Seca pode derrubar estoques de arroz e gerar crise similar a 2008

Relatório do Instituto Internacional de Pesquisas do Arroz (Irri) considera que há risco de o mercado mundial sofrer influências da baixa produção em 2015/16
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Uma seca de proporções incomuns, provocada pelo fenômeno climático El Nino poderá reduzir os estoques de arroz entre os principais exportadores mundiais para níveis não vistos desde 2008, potencialmente alimentando uma crise de preços semelhante ao quadro visto naquele ano. A Divisão de Análises Sociais e Econômicas do Instituto Internacional de Pesquisas do Arroz (Irri), situado em Los Baños, nas Filipinas, divulgou na última sexta-feira que alguns dos grandes exportadores de arroz do mundo, Índia, Tailândia, Vietnã e Estados Unidos, poderão chegar ao segundo semestre de 2016 com um estoque em torno de 19 milhões de toneladas de arroz. As informações foram obtidas pela AgroDados/Planeta Arroz a partir do relatório do IRRI.

Embora o volume represente quase uma safra e meia do Brasil, corresponde a apenas 45% do mercado mundial. Em 2013, juntos, somavam 41 milhões de toneladas do grão. Se o clima continuar seco em países como a Índia, a Tailândia, o Vietnã e os Estados Unidos, aumenta significativamente o risco de atraso nas colheitas, redução das produções e uma resposta altista em termos de preços, considera o relatório. Isso porque a redução nos estoques poderia determinar uma queda nos volumes que os grandes exportadores estariam dispostos a enviar ao exterior. A Índia e a Tailândia, os dois maiores exportadores mundiais, devem reduzir em quase 2 milhões de toneladas as suas disponibilidades ao mercado internacional na atual temporada.

O El Niño, apesar de estar perdendo força, levou secas para algumas das faixas de maior produção da Ásia, causando quedas importantes nas safras e obrigando alguns governos regionais a determinarem a redução do plantio para garantirem o abastecimento de água das cidades. Mesmo que a expectativa seja da volta das chuvas ao longo do ano, os especialistas olham com desconfiança para a força das chuvas de monções do Sul da Ásia, que deve começar em junho.

Vale lembrar que um conjunto de restrições às vendas internacionais por países como a Índia, elevaram, em 2008, os preços da tonelada de arroz no mercado mundial. Com a demanda de outros países asiáticos, como as Filipinas, explodindo por queda também na sua produção e na disponibilidade internacional. Com isso, a tonelada chegou a pico superior a 1,2 mil dólares.

Depois disso, os países asiáticos trataram de incentivar o aumento de área e uso de tecnologias para recomporem seus estoques e evitarem nova crise. Mas, eles voltaram a entrar em queda desde 2013. A queda, ainda pequena, não causou pânico, pois há abundância de arroz no mercado. Mas, os analistas do Irri acreditam que não há mais essa condição de conforto. Eles citam a evolução dos preços do Thai 5% de quebrados em oito meses para US$ 378,50, e do Viet 5% para um pico de US$ 385,00.

Tailândia e Índia, juntas, devem somar 16 milhões de toneladas de estoque de arroz no terceiro semestre de 2016, o que representa 70% a menos do que em 2013. Recentemente os dois países tinham níveis mais altos: 16,2 milhões de toneladas para a Índia e 12 milhões para a Tailândia. Com isso, espera-se cautela dos hindus nas vendas externas, ainda mais se as monções forem fracas ou atrasarem. O relatório diz que a preocupação dos países exportadores cresce de acordo com os novos relatórios meteorológicos, o que causa certa incerteza, principalmente nos países importadores. Por isso, as Filipinas, por exemplo, ampliarão as compras externas para elevar em 500 mil toneladas os estoques governamentais e fazer frente às perdas da colheita.

OUTROS GRÃOS

Essa alta nos preços do arroz poderia refletir em outros grãos, como por exemplo, levar as Filipinas e Indonésia, grandes importadores mundiais, a acumularem trigo, alimento básico para metade da população mundial. O quadro, também neste caso, seria similar a 2008.

3 Comentários

  • Prezado Cleiton
    Em referencia ao relatório do IRRI o titulo é: Is the global rice market headed for a repeat of the 2007-08 rice price crisis? (http://ricetoday.irri.org/is-the-global-rice-market-headed-for-a-repeat-of-the-2007-08-rice-price-crisis/) E importante notar aqui o estilo interrogativo. Ou seja, o Dr. Mohanty do IRRI, analisa vários senários. O mais catastrófico seria um pânico similar a 2007-08. Porém, o colega do IRRI, termina o artigo dizendo que se o mercado atua de maneira racional, os preços podem subir mas em patamares compatíveis aos indicadores fundamentais do mercado mundial. E justamente. Que mostram os indicadores? O mercado vai ter queda na produção, estoques e comercio mundial, mas estamos ainda longe (muito longe) da situação de 2008. Acredito que estamos passando duma situação de extrema abundancia na oferta do mercado, os últimos quatro anos (ilustrada por uma queda quase contínua dos preços internacionais), para uma situação relativamente normal. E no futuro ? Se as condições climáticas em 2017 são novamente desfavoráveis, o abastecimento do mercado mundial poderia se complicar… mas sem necessariamente provocar uma situação do jeito de 2008. O pior (senário) não sempre tem que se realizar…
    Acertamos horario para inicio do ano que vem, e gente se fala amigo Cleiton 😉
    Abraço, Patricio

  • Parabens Patricio pela importante observação.

  • Interessante comentário do sr. Patrício, porém algumas indagações se fazem pertinentes. Sem questionar o relatório do IRRI, pois trata-se de informações levantadas através de dados coletados pelo dr. Mohanty integrante do instituto referido, no qual várias situações são analisadas, o que cabe questionar é a opinião pessoal emitida.
    Vejamos, segundo o dr. o mercado atua de maneira racional, o que é racional no mercado de arroz ? para o leigo se chama oferta e procura, lei de mercado desde os tempos da Babilônia, falta de produto gera procura e elevação de preços, portanto no contexto atual em que a colheita nas Américas não foi ainda encerrada e é notório que a quebra é grande assim como na Ásia também em função da seca, fica aqui a pergunta ao eminente Dr. como é passar de uma situação de extrema abundância (segundo o próprio) para uma situação de relativa normalidade, em que normalidade pode ser interpretada como grande quebra na produtividade e possível falta de produto ??????
    Normal é produzir pouco ? normal são estoques mundiais mais baixos das ultimas décadas ? normal é preço vil pago ao produtor segundo os analistas, por que existe oferta ? e por aí vão as indagações aos experts.

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