Seca põe bacias hidrográficas em alerta e atrasa safra do arroz gaúcho

 Seca põe bacias hidrográficas em alerta e atrasa safra do arroz gaúcho

Muitas lavouras estão sendo manejadas a banhos

(Por Planeta Arroz) Balanço da Defesa Civil estadual, contabilizado desde dezembro de 2022, mostra que 27 municípios gaúchos já decretaram Estado de Emergência em função da seca provocada pelo fenômeno La Niña pelo terceiro ano consecutivo no Rio Grande do Sul. Pelo menos mais 10 municípios deverão emitir decretos até o final desta semana.

A Sala de Situação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) atualizou, nesta segunda-feira, a situação das bacias hidrográficas gaúchas. São 10 em estado de alerta devido ao baixo nível dos rios. O alerta vale para as bacias do Sinos, Caí, Gravataí, Baixo-Jacuí, Guaíba, Ibicuí, Uruguai, Negro, Santa Maria e Camaquã. As bacias do Guaíba e Negro passaram a integrar a lista nesta semana — por outro lado, o Rio Pardo deixou a condição de alerta. Já as bacias Apuaê-Inhandava, Ijuí, Quaraí e Mirim-São Gonçalo estão em condição de atenção.

Segundo o prognóstico da Sema, há instabilidade entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina até quarta-feira, mas, depois, o tempo seco predomina, com sol e calor em todo o Estado. Conforma a previsão, a combinação de pouca chuva, temperaturas elevadas e baixa umidade do ar deve agravar ainda mais a condição da estiagem.

Na região metropolitana de Porto Alegre, o Rio Gravataí atingiu nível crítico e elevou o risco de escassez de água em seis cidades.

Das cidades que decretaram situação de emergência, sete tiveram os documentos homologados pelo governo do Estado, e com isso se habilitaram a receber ajuda humanitária como caixas d’água e reservatórios móveis, caso solicitado. Apenas Tupanciretã teve o decreto de situação de emergência homologado pela União, o que o credencia para receber recursos federais.

Fronteira Oeste

Segundo Raul Borges, dirigente arrozeiro em Itaqui e Maçambará, a situação na região da Fronteira Oeste é preocupante. A seca, em relação ao ano passado, adiantou-se em um mês. “Estamos vivendo na entrada do ano, uma condição que tínhamos no final de janeiro, início de fevereiro em 2022. O pessoal se preparou, mas não esperava esse adiantamento e o nível de evaporação das barragens é alto. O arroz, como reduziu área, em especial aquelas que tiveram perdas mais sérias ano passado, tem uma condição melhor graças ao dimensionamento da irrigação à disponibilidade de água, mas está exigindo mais atenção e esforço do produtor, e em alguns casos, mais custo”. Em Itaqui, o arrozeiro explica que a situação é mais confortável por ser irrigado pelos rios Ibicuí e Uruguai, mas Maçambará está em situação de Emergência. Ainda assim, Itaqui baixou para perto de 50 mil hectares a sua área e Maçambará para aproximadamente 16 mil hectares.

Raul Borges explica, ainda, que se a estiagem se prolongar, podem ocorrer perdas mais significativas. “Como ampliamos a área de soja na região, nas áreas mais altas e coxilhas a soja está seca. Ficamos mais de 40 dias sem qualquer chuva, e além do frio que veio até novembro, agora temos temperaturas com máximas na faixa de 39 a 40 graus. E isso não favorece às culturas”, acrescenta.

O engenheiro agrônomo Pablo Mazzuco de Souza, consultor agronômico em São Borja, considera a situação delicada. Destaca que os mananciais não recuperaram pelo baixo nível de chuvas ao longo de 2022. “Em dezembro, estávamos com um retrato do que era a situação do final de janeiro de 2022. As barragens baixando violentamente. Áreas de banhado e sangas não se recuperaram. O plantio foi dimensionado conforme a disponibilidade de água, mas a questão é que a água tá indo mais rápido do que o previsto, evapora mais”, explica.

Souza ainda exemplifica que há lavouras sendo manejadas a banho, pela falta de reposição das barragens e disponibilidade de manter uma lâmina de água. Algumas áreas mais críticas já estão sendo abandonadas. “Ano passado isso só aconteceu do final de janeiro pra frente. Agora, metade de dezembro já tivemos lavouras que foram deixadas de lado”, reconhece. Segundo ele ocorrem algumas chuvas, esporádicas e de baixa intensidade, e em faixas na região, o que em alguns casos até recupera alguma umidade na parte superficial do solo, mas não é suficiente para a recarga dos mananciais. “Sem isso, o dimensionamento da água para a irrigação precisa ser atualizado quase que diariamente e alguns produtores vão manejando com banhos na esperança de que uma chuva mais forte traga condições de retomar a irrigação com lâmina de água”, diz o agrônomo.

Apesar disso, Pablo Mazzuco de Souza lembra que a situação mais grave é das culturas de sequeiro, soja e milho e pastagens, que pelo terceiro ano seguido enfrentam uma seca sem precedentes. O arroz, para quem dimensionou a lavoura conforme a disponibilidade de água, tem suas dificuldades, mas até vai bem. Agora, quem depende exclusivamente da chuva, enfrenta um problema bem maior. No entanto, ele destaca que manejar o arroz com banhos eleva a pressão de invasoras, doenças e insetos sobre a lavoura.

No caso do arroz, os problemas mais significativos foram o nascimento “ralo” da lavoura e a falta de uniformidade por causa das baixas temperaturas até meados de novembro.

Ciclo atrasado

O frio alongou o ciclo vegetativo das plantas, e muitos produtores têm se queixado desta condição. Alguns agricultores, em Uruguaiana, por exemplo, apontam que devem colher as “piores lavouras dos últimos anos”, em razão do atraso de duas a três semanas no ciclo e algumas brechas no estande de plantas. “Pelo ciclo da variedade, já era para estar no período reprodutivo há pelo menos duas semanas, e a planta segue no vegetativo. Isso foi visto tanto no Irga 424 quanto na Pampa. E noto, também, que as plantas estão com fome, ou seja, estão demandando mais nitrogênio para estabilizar numa condição que indique a tendência de obter melhores produtividades”, observa um agricultor de Uruguaiana que pediu para não ser identificado na reportagem.

O engenheiro agrônomo do Irga em Guaíba, Rodrigo Schoenfeld, recomenda que os rizicultores observem, atentos, o desenvolvimento da lavoura. “É difícil ter um diagnóstico preciso, mas há vários fatores interferindo no desempenho das plantas nesta safra, entre os principais deles, o clima. Mas, há uma interação do frio tardio, das altas temperaturas sobre plantas que já estão em período reprodutivo, da disponibilidade de água, do tempo que se leva para por lâmina d´água nos quadros, dos insumos utilizados, do manejo, de maneira geral”, reconhece.

Canais mais profundos

Eduardo Munhoz, consultor agronômico da Zona Sul gaúcha considera que a situação regional é um pouco melhor do que na Fronteira Oeste, onde também tem clientes, mas ainda assim preocupante. “Temos lavouras com ótima expectativa de produtividade por causa do dimensionamento à disponibilidade de água para irrigação. Ainda assim os custos aumentaram, pois há produtores que tiveram que aprofundar canais, as lagoas recuaram, há algumas manchas de salinidade, coisas que o arrozeiro do litoral já está mais acostumado, mas ainda assim atrapalham e encarecem o processo produtivo”, reconhece.

Para Munhoz, além do alongamento do ciclo das cultivares, ainda não há prejuízo estabelecido na cultura arrozeira. “O arroz é altamente responsivo à condição climática e à tecnologia. Se chover o suficiente onde falta água e se não fizer temperaturas extremas na floração, teremos uma safra muito boa. A redução nos volumes estará mais ligada à queda da área, que parece ser mais significativa do que foi estimado, ao menos pelo cenário até agora”, observa.

Mercado

A expectativa é de que o comportamento da safra gaúcha tenha consequências também no mercado e nos preços do arroz ao longo de 2023. Além de uma queda significativa na área semeada, de 957 mil hectares para cerca de 850 mil hectares, o atraso no ciclo alongará a entressafra entre 15 e 25 dias. E isso afeta a reposição dos estoques nas indústrias e alonga o período de arroz nas lavouras e não nos silos, o que deve manter as cotações em patamares mais altos por mais tempo.

Emergência

Os municípios arrozeiros que decretaram situação de emergência no Rio Grande do Sul foram: Agudo, Cerro Branco, Paraíso do Sul, Santa Maria, São Martinho da Serra, e Toropi, na região Central, Maçambará e Manoel Viana na Fronteira Oeste, e São Gabriel, na Campanha gaúcha. A Defesa Civil de Cachoeira do Sul se reunirá nesta quarta-feira, às 10h, para avaliar a publicação de decreto de situação de emergência. Acredita-se que até o próximo sábado, pelo menos mais 10 municípios gaúchos decretarão emergência por causa da seca.

Municípios em situação de emergência:

Agudo
Benjamin Constant do Sul
Cerro Branco
Cerro Grande
Cristal do Sul
Cruz Alta
Herval
Jari
Jóia
Júlio de Castilhos
Lajeado do Bugre
Liberato Salzano
Maçambará
Manoel Viana
Mata
Palmitinho

Paraíso do Sul

Pinhal
Redentora
Rolador
Sagrada Família
Santa Maria
São Gabriel
São Martinho da Serra
São Pedro das Missões
Taquaruçu do Sul
Toropi
Tupanciretã

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