Safra de custos altos e preços baixos no RS
Colheitas voltam à normalidade após período conturbado, mas rentabilidade preocupa.
Nem tudo está bem para a agricultura. Os problemas climáticos enfrentados pelos produtores na safra 2003/2004 ficaram no passado, favorecendo uma boa colheita no atual ano agrícola. Mas o descasamento entre a alta dos preços dos insumos e a redução dos preços de alguns produtos agrícolas poderá reduzir a rentabilidade das principais culturas de verão gaúchas, como a soja, o arroz e o milho.
Segundo o consultor da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro), Tarcísio Minetto, este quadro coloca em risco o bom desempenho do setor obtido nos últimos quatro anos. No mês passado, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou fotografia semelhante sobre o Brasil, lembrando que poderá surgir um novo ciclo de endividamento no setor rural.
Em geral, os preços das commodities estão mais baixos no período de plantio da safra 2004/05. Nos principais insumos, máquinas e implementos, porém, os reajustes foram significativos, de 20% a 25%, estima Minetto.
O cenário gera uma insegurança não só quanto à renda futura, mas também em relação ao grau de endividamento que poderá ocorrer se persistir esse quadro por mais de uma safra diz Minetto, lembrando anos recentes de ciclo de preços agrícolas favoráveis no mercado externo e interno, que deram novo fôlego aos produtores, gerando novos investimentos.
Hoje, a situação é outra, a ponto de a entidade sugerir “muita cautela” nos investimentos e planejamento do plantio. Mais: está divulgando um estudo sobre os custos de produção das principais lavouras gaúchas, que poderá se transformar em ferramenta importante para os produtores tomarem decisões. De acordo com o presidente da FecoAgro, será preciso buscar financiamento com custos compatíveis, rotação de culturas para encarar a alta do custo produtivo e a queda nos preços.
Poucas vezes o produtor precisou levar em consideração tantos fatores na hora de plantar como taxa de juros, venda da safra, condições climáticas e comportamento do câmbio afirma.
Um exemplo identificado no estudo: o custo total de produção para safra de soja de 2004/05 aumentou 21,57% em relação ao período anterior. Ao preço de mercado de R$ 31,68 pela saca de 60 quilos, o produtor terá de colher, no mínimo, 37,36 sacas por hectare para cobrir o custo total de produção.
De acordo com a analista da Safras & Cifras Ciloter Irribarren, o custo para produção de um hectare do arroz chega nesta safra a R$ 3.385,07. Considerando a produtividade prevista de 5,5 mil quilos por hectare, o custo por quilo é de R$ 30,77. Hoje, o preço médio de mercado é de R$ 24 o quilo, bem abaixo da média histórica de 15 anos (R$ 27,87). Segundo Irribarren, a situação tende a piorar porque nos últimos anos os preços caíram no primeiro semestre.
Estamos diante da possibilidade de um novo endividamento do setor arrozeiro adverte o analista, criticando também as importações desnecessárias do Mercosul. Nesta quinta, dia 16, os arrrozeiros realizam protesto na Praça da Matriz, em Porto Alegre, com o slogan “Arroz é Vida” contra as importações da Argentina e do Uruguai. Os produtores prometem usar narizes de palhaço, tarjas pretas nos braços, e portar faixas e cartazes.