Sem chances para a extinção

 Sem chances para a extinção

Profissionais da pá: atualização e conhecimento de gerações na lavoura

Projeto resgata e qualifica o aguador nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul

 

A evolução das tecnologias e das sociedades tem levado uma série de profissões à extinção. No meio rural, a mão de obra é cada vez mais escassa e, em algumas profissões, mais especificamente colaboradores qualificados e com vasto conhecimento técnico como exigem os tempos atuais da lavoura orizícola, são ainda mais raros. Nessa conjuntura está uma das figuras mais tradicionais da lavoura arrozeira, o aguador.

Preocupados com a baixa disponibilidade de profissionais nessa área, um grupo de empresas, consultoria e assistência técnica se reuniu no Rio Grande do Sul e lançou o projeto Aguadores. Iniciado em setembro de 2023, o curso de formação conta com 61 granjas participantes e 700 colaboradores. Inácio Juzwiak, da Agro Gente, coordena o programa que idealizou com Edgar Pozzebon, da Dipo Agronegócios. “Constatamos que os aguadores das lavouras estão com idade avançada, em final de carreira, e que há dificuldade de formar novos profissionais. O conhecimento não está sendo passado para uma nova
geração, e a lavoura se ressente da falta destes especialistas”, explicou Juzwiak.

O objetivo do curso é ampliar a oferta de mão de obra qualificada aos profissionais da irrigação que atuam no cotidiano das lavouras, visando ao aumento da eficiência dos manejos e resultados, proporcionar a melhor utilização dos recursos e redução dos custos. “Um bom aguador faz diferença”, reconhece Carlos Cauduro, das Sementes Cauduro, parceiro da ideia.

“Há o aperfeiçoamento através de material e treinamento especialmente desenvolvidos para quem já atua na área, mas temos também jovens, iniciantes e mulheres que se animaram com o curso e estão aprendendo mais sobre o assunto”, observou Inácio Juzwiak.

Segundo ele, na prática estão sendo registrados com detalhes e em formato pedagógico e dinâmico os conhecimentos dos aguadores tradicionais, somados aos conhecimentos agronômicos, agrícolas e hidráulicos de engenheiros e especialistas, no sentido de gerar uma base de formação para os novos profissionais de ambos os sexos.

FIQUE DE OLHO
O curso de formação de aguadores é bem completo e vai desde os termos utilizados até preparo do solo e da infraestrutura e a influência nas operações, conceitos de irrigação e drenagem envolvendo pré-plantio, plantio, pós-plantio e o manejo da água na lavoura. Há detalhamento técnico sobre janelas de semeadura, melhor aproveitamento de insumos e interação destes com a água nas lavouras, banho, manutenção da irrigação até o enchimento dos grãos, drenagem, controle de doenças, pragas e invasoras, ajustes de irrigação, desafios, falhas, fortalezas. É um trabalho que vem sendo desenvolvido
a muitas mãos, com o resultado serndo verificado nas próximas safras.

Entrevista

Em extinção, o aguador é um profissional de referência na orizicultura

Planeta Arroz – Qual o papel atual do aguador na lavoura de arroz irrigado?
Inácio Juzwiak – “O essencial continua sendo a distribuição e condução de água nas áreas, no entanto, pelo seu conhecimento e por fazer parte da composição da equipe operacional, o aguador também participa ativamente nas demais etapas, como preparo de solo, plantio e colheita”.

Planeta Arroz – Houve um grande avanço nos sistemas de irrigação e drenagem. Ainda há espaço para o aguador?
Inácio Juzwiak – “Sim. O aguador continua sendo fundamental na lavoura de arroz irrigado, principalmente nas que utilizam taipas. Demais lavouras, como as sistematizadas e que utilizam politubos, reduzem razoavelmente a atuação do aguador, mas, mesmo assim, precisam dele”.

Planeta Arroz – O que evoluiu nas operações às quais ele está diretamente relacionado?
Inácio Juzwiak – “As evoluções maiores ocorreram na preparação da área, nos manejos de solo, onde vieram tecnologias para melhorar o nivelamento e a estruturação da lavoura. Isso ajudou muito na qualidade do entaipamento e da distribuição da água, reduzindo consideravelmente a quantidade do serviço de pá, se comparado com os tempos mais antigos. Mas a rotação de culturas agregou a necessidade de mais conhecimento em drenagem”.

Planeta Arroz – Por qual motivo é uma profissão quase em extinção?
Inácio Juzwiak – “Não é a profissão que está em extinção, mas, sim, o bom aguador que está se tornando cada vez mais escasso. Então, o que há de fato é a dificuldade de formar novos e bons aguadores. Percebi que essa profissão não possui visibilidade e isso é pouco atrativo para os jovens, e, além disso, muito se evidenciou as dificuldades que o aguador passa na
condução da irrigação. Isso criou em torno dessa função uma imagem que repele interessados. Precisamos fazer algo com urgência para inverter esse processo e tornar a função mais atrativa, pois as lavouras de arroz irrigado continuam dependentes dos aguadores por um tempo que ainda é indeterminado”.

Planeta Arroz – Qual o futuro que tu vês, na lavoura, para o aguador?
Inácio Juzwiak – “O aguador craque está se tornando escasso, e tudo que se torna raro ganha mais valor. É isso, vejo o bom aguador cada vez mais valorizado e disputado”.

Planeta Arroz – Ele ainda é o homem da pá no ombro, abrindo e fechando algumas taipas e pequenos canais ou tem um papel que evoluiu na lavoura?
Inácio Juzwiak – “Sim, ele ainda é esse homem e, infelizmente, em poucos lugares foi permitida a sua evolução. Acredito que há, sim, espaço para um aguador auxiliar de outras formas, como, por exemplo, no planejamento e nas correções de manejo, principalmente de estruturação da lavoura, que ele, lá de dentro, mais do que ninguém, percebe as falhas”

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