Tratoraço em Bagé

Bagé (RS) virou palco para mobilização que mais uma vez ganha destaque nacional.

Cavalarianos carregando bandeiras, mais de cem tratores e cem caminhões invadiram a cidade na manhã desta terça-feira 17 com buzinaços, piscas em alerta e foguetórios quando participavam do “Tratoraço em favor da produção e da renda”, promovido pelos produtores da região da campanha do Rio Grande do Sul. Cerca de mil pessoas, entre produtores, empresários, autoridades e comunidade em geral aguardavam os participantes da carreata com muitos aplausos manifestando apoio a mobilização contra as importações de arroz e outros produtos do agronegócio oriundos do Uruguai e Argentina e contra a política federal do agronegócio.

A carreata partiu no início da manhã de terça-feira da Granja do Valente que fica na BR 153, estrada Bagé a Aceguá (RS). Escoltados pela Brigada Militar e agentes de fiscalização da Empresa Bageense de Transporte e Circulação (EBTC), o desfile pelas principais ruas da cidade foi puxado por cavalarianos transportando as bandeiras do Brasil, Estado, Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Associação/Sindicato Rural de Bagé e do Movimento dos Produtores Rurais, seguidos por caminhões e tratores que ocuparam várias quadras da Sete de Setembro.

Os produtores e trabalhadores rurais e das indústrias do setor orizícola chegaram em Bagé por volta das 10h, passando pela Avenida General Osório, Melanie Granier e Sete de Setembro. A concentração ocorreu na Praça Silveira Martins do município, onde às 11h ocorreu um ato público. Além das músicas que reverenciavam a importância da produção, a mobilização foi contemplada com a passagem de quatro aviões que sobrevoaram o local soltando mais de 1.600 quilos de arroz em casca. No final do protesto, foram entregues 1,5 mil quilos de arroz para a comunidade em geral que formou extensa fila, prolongando a distribuição até as 13h. Foram distribuídos sacos do produto de dois e cinco quilos.

Enquanto o ato público era realizado na praça, algumas empresas fecharam suas portas, sendo uma solicitação das entidades que representam o setor empresarial, conforme apontou o presidente da Associação Comercial e Industrial de Bagé, Odacir Pilon. O palanque instalado na praça foi ocupado por diversas autoridades, entre elas, o presidente da Associação dos Agricultores da Região de Bagé, Ricardo Zago, o presidente da Associação/Sindicato Rural de Bagé, Paulo Ricardo de Souza Dias, o presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros (Federarroz), Valter José Pötter, o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira e o prefeito de Bagé, Luís Fernando Mainardi (PT).

MANIFESTOS

A série de pronunciamentos da manhã de ontem foi aberta com o prefeito, que manifestou apoio na luta pela recuperação da rentabilidade do setor orizícola. Ele espera que esse movimento sirva não apenas para corrigir o preço da saca do arroz, mas que se abra um processo de discussão e que o governo federal coloque na pauta das discussões.

O vereador Graciano Pereira informou que a casa legislativa se solidarizou com o manifesto, colocando-a na pauta de discussões e prestando o total apoio a categoria. O presidente da Rural de Bagé destacou a integração do setor industrial e empresarial nessa trajetória dos produtores e ainda agradeceu a participação do governo municipal, legislativo e o apoio da comunidade. Ele destacou que esse manifesto dos produtores teve entre seus motivos mostrar que o produtor não está sendo remunerado como deveria, quando os seus produtos estão sendo vendidos abaixo do custo de produção.

Ele observa que esse foi o primeiro passo para a mobilização nacional que a categoria está prevendo para o próximo mês, quando serão mobilizados todos os setores produtivos para mostrar a carência da classe em um política que realmente valorize o setor agropecuário. Ele convida todos os produtores da região para que participem da assembléia estadual nesta quarta-feira, às 14h, em Santana do Livramento, quando são aguardados mais de dois mil produtores. “A diretoria da Rural estará marcando presença e aguardamos a participação de todos os sócios”, aclama.

O presidente da Federarroz diz que a categoria está querendo respeito e por isso está mobilizada. Ele ressaltou que o governo federal não está dando nenhum apoio ao setor produtivo e ainda qualificou de nefasta à política do Governo, que permite a importação de produtos de que o país é auto-suficiente. Ainda salientou que a entidade já foi a Brasília mais de 50 vezes e até hoje não conseguiu uma audiência com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ao contrário do que aconteceu ontem com o Movimento dos Sem Terra (MST).

O vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, destacou o caos que o setor está vivenciando, onde os produtores adquiriram inúmeras dívidas. A situação, conforme Gedeão é tão crítica, porque está afetando a mão-de-obra, quando milhares de trabalhadores em todo país estão sendo despedidos, como por exemplo 10 mil metalúrgicos, devido a redução na compra de máquinas e implementos agrícolas. Pereira ainda abordou sobre as vistorias de terras para fins de desapropriação para Reforma Agrária, a ação de Reintegração de Posse da BR 153, ocorrida em Aceguá, no final de abril, quando os arrozeiros realizavam barreira. Ainda destacou sobre a ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que para garantir a passagem de 12 carretas com arroz importado, pela barreira dos produtores, na BR 153, agiu com atos violentos com os produtores, como por exemplo empurrões.

Pereira disse que o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, esteve reunido na Terça-feira com o vice-presidente José de Alencar para levar o posicionamento da categoria e também a ação ocorrida na segunda-feira em Bagé pela PRF.

Já Ricardo Zago, disse que a categoria vem se mobilizando há mais de oito meses e não aguenta mais viver nessa situação. ele destacou que mesmo o produtor garantindo a produção de alimentos do povo, esse trabalho não está sendo valorizado pelas esferas governamentais, que vem sendo tratado como “marginal”. Ele promete que a mobilização vai continuar cada vez mais forte, até que o presidente Lula receba os produtores gaúchos.

Novas mobilizações estão sendo programadas. Além de Livramento nesta quarta-feira, no dia 24 haverá uma grande mobilização no Parque Assis Brasil, em Esteio e no dia 31 o manifesto será desencadeado em todo Estado e deverá se estender para o restante do Brasil, quando os produtores prometem chegar em Brasília. O ato público encerrou com o Hino Nacional e distribuição de 1,5 mil quilos de arroz.

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