Semana para passar dos R$ 100,00 e firmar mais de 20 dólares na média gaúcha
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) Depois de registrar um aumento de 12,06% em agosto, e chegar aos R$ 98,48 (equivalentes a US$ 19,90) o Indicador de Preços do Arroz em Casca no Rio Grande do Sul do Cepea/Irga-RS, tem tudo para ultrapassar os R$ 100,00 de média e os US$ 20,00 por saca de 50 quilos (58×10) esta semana. Na sexta-feira, primeiro dia de setembro, as cotações subiram mais 0,6% e chegaram aos R$ 99,08, valor equivalente a US$ 20,06. E, aparentemente, não há um fator que determine um freio imediato a essa alta.
Para o grão de variedades nobres e com rendimento industrial acima dos 70%, as cotações gaúchas já bateram em R$ 110,00. Caso de produtores do Litoral Norte que alcançaram este valor em lotes do grão com 64/65 de inteiros. Na maior parte do Rio Grande do Sul as cotações são meramente referenciais, considerando que as pequenas e médias indústrias estão precisando pagar pelo menos R$ 100,00 se quiserem comprar.
O produtor segue vendendo pequenos lotes. Alguns, porém, em especial os grandes e mais organizados formaram até três lotes do cereal que têm armazenado em casa ou a depósito na indústria, e estão negociando paulatinamente. Sabem que a condição atual de preços é temporária e arroz a US$ 20,00 só ocorreu três vezes ao longo dos últimos 20 anos. E por poucos dias.
A indústria, por sua vez, depois de um agosto fluído, sentiu “trancar a ponta”, com o varejo voltando a apresentar resistência sobre o repasse do custo da matéria-prima nas tabelas. Hoje e amanhã novas negociações serão travadas. Por parte do varejo, preocupa a renovação do estoque que deve chegar às gôndolas nesta e na próxima semana. Os pacotes de arroz já virão com reajustes médios de 12% a 15%, e com isso devem voltar as manchetes de que o produto está caro, os memes de internet e a pressão popular.
Na cadeia produtiva, desde a semana passada, durante a reunião da Câmara Setorial Nacional do Arroz, na Expointer, o setor produtivo vem demonstrando preocupação com uma possível retirada da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% sobre o arroz em casca e 12% sobre o beneficiado, pelo governo federal, para importações de terceiros mercados. Indústrias e varejo poderiam importar arroz dos Estados Unidos, que colhe a maior safra dos últimos três anos no hemisfério norte. O arroz norte-americano tem qualidade inferior de cocção do que o brasileiro, mas poderá acabar entrando num percentual da composição do pacote.
TEC
Não há temor de desabastecimento, mas sabe-se que os governos tendem a operar em favor de uma comida barata, em especial para classes menos favorecidas, e este é o contexto em que o arroz é mantido historicamente. Assim ocorreu em 2020, quando foi permitida a importação de 300 mil toneladas de arroz sem TEC e o Brasil importou grão de péssima qualidade da Índia, Tailândia e Vietnã, rejeitado pelos consumidores e condenado pela indústria – que acabou repassando para ração ou aproveitando, em alguns casos, apenas um percentual mínimo em pacotes dos tipos 2 e 3.
O contexto internacional segue indicando altas na Ásia, estabilidade com tendência de baixa nos Estados Unidos – pela pressão da boa colheita – e de alta no Mercosul, pelo pico da entressafra e o ajuste entre oferta e demanda nesta temporada. O Paraguai já tem plantas em V5, em lâmina d´água em boa parte de suas lavouras e deverá realizar as primeiras colheitas antes do Natal.
Em Santa Catarina, a semana fechou com cotações médias de R$ 92,00 a R$ 95,00 no Sul e R$ 88,00 a R$ 90,00 no Norte. Enquanto isso, Mato Grosso (R$ 135/140,00) e Tocantins (R$ 140/145,00) operam valores maiores para sacas de 60 quilos. No Mato Grosso, que tem comprado arroz na Fronteira Oeste gaúcha, há um pedido de desoneração e isenção de impostos de importação de arroz paraguaio.
MERCOSUL
Hoje, o Paraguai teria menos de 200 mil toneladas, em base casca, para exportar ao Brasil, considerando praticamente zerar seus estoques e direcionar parte do grão de seu consumo interno, segundo traders que operam neste mercado.
A Argentina segue direcionando seu arroz para o mercado interno e o Uruguai, em que pese ter alcançado mais de R$ 660,00 por tonelada, continua bastante demandado graças à qualidade de seu grão e à expertise de sua cadeia produtiva. As exportações brasileiras, que apenas em cais comercial de Rio Grande beiraram 100 mil toneladas em agosto, ocorrem apenas em carregamento de contratos antigos. Os preços atuais não são competitivos e mercados como o México, América Central e alguns países da América do Sul têm priorizado compras dos Estados Unidos.