Soja 2021: melhor do que o esperado. E o futuro?

Em janeiro deste ano, neste espaço, escrevemos que a soja de 2021, salvo surpresas, estava com a rentabilidade garantida. Passados mais de três meses esta realidade se confirmou.

Além de uma produção recorde no Brasil (agora estimada em 135 milhões de toneladas) e no Rio Grande do Sul (20,2 milhões de toneladas), os preços não arrefeceram como até se cogitou no artigo de janeiro. Pelo contrário, os mesmos continuaram subindo, puxados pelo câmbio no Brasil, que manteve a tendência de desvalorização do Real, até quase este final de abril, e particularmente pelas fortes altas ocorridas em Chicago.

Efetivamente o bushel de soja, em abril, se aproximou dos US$ 16,00, algo somente visto em 2012, auxiliado também pela forte elevação nos preços do óleo de soja. Este subproduto esteve sustentado pelo aumento no consumo de biodiesel e também pelo seu maior uso nas rações animais chinesas, em substituição ao farelo.

A libra-peso do óleo em Chicago chegou a bater em 68,95 centavos de dólar no dia 28/04, algo que não era visto desde o início de março de 2008. Com isso, os preços da soja no balcão gaúcho bateram recorde nominal ao fecharem a última semana de abril na média de R$ 170,90/saco, contra R$ 94,26 um ano antes. Um aumento de 81,3% no período.
Assim, mesmo com custos de produção mais elevados, a rentabilidade dos produtores de soja em geral foi garantida.

Três fatores
Dito isso, o cenário futuro requer atenção. Em primeiro lugar, os atuais preços em Chicago, incluindo os do óleo, apesar de alguns fundamentos importantes, se constituem em bolha, sustentada por forte especulação em torno do clima nos EUA neste início de plantio de sua nova safra, e pelos baixíssimos estoques de passagem naquele país.

O mercado está ignorando parcialmente a safra recorde da América do Sul, primeiro produtor mundial da oleaginosa. Em segundo lugar, os custos de produção da próxima safra serão ainda mais elevados e, se o preço do produto baixar, dificilmente o custo recuará na mesma proporção.

Em terceiro lugar, se olharmos racionalmente para as cotações na CBOT, neste fim de abril verificamos que, entre o primeiro mês (maio) e o segundo mês (julho) o grão tem uma redução de 2,9% e sobre novembro, quando ocorre a colheita nos EUA, a redução é de 17,2%.

Se verificarmos o comportamento do óleo de soja naquela Bolsa, a diferença entre os dois primeiros meses é de uma redução de 12,7% em seu valor. Já em relação a novembro a redução aumenta para 35,4%.

Sinais
São sinais de que, em o clima transcorrendo bem nos EUA, as cotações tendem a recuar para níveis bem mais normais. Mesmo porque a demanda começa a reagir diante de preços tão altos.

É o caso da China que vem buscando alternativas mais baratas para compor suas rações animais, visando substituir parcialmente a soja e o milho que são importados.

Ao mesmo tempo, no Brasil, espera-se que o câmbio feche o ano entre R$ 5,20 e R$ 5,40 por dólar, na medida em que a Selic começou a ser aumentada.

No fim de abril o mesmo havia retornado à casa dos R$ 5,34. Portanto, embora este quadro seja dinâmico, podendo se modificar rapidamente ao sabor da especulação e das políticas internas brasileiras, é preciso precaução dos produtores, pois a rentabilidade da soja em 2022, na comparação ao quadro excepcional do corrente ano, pode ser menor.

Mais atenção
Isso exige mais atenção na gestão das empresas rurais, assim como a manutenção do escalonamento da comercialização visando a realização de uma boa média de preços.

Argemiro Luís Brum
Professor do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), analista de mercado e coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter