Temporais já causam prejuízo de R$ 4,5 bilhões no Rio Grande do Sul

“E a conta está aumentando”, afirma o coordenador da Defesa Civil, coronel Joel Prates Pedroso.

Os sucessivos e violentos temporais registrados nos últimos dois meses, com ventos que chegaram a passar de 100 quilômetros por hora, enchentes e queda de granizo, já causaram prejuízos de R$ 4,5 bilhões para o Rio Grande do Sul, segundo a Defesa Civil do Estado. A estimativa, que inclui os estragos provocados na agricultura, nas redes de energia, estradas, prédios públicos e residências particulares, supera em mais de seis vezes a projeção de R$ 700 milhões em investimentos do governo gaúcho com recursos do Tesouro (excluindo as estatais) em 2009 e em 3,6 vezes o orçamento original para o período, que era de R$ 1,25 bilhão.

“E a conta está aumentando”, afirma o coordenador da Defesa Civil, coronel Joel Prates Pedroso. De acordo com ele, uma avaliação mais precisa dos danos será possível quando o nível dos rios baixar nas diversas regiões do Estado que sofrem com as enchentes. No sábado, depois de sobrevoar algumas áreas atingidas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou a liberação imediata de R$ 162 milhões para o Estado, que serão utilizados em ações de socorro às vitimas e na recuperação de escolas e hospitais, além do envio de medicamentos.

Conforme o chefe do 8 Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Solismar Prestes, em algumas regiões o volume de chuva em novembro chegou a superar em mais de quatro vezes a média histórica de cerca de 150 milímetros. A causa, explica, é o fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento do Oceano Pacífico e aumenta os níveis de umidade no sul do país. Agora, a intensidade da chuva deve cair um pouco em dezembro e retornar aos níveis normais em janeiro e fevereiro, adianta.

Entre a noite de domingo e a madrugada de ontem novos temporais atingiram o centro, norte, noroeste e oeste do Estado. No município de Santo Cristo, a 540 quilômetros de Porto Alegre, cerca de 90% das casas da área urbana foram destelhadas, segundo a Brigada Militar. Conforme a Defesa Civil, 98 prefeituras gaúchas já decretaram situação de emergência. O número de desabrigados e desalojados chega a 17,2 mil pessoas, enquanto 15,9 mil casas foram danificadas e quase 300 destruídas. Nas últimas duas semanas também morreram oito pessoas em consequência das tempestades.

“O estrago é imenso”, afirma o secretário de Obras do governo estadual, José Carlos Breda. Segundo ele, pelo menos 71 prédios públicos, a maior parte escolas, já foram danificados pelos temporais. A recuperação vai custar

R$ 12 milhões e a secretaria também está fazendo o desassoreamento de vários rios na tentativa de conter as enchentes. Conforme o secretário de Infraestrutura, Daniel Andrade, um dos maiores problemas enfrentados pelas comunidades do interior é o isolamento provocado pela destruição de estradas vicinais e de pequenas pontes de madeira.

A situação das estradas pavimentadas também é preocupante, já que as inundações podem facilmente deteriorar o asfalto, explica Andrade. Pelo menos quatro rodovias estaduais e duas federais estão interditadas há vários dias, segundo o governo gaúcho. Conforme o secretário, o Estado também enfrenta problema nas redes de distribuição de energia e ontem o número de pessoas sem abastecimento de eletricidade subiu de 48 mil para mais de 60 mil, de acordo com os dados da CEEE, controlada pelo governo estadual, da AES Sul e da RGE.

O presidente da CEEE, Sérgio Camps de Morais, relata que 450 mil pessoas chegaram a ficar sem energia em 30 municípios atendidos pela empresa na tempestade do dia 19 de novembro. Mais de mil postes foram derrubados pela força dos ventos e até uma torre de subtransmissão de 28 metros de altura veio abaixo. Na opinião do executivo, as “contingências meteorológicas” naquele momento superaram a “capacidade de reação” da companhia, que pretende dobrar o orçamento para obras de manutenção preventiva no ano que vem em relação a 2009, para R$ 60 milhões. “Desde o dia 19

deixamos de faturar R$ 2 milhões com venda de energia e gastamos mais R$ 1 milhão para recuperar as redes”, calcula.

No setor primário, as tempestades alagaram 12% dos 732,4 mil hectares de arroz já plantados no Estado, o que pode provocar uma perda de até 800 mil toneladas do produto, o equivalente a 10% da safra projetada para o produto, revela o diretor-técnico do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Valmir Menezes. Segundo o assistente técnico regional da Emater-RS, Dulphe Pinheiro Machado Neto, o mau tempo também comprometeu a qualidade do trigo ainda por colher, equivalente a 30% da safra estimada em 1,7 milhão de toneladas, enquanto as lavouras de soja e milho tiveram o plantio atrasado, mas ainda podem se recuperar.

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