária.