Seca provoca quebra na lavoura de arroz
Falta de água para a irrigação deve reduzir a colheita em mais quase 10% em Cachoeira do Sul (RS).
A seca que assola o Rio Grande do Sul vai provocar perdas na lavoura de arroz de Cachoeira do Sul, a Capital Nacional do Arroz, onde o Instituto Rio Grandense do Arroz estima que a área plantada chegou a 31,5 mil hectares. A perspectiva era o rendimento, nesta safra, atingir 7,3 mil quilos por hectare para a colheita chegar a 229,9 mil toneladas.
No entanto, em virtude da estiagem, o Irga estima 9,5% de quebra na lavoura pela falta de água para irrigar, o que representa 21,8 mil toneladas a menos para entrar nos silos dos produtores rurais. Menos produto significa menos dinheiro entrando no bolso dos arrozeiros, o que reflete direto na economia de Cachoeira, que é baseada na agricultura.
De acordo com o engenheiro agrônomo Luciano Mazuim, do Irga, existem produtores que não possuem água para irrigar as lavouras. “Temos ainda relatos de lavouras com água por poucas horas do dia e banhos para nascer o arroz, o que significa um gasto adicional de água”, observa Mazuim. As regiões mais afetadas são Barro Vermelho, Botucaraí, Irapuá, Piquiri e Santa Bárbara. Apenas quem irriga puxando água no Rio Jacuí não estaria enfrentando problemas no cultivo do arroz. Mazuim alerta que a água deve ser usada de forma racional para evitar desperdícios com a irrigação.
PERDA TOTAL
De acordo com Mazuim, se não voltar a chover forte nos próximos dias, o drama no campo vai se agravar e lavouras serão perdidas. Ele destaca que as lavouras que possuem água estão bem, pois estão irrigadas e possuem sol. A tendência é que a produtividade nestas áreas supere os 7,3 mil quilos por hectare. Todavia, estas lavouras sem problemas representam apenas 15% do arroz. “Estima-se que 85% das lavouras de arroz de Cachoeira utilizem água de pequenos rios, arroios, açudes e barragens. Estas lavouras poderão ter problemas de
água até o final do ciclo se a estiagem persistir”, prevê Mazuim. O problema não é mais grave devido aos produtores terem reduzido a área plantada em 23% nesta safra. No ano passado, a lavoura chegou a 40,9 mil hectares de arroz em Cachoeira.
Rio seco, lavoura torrada
Na safra 2010, a enchente causou perdas na lavoura de arroz da Granja Seibt, no Irapuá. No ano passado, a crise provocada pelo baixo valor pago pelo cereal não ajudou a recuperar o prejuízo. Depois de dois anos negativos, a expectativa dos produtores rurais Felipe Seibt, 23
anos, e Bruno Seibt, 20, era boa colheita na safra deste ano, quando foram cultivados 300 hectares de arroz. O que os irmãos Seibt não esperavam era uma estiagem violenta, que atorou o Rio Irapuá, de onde era puxada a água para irrigar a lavoura.
Na tarde de ontem, onde o solo deveria estar inundado pela água na lavoura, era possível encontrar torrões de terra. Caso não chova forte para encharcar a terra dentro de três dias, Bruno salienta que cerca de 200 hectares serão perdidos na Granja Seibt e as máquinas não devem entrar nesta área para colher o cereal. Os outros 100 hectares estão ameaçados, pois são irrigados com água de açudes. Sem chuva, estes reservatórios podem secar e agravar a situação dos Seibt. “A gente se deita e não consegue dormir pensando nas contas que irão vencer”, desabafa o produtor Felipe.
SOJA
Além do arroz, foram cultivados 400 hectares de soja este ano na Granja Seibt. Caso a estiagem continue, a tendência é perder toda a lavoura de soja e aumentar ainda mais o prejuízo dos Seibt. “Há 22 dias não corre água no Irapuá e há 52 dias não chove aqui. Veio apenas uma garoa na virada do ano”, lamenta Bruno. Considerando os 300 hectares de arroz e 400 hectares de soja, o custo das lavouras dos Seibt chegou a R$ 700 mil. A expectativa deles era colher este ano 140 sacos de arroz por hectare e outros 40 de soja na mesma área.
Rio Irapuá está praticamente seco
Um dos mais tradicionais rios de Cachoeira do Sul, o Rio Irapuá, não tem mais a força de antes. A água forte, que serve até mesmo para irrigar as lavouras da região, agora passa lentamente por alguns pontos, chegando praticamente a parar em alguns trechos. O Balneário Irapuá, há cerca de 30 quilômetros do centro de Cachoeira do Sul, nem veranistas está recebendo mais.
Apesar de ser um dos refúgios das famílias cachoeirenses no verão, poucos pegam a estrada para ir até lá neste ano, pois um dos principais atrativos, a água, praticamente não corre mais. O casal de aposentados Valdomiro e Lourdes Trindade frequenta o Balneário Irapuá há mais de 20 anos e afirma que esta é a primeira vez que o rio fica tanto tempo assim. “Há uns três ou quatro anos ele quase secou, mas em dois ou três dias ele estava voltando a ser como era antes”, contam eles, que agora se contentam apenas com a sombra do balneário.
ÁGUA BAIXA – Os amigos Pedro Henrique Souza, 10 anos, Mathias da Mota, 9, Gabriel Friedrich, 13, e Mateus da Rosa, 10, podem andar tranquilamente por dentro do rio em locais onde antes eles nem conseguiam se imaginar passando. Agora eles brincam embaixo da ponte, em um dos pontos considerados bastante fundo em épocas em que o rio
está no seu leito normal. Apesar de poder andar livremente por dentro de onde deveria correr o rio, os meninos afirmam que não gostam muito disso. Eles contam que, no início do verão, quando a água estava baixa, mas permitia brincadeiras dentro d’água, as férias estavam bem melhores.