Tecnologia contra a crise na lavoura

 Tecnologia contra a crise na lavoura

Guinter Frantz: presidente do Irga veio para o evento em Cachoeira do Sul

Associar redução de custos com rentabilidade e avanços agronômicos é desafio dos arrozeiros.

 Em meio a uma grave crise de preços e custos que afeta a orizicultura brasileira, com a região praticando preços entre R$ 34,00 e R$ 35,00 diante de um desembolso médio estimado pelos produtores de R$ 43,00 por saca de arroz em casca, pelo menos mil arrozeiros, técnicos e estudantes participaram ontem do Dia de Campo Regional organizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na Barragem do Capané, interior de Cachoeira do Sul. O tema não poderia ter sido mais oportuno: “Produtividade e renda nos sistemas integrados de produção”.

Os arrozeiros foram em busca de tecnologias capazes de ampliar a produtividade das lavouras, reduzir os custos de produção e assegurar rentabilidade e avanços agronômicos. Os participantes vieram de 34 cidades da região central do Rio Grande do Sul. Na parte da manhã o evento foi concentrado em quatro estações técnicas abordando o preparo antecipado e manejo da palha e solo na entressafra, o manejo de plantas daninhas, o Projeto 10+ – que busca sustentabilidade produtiva -, e a rotação de culturas em terras de arroz, que é parte do programa Soja 6000. À tarde perto de 600 participantes acompanharam oficinas específicas de manejo de soja em terras baixas, semeadura direta de arroz, manejo de adubação, entre outros temas técnicos.

MÁQUINAS E INSUMOS

Além da programação organizada pelo Irga, 14 empresas de equipamentos e insumos de Cachoeira do Sul e de Santa Maria expuseram seus produtos e os apresentaram tecnicamente aos potenciais clientes.

Te mexe, arrozeiro!

Se a lavoura de arroz vive uma das suas mais sérias crises, com o agravante de que desta vez o custo de produção é muito mais alto que os preços médios, a solução passa obrigatoriamente por uma mobilização setorial. O conceito é defendido pelo movimento “Te mexe, arrozeiro!”, que elaborou a Carta de Cachoeira em 2015, perdeu fôlego e agora reavivou para protestar contra a crise do setor. Todos os arrozeiros, familiares, técnicos e interessados na cadeia produtiva estão sendo convocados para um protesto e uma assembleia geral pública na próxima quarta-feira, no Centro de Eventos de Restinga Seca.

A expectativa é de reunir entre 3 e 4 mil produtores, segundo um dos líderes do movimento, o secretário municipal da Agricultura e Pecuária de Restinga Seca, Cláudio Roberto Possebon. “A assembleia pública decidirá a pauta de reivindicações. O certo é que precisamos resolver com urgência a questão da comercialização, pois a nova safra está chegando. Custos, tributos e logística são questões para a próxima safra que serão tratadas, mas temos alguns meses”, frisou André Tonetto, presidente da Associação de Arrozeiros de Restinga Seca.

SECURITIZAÇÃO
Eles consideram que a securitização das dívidas em patamares que permitam o pagamento e o acesso ao crédito oficial são determinantes para o futuro da lavoura. “Chegamos ao fundo do poço e o governo não pode mais se omitir”, observa Ademar Pinto Kochenborger, presidente da União Central de Rizicultores (UCR), a mais antiga associação arrozeira gaúcha. O vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, avalia o movimento como legítimo, importante e com capacidade de fortalecer uma série de pleitos encaminhados a esferas federais e estaduais, inclusive à Justiça.
“A base da lavoura mobilizada é o que queremos e precisamos. Os produtores precisam ser ouvidos. Esperamos que a mobilização avance em ótimo nível”, reforçou. Velho também antecipou que no dia 23 de fevereiro, durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Cachoeirinha, haverá uma reunião pública na qual cada arrozeiro terá livre acesso para se manifestar e auxiliar na tomada de decisões. Outros setores do agronegócio que estão passando por dificuldades deverão se integrar ao movimento.

O QUE O JP VIU
Por dentro do Dia de Campo



Dia de Campo do Irga: movimento na subestação do Capané para discutir tecnologia

PALAVRA DO PRESIDENTE
* “Ainda que tenhamos a convicção de que muitas das soluções para os problemas atuais estejam atreladas a decisões políticas de nível federal, os produtores e o setor de pesquisa têm feito as suas partes em busca de soluções agronômicas e gerenciais pela sustentabilidade. Neste sentido há avanços importantes que demonstramos na prática neste Dia de Campo”, ressaltou o presidente do Irga, Guinter Frantz. Ele participou do primeiro grupo a fazer o roteiro pelas estações técnicas e aproveitou para conversar com produtores sobre o momento da orizicultura e as atividades do Irga. Para Frantz, no atual cenário reveste-se de especial importância a adoção de práticas propostas nos projetos do Irga que não só respondem pelo aumento da produtividade, mas também o uso eficiente dos insumos, um dos fatores mais caros na composição dos custos.

ALMOÇO COM MÚSICA
* Depois do roteiro os visitantes saborearam um arroz de carreteiro preparado pela equipe de culinária do Irga, numa iniciativa ligada ao Programa de Valorização do Arroz (Provarroz), ao som do cantor nativista Clênio Bibiano e grupo.

AVALIAÇÃO DO SINDICATO
* O presidente do Sindicato Rural de Cachoeira do Sul, Fernando Cantarelli, frisou a importância de eventos deste porte para o agronegócio da região. “O foco técnico, a apresentação didática de temas complexos e a organização chamaram a atenção”, acrescentou.

FALA, PRODUTOR
* Fernando Hoerbe, produtor na Barragem do Capané, considerou que a tecnologia apregoada pelo Irga já tem mostrado seus efeitos em Cachoeira do Sul e região. “Embora nem todas as áreas de várzeas sejam capazes de dar resposta ao plantio da soja, onde é possível plantar, a rotação tem demonstrado a capacidade de reduzir a infestação de ervas daninhas resistentes a herbicidas. Se não é uma solução permanente, ao menos se tornou uma ferramenta importante”, argumentou. Para ele, alternar sistemas de plantio, princípios ativos de insumos, culturas e integrar as atividades das lavouras, além de racionalizar o uso de agroquímicos, são medidas obrigatórias para quem quiser se manter na atividade. “E é preciso ter os números da lavoura na ponta do lápis”, reconheceu.

EXPECTATIVA SUPERADA
* O coordenador regional do Irga, Pedro Hamann Trevisan, considerou a atividade um sucesso. “Esperávamos entre 800 e mil visitantes e ultrapassamos este teto. O clima ajudou e estamos satisfeitos com o resultado”, finalizou. O Rio Grande do Sul representa 70% da produção brasileira de arroz e deve colher mais de oito milhões de toneladas neste ciclo. As primeiras lavouras já estão sendo colhidas, mas a maior parte delas foi semeada com atraso.

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