Só faltava isso

 Só faltava isso

Entomologista Jaime Vargas de Oliveira, da estação experimental do Irga em Cachoeirinha, analisa o bicho

Lagartas do trigo agora também têm o arroz no cardápio
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A safra de arroz 2003/ 2004 no Rio Grande do Sul apresentou uma novidade pouco agradável para os arrozeiros. Trata-se de um aumento considerável e o início dos prejuízos causados por uma praga comum na cultura do trigo e que era considerada secundária na orizicultura até poucos anos atrás. Rebatizadas como as lagartas-da-panícula-do-arroz (Pseudaletia adultera e sequax), essas pragas constam de um levantamento detalhado realizado pelo entomologista do Irga, Jaime Vargas de Oliveira.

Segundo ele, nas últimas safras houve aumento considerável na incidência de lagartas na lavoura gaúcha. Nesta safra que está encerrando, além da ocorrência de aumento populacional, as lagartas começaram a apresentar danos significativos em algumas áreas. “São as mesmas lagartas comuns na panícula do trigo que, agora, também estão se apresentando com voracidade na cultura do arroz”, explica Jaime.

Na safra 2003/2004, as duas espécies de lagartas realizaram severos ataques às espiguetas do arroz em sua fase inicial. Quando nas três fases finais do ciclo de lagarta (formada por seis fases), o inseto ataca a panícula e, muitas vezes, a corta e destrói completamente, gerando um dano considerável à produtividade da lavoura. O ataque deve ocorrer na fase inicial, mas é comum acontecer no período após a irrigação, na fase de emissão da panícula. A fase de lagarta desse inseto dura em média 20 dias, podendo chegar, excepcionalmente, a 30 dias. É nesse período que ela raspa e corta a panícula para se alimentar, tornando-se pupa em seguida.

Da emissão da panícula do arroz até a colheita, o bicho permanece dentro da lavoura. Quanto mais ela se desenvolve, mais danos provoca. Segundo o entomologista do Irga, trata-se de uma praga difícil de ser descoberta. Durante o dia, ela abriga-se na base das plantas, taipas ou sobre a água, nos colmos do arroz. Na parte da noite, sobe para cortar a panícula, raspando suas ramificações. “Muitas vezes o agricultor não nota a presença. Os sintomas podem ser identificados abrindo as plantas com as mãos e procurando nas bases a praga ou os resíduos (pedaços das panículas) que elas deixam.

Nas regiões de Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul, Restinga Seca e Dona Francisca, todas na depressão central, foram verificadas variações de cinco a 20 lagartas-da-panícula-do-arroz por metro quadrado em diversas lavouras. Em São Gabriel, na fronteira-oeste e no litoral norte, a incidência é um pouco menor, mas também preocupante. Estudos realizados nessas regiões observaram quedas entre 7% e 20% no rendimento.

Bicho invisível

• Preocupante nesta situação é o fato da lagarta provocar um dano invisível, atacando durante a noite. Os resíduos da panícula cortada caem e ficam escondidos sob a planta. Muitas vezes, o produtor identifica o dano, mas não encontra mais a lagarta que passou para a fase de pupa (instalada na base do arrozal) ou crisálida. Outro problema é que uma fêmea coloca até mil ovos por ciclo biológico, gerando reinfestação e aumento populacional. O mesmo tratamento químico recomendado para as lagartas-da-folha tem sido usado para as da panícula. O tratamento, no entanto, usava piretróides, que causam grande impacto ambiental.

• No controle das lagartas-da-panícula, estão sendo testados produtos fisiológicos e um biológico (microbiano) à base do Bacillus thuringiensis, com baixo impacto ambiental. Esses produtos estão em fase de registro junto ao Ministério da Agricultura e Abastecimento. O controle recomendado prevê a drenagem da área após a colheita e a eliminação de restos culturais com a incorporação ao solo. O único inimigo natural da lagarta é o pássaro.

• Na última safra, o Irga identificou uma maior quantidade de lagartas nas lavouras de arroz. O trabalho que está sendo desenvolvido este ano é para apontar as perdas e alertar os produtores para o combate ao inseto. Os primeiros estudos apontam que a quebra na colheita deverá chegar a 10%. “Seria como perder cerca de 600 quilos de arroz por hectare, levando em conta a produtividade média de aproximadamente 5,8 mil quilos por hectare na região central”, observa José Patrício de Freitas, do Irga.

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