Um ano diferente, mas nem por isso pior

Tiago Sarmento Barata
MSc em Agronegócios.

O mês de março, quando se inicia o período comercial de uma nova safra, é sempre um mês de muitas expectativas e aflições entre os operadores da cadeia produtiva do arroz no Brasil. Neste ano em especial. Os bons resultados comerciais obtidos no ano passado criaram uma referência elevada de preço, gerando um maior grau de exigência dos operadores na realização dos futuros negócios e dando margem a potenciais frustrações nos setores produtivo e industrial. 

Isso é natural, o produtor que comercializou uma saca de arroz em casca por R$ 38,00 em 2008, por exemplo, pode se sentir frustrado se receber R$ 37,50 em uma negociação no ano seguinte, pois o negócio anterior inevitavelmente gerou uma expectativa superior. 

Esta reflexão não é nenhuma sinalização de que a comercialização da safra 2008/2009 será menos positiva. É apenas uma observação que merece ser feita após um período marcado pela euforia.

 

Conjuntura

Isoladamente, a projeção de ajustamento do quadro doméstico de oferta e demanda é um fator altista para essa safra, mas existem outras variáveis envolvidas que precisam ser avaliadas com clareza e atenção. 

Nos últimos anos a maior influência das variáveis do mercado internacional vem tornando a análise da conjuntura doméstica ainda mais complexa, exigindo um acompanhamento cada vez mais frequente das condições das safras internacionais, intenções de compra e dos principais players e principalmente o comportamento das cotações no mercado externo, que é uma consequência da interação dos fatores anteriores. 

Depois de ter atingido o menor nível dos últimos 20 anos (cinco anos atrás), o estoque mundial de arroz vem apresentando uma trajetória de recuperação, impulsionada pelo forte incremento na produção do cereal, principalmente no continente asiático. 

 

Produção e mercado mundial

Segundo o relatório de fevereiro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Wasde/USDA) está sendo projetado um aumento superior a 5,6 milhões de toneladas no estoque mundial ao longo do ano comercial 2008/2009, atingindo 84,6 milhões de toneladas (base beneficiado) em julho de 2009. Este estoque representa 19,5% do que é consumido no planeta ou o suficiente para suprir toda a demanda mundial por 71 dias. 

O volume projetado pela USDA ainda é inferior ao que a FAO considera mínimo para garantir a segurança alimentar mundial (25% do consumo), mas trata-se de um aumento que pode evitar que os preços sofram uma valorização similar à vista neste primeiro semestre de 2009. 

O aumento da produção nos maiores países importadores e os efeitos da crise financeira mundial devem refletir em um menor interesse de compra no cenário mundial, minimizando a possi-bilidade dos preços atingirem os patamares recordes praticados em 2008.

Cenário

Por ser um produto básico na alimentação mundial, o arroz será, entre os demais alimentos ou commodities em geral, o que sofrerá menor impacto da crise econômica, mas não haverá mais um cenário similar ao daquela supervalorização especulativa que vimos no último ano.

 

Oportunidades

Por outro lado, o Brasil, o Uruguai e a Argentina souberam aproveitar a janela de oportunidade, conquistando novos mercados, que se consolidaram como um importante canal de comercialização. 

Enfim, insegurança e preocupação são comuns no início de um novo ano comercial em função das incertezas características de qualquer mercado, mas não há razão concreta para pessimismo. 

É sabido que a importação de arroz será mais significativa neste ano, mas além das exportações a demanda ainda será aquecida pela necessidade de compra do Governo Federal, que precisará repor o estoque público. Sem dúvida alguma teremos um ano marcado por muita discussão e negociação entre o setor público e as entidades representativas da cadeia produtiva. 

A estratégia de aquisição praticada pelo Governo Federal estabelecerá referências que serão importantes na condução do comportamento dos preços ao longo deste ano no mercado interno. O ideal seria que estas compras governamentais fossem feitas respeitando o comportamento natural do mercado. Mais do que nunca, neste ano, lucidez e prudência serão os insumos exigidos para a obtenção de bons negócios. 

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