Será que os preços do arroz já chegaram ao fundo do poço?
(Por Agrodados/Planeta Arroz) A pergunta mais ouvida nas duas últimas semanas dentro da cadeia produtiva do arroz está no título deste artigo. “Será que os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul já chegaram ao fundo do poço”? Devido à complexidade dos fatores que determinam a formação de preços e nuanças macroeconômicas, ainda mais confusas após o tarifaço de Donald Trump, qualquer resposta pode ser pura adivinhação. Mas, vamos traçar ao menos um cenário para facilitar as conclusões dos leitores.
Os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul mostram fraqueza por conta da gigantesca colheita no mundo, no Mercosul e no Brasil. Caíram quase 14% em março e, em abril já vamos com uma perda acumulada de mais 1,29%, com a saca de 50 quilos cotada a R$ 76,30, valor equivalente a US$ 12,95 pelo câmbio de ontem. Pelo menos a velocidade da queda reduziu. E isso mostra que estamos à beira do limite inferior, levando em conta o histórico das cotações. Internacionalmente, a referência no ocidente ficam entre US$ 12,00 (Uruguai) e US$ 14,00 (EUA) por 50 quilos.
No Rio Grande do Sul, as médias indicam que há praças que remuneram com valores maiores e, também, aquelas cujos preços beiram os R$ 70,00. Aliás, há duas semanas algumas empresas abrem o mercado tentando forçar os R$ 70,00 a R$ 71,50 por saca, mas sem sucesso. Mesmo quem precisa, encontra melhores ofertas, mas não muito superiores a R$ 72,00/R$ 73,00 líquidos.
O agricultor, por sua vez, negocia pela necessidade e pela oportunidade. Necessidade para pagar as contas e oportunidade para exportar e, com isso, enxugar a oferta interna e vislumbrar um segundo semestre de cotações em reação. A estratégia já deu certo em outros momentos, mas nunca com uma safra tão grande no Mercosul, com cerca de 2 milhões de toneladas acima do normal.
Portanto, a relativa estabilidade atual dos preços é tênue, afinal ainda está calcada nos preços de um carregamento no porto do final do mês passado e na expectativa de nova e importante demanda da América Central. Esta, porém, está andando com maior vagar do que o esperado. E com uma pontinha de esperança de que a guerra tarifária iniciada por Donald Trump, ponha o México de volta em nossa line up e gere uma demanda superior ao esperado.
Em uma safra que está surpreendendo pela alta produtividade média, é claro que não serão dois ou três mil hectares de danos por acamamento ou outras perdas pontuais que vão fazer qualquer diferença no “conjunto da obra”. Lembremo-nos que há um ano, a lavoura orizícola vivenciou aquela que provavelmente foi sua maior tragédia, na Região Central. E ainda assim, a colheita foi suficiente para garantir o abastecimento nacional. E mesmo boa parte do arroz acamado, com menor produtividade, foi colhida.
O arroz é altamente resiliente, e mesmo as plantas afetadas poderão ser colhidas. Aliás, os agricultores gaúchos estão pós-graduados nisso.
A lição que fica é que aumentar significativamente a área e a produção, em ano com previsão de clima mais favorável, cobrará um preço. E, no momento, este preço está perto de R$ 50,00 por saca, levando em conta os picos de maior e menor referência no RS ao longo dos últimos 12 meses. Pior é saber que se não aumentar aqui, aumentará no Mercosul. E a concorrência é muito forte. Agora, o que vai contar mesmo é a contabilidade dentro da porteira. Ter o custo de produção na ponta do lápis, ajuda em muito na hora de fechar as contas, aproveitar as oportunidades de exportação, mesmo empatando ou perdendo pouco, é alternativa válida para valorizar o maior volume que estará disponível para o mercado interno ao longo do ano, e buscar cultivos que permitam ter outras fontes de renda – pastagem/pecuária, milho, soja, sorgo – também ajudam. A eficiência em produzir precisa estar aliada na eficiência em gerar renda. E cada fator, desde o planejamento até a comercialização, conta. E muito.
Fora da porteira, a situação é muito mais complexa. O tarifaço de Trump, e seus recuos, parece que vão trazer vantagens para o Brasil em outras áreas do agronegócio – feito soja, milho e proteínas – aonde há uma disputa acirrada por espaço no mercado chinês entre o nosso país e os EUA. No caso do arroz, a torcida fica para que Trump mantenha as taxas sobre a comercialização com os vizinhos, México e Canadá, e também a América Central. Estes são mercados de interesse do Brasil e do Mercosul. E, a esta altura do campeonato, qualquer grão que sair do Sul da América, é lucro, ainda que só repercuta nos próximos meses.
A expectativa é de que a América Central, salvo um “tsunami” político ou de saúde pública, entre comprando toda a sua demanda do ano até meados de maio. O carregamento será fracionado ao longo do ano. A informação é de uma das principais associações de indústrias centro-americanas, que assegurou interesse em cerca de 250 mil toneladas. No entanto, a expectativa já era para abril, e não se confirmou integralmente como esperado.
Para as áreas atingidas por enchentes, e para os produtores que acumularam dívidas por enchentes e estiagens, a situação é um pouco diferente. Algumas áreas não alcançaram boas produtividades, e precisam ser recuperadas, outras ficaram em pousio em busca de recuperação pra voltarem ao cultivo em 2025/26 e, em alguns casos, o fôlego dependerá de negociações e uma tentativa de securitização que está em andamento no Congresso Nacional e por meio das entidades setoriais em negociações com o Governo Federal. No mais, é colher e buscar a melhor estratégia de comercialização, enquanto se mantém a esperança de preços melhores no segundo semestre e que, ao menos, cubram os custos de produção.
1 Comentário
Tem q parar de plantar arroz e plantar soja e criar boi agora que o Chineses voltaram a arrematar esses produtos… Arroz com preços compensadores só quando tivermos outra pandemia ou a asia resolver restringir sua oferta para o mundo!!! Avisados foram para não aumentarem área… mas o olho grande não deixou né???