Transição acelerada

 Transição acelerada

Santa Catarina: novo sistema de produção amplia presença nas lavouras

Cultivo mínimo
ganha espaço
na lavoura catarinense
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A produção de arroz em Santa Catarina se caracteriza pela estabilidade. Anualmente, o estado cultiva em média 150 mil hectares, que resultam na colheita de 1 milhão de toneladas. Confirmando esta tendência, para a safra 2014/15 a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima o volume de 1.047,5 milhão de toneladas para uma área de 147,9 mil hectares. A superfície semeada reduziu 1,5% em relação à safra anterior, abrindo espaço para culturas como milho, hortifrutigranjeiros, maracujá e mandioca.

Entretanto, a manutenção deste desempenho é resultado de um intenso trabalho de pesquisa e de muitos investimentos em tecnologia voltados ao aumento da produtividade das lavouras, aonde a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) exerce papel preponderante. Um olhar mais atento sobre a orizicultura conduzida no estado revela um processo dinâmico de transição em relação ao sistema produtivo adotado pelos produtores.

Até cinco anos atrás, praticamente todo o cultivo orizícola catarinense era sob o sistema pré-germinado, no qual a semeadura é feita em lâmina de água com sementes pré-germinadas. Mas nas últimas safras os agricultores passaram a adotar outra semeadura em solo seco, também conhecida como cultivo mínimo. A área sob este sistema já representa cerca de 30% de toda a lavoura catarinense. O pesquisador da estação experimental da Epagri em Itajaí, Domingos Sávio Eberhardt, observa que ambos os sistemas são adequados à realidade catarinense, mas, ao mesmo tempo, apresentam vantagens e desvantagens.

“O cultivo mínimo em solo seco tem como principal vantagem a economia, já que o custo de produção é menor. Possibilita uma racionalização do trabalho do produtor ao longo de todo o ano. Já no sistema pré-germinado existe uma concentração de atividades muito grande no momento da semeadura”, compara. Ele explica que no sistema de cultivo mínimo todo o trabalho de preparo do solo é antecipado, ou seja, deve ser efetuado imediatamente após a colheita. “Com isso o agricultor tem todo o período da entressafra para deixar a área pronta e plantar na época mais adequada”, afirma.

Conforme Eberhardt, é preciso estar atento a alguns procedimentos fundamentais no que se refere à adoção deste sistema: “Primeiramente, é recomendado um preparo do solo bastante superficial. Nesta etapa não é desejável que se faça um revolvimento muito grande da terra para manter as plantas daninhas na superfície porque desta maneira elas poderão ser controladas”, aconselha o pesquisador.

Segundo ele, no sistema de cultivo em solo seco o preparo do solo pode ser feito com rolo faca, mas o agricultor pode utilizar outras ferramentas que dispor na propriedade, como enxada rotativa ou grade, o que for mais conveniente. “A vantagem do rolo faca é que ele possibilita manter as sementes das plantas daninhas na superfície do solo, aonde elas virão a germinar mais rapidamente, facilitando o controle. O importante é não deixar essas invasoras daninhas produzirem mais sementes. Então, antes que completem o ciclo, devem ser destruídas. O processo usual é a dessecação, ou seja, a aplicação de herbicida de ação total que venha a controlar as plantas indesejáveis. Em muitas lavouras isso é feito 30 dias antes do plantio do arroz, quando a temperatura começa a se elevar, na primavera”, ressalta.

FIQUE DE OLHO
Embora este processo de transição venha ocorrendo de forma acelerada em algumas regiões orizícolas do estado, estima-se que o sistema de semeadura em solo seco corresponda a 25% ou 30% da área plantada nesta temporada, o que equivale a uma superfície entre 37,5 e 45 mil hectares. “Em função das pesquisas que a Epagri vem desenvolvendo desde a década de 1990, e que resultaram em cultivares resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, aptas para o cultivo no estado, bem como do surgimento da tecnologia Clearfield, houve a possibilidade de mudar rapidamente do sistema pré-germinado para o cultivo mínimo em solo seco em algumas regiões”, assegura o gerente da estação experimental da Epagri em Itajaí, José Alberto Noldin.

Variedade nova reforça o portfólio

Para a próxima safra catarinense, a grande novidade anunciada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) é a variedade SCS121 CL, desenvolvida pela empresa em parceria com a Basf para uso nos sistemas de cultivo mínimo e pré-germinado. “Por enquanto, esta nossa primeira variedade CL de segunda geração está disponível apenas para produtores de sementes. Atualmente, a SCS121 CL encontra-se em processo de multiplicação de sementes no campo, mas estará nas mãos dos agricultores já na safra 2015/16”, informa o gerente da estação experimental da Epagri em Itajaí, José Alberto Noldin.

A expectativa em relação à nova cultivar é compartilhada pelo vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Rui Geraldino Fernandes, que também vê com otimismo o processo de transição pelo qual atravessa a lavoura catarinense. “O arroz cultivado em solo seco compensa ao produtor porque requer um investimento de produção mais baixo, que acaba pagando o custo, deixando sobrar mais dinheiro para que ele possa aplicar mais na propriedade”, calcula.

Conforme Fernandes, o clima para o plantio da nova safra foi favorável e até o início de janeiro não havia informações de ataques importantes de pragas nem doenças nas culturas. “Creio que vamos fazer uma colheita dentro da normalidade, com alta produtividade e grãos de ótima qualidade para a indústria. Em termos de comercialização, nossa expectativa também é positiva. Os preços estão firmes e aquecidos neste início de ano, entre R$ 36,00 e R$ 38,00. Então vamos torcer para que isso também venha a impactar positivamente na renda do produtor”, projeta o dirigente.

Semeadura em solo seco: nova tendência na orizicultura de Santa Catarina

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