Um ano nunca é igual ao outro
Pegorer também é gestor comercial da Guacira Alimentos, empresa da família, sediada em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior paulista. Vem daí o interesse pelo agronegócio, que começou desde cedo, ainda na infância, observando o trabalho do pai e dos tios. Depois de formado, passou a trabalhar em negócios próprios, no segmento de mármores e granitos, além de atuar no setor calçadista durante 10 anos, como gerente comercial em uma distribuidora da São Paulo Alpargatas em Porto Rico, no Caribe, durante um ano.
Nesta entrevista exclusiva concedida à revista Planeta Arroz, ele fala sobre as demandas do setor industrial para os próximos anos, o abastecimento de arroz no Centro-oeste frente à concentração da produção no sul do Brasil, exportações, Mercosul e, como não poderia deixar de ser, suas expectativas para a safra 2013/14: “Sabemos que será uma excelente safra, mas sabemos também que um ano nunca é igual ao outro”, avalia o dirigente.
Planeta Arroz – Qual a sua ligação com o setor agrícola-industrial e o interesse por essa área de atuação?
Mário Pegorer – A ligação com o setor vem do negócio de família. A Guacira Alimentos é uma empresa que pertence à minha família e já, desde criança, convivi com o dia a dia, o crescimento e a evolução do negócio em que meu pai e meus tios trabalhavam. Sempre tive interesse pelo agronegócio, um pouco pelas raízes do campo, mas também pelo potencial, pelas boas perspectivas e pela importância que o agronegócio possui no Brasil, o que, ao longo de minha formação, despertou um grande interesse de minha parte para atuar nesta área.
Planeta Arroz – O senhor assumiu em 2013 a presidência da Abiarroz até 2015. Qual a sua expectativa à frente da entidade?
Mário Pegorer – Estou frente à entidade desde 2013, mas convivo com a Abiarroz desde a sua fundação, há quase cinco anos. O trabalho, no início, foi muito árduo por parte do ex-presidente e da diretoria, já que a entidade precisava de reconhecimento junto ao setor orizícola e também junto aos órgãos governamentais no Brasil, especialmente em Brasília. Este trabalho foi muito bem conduzido e, desde que assumi a presidência, mantenho a mesma conduta de transparência, coerência e imparcialidade na tomada de decisões. Nesse período de minha gestão, vamos manter o trabalho junto ao governo federal no sentido de promover a reforma tributária, que é um sonho não só da indústria orizícola, mas de todo o nosso país.
Planeta Arroz – E quais são as grandes demandas do setor industrial para os próximos dois anos?
Mário Pegorer – Estamos trabalhando muito forte no projeto de exportação em parceria com a Apex-Brasil e apoio de outras entidades, tais como a Fiergs e o Irga, e também de todas as entidades regionais representativas do setor. Este ano, estaremos levando o nome Brazilian Rice para as feiras de Dubai, Sial Paris e também no evento Rice Convention, na Costa Rica. Atuamos também junto aos órgãos governamentais para apoiar as tomadas de decisão quanto às políticas para o setor. Juntamente com outras associações do setor, procuramos dar subsídios para que o governo atue no mercado em momentos oportunos e necessários para que possamos manter o abastecimento e as melhores condições para que tanto a indústria como também produtores possam planejar suas ações e formas de comercialização. Existem também várias outras demandas que trabalhamos, como, por exemplo, o projeto do Arroz Vitaminado, que é apoiado por entidades internacionais e nacionais. Este projeto possibilita complementar nutrientes que faltam na alimentação de nossa população e combate à chamada “fome oculta”. Atuamos em vários assuntos pertinentes à qualidade, exigências sanitárias, entre outros, mas especialmente as ações citadas anteriormente são as mais importantes.
Planeta Arroz – Às vésperas de uma nova safra de arroz, qual a sua expectativa para o mercado em 2014?
Mário Pegorer – No setor orizícola, sempre ouvi dizer que um ano nunca é igual ao outro, mesmo que as condições estejam muito semelhantes. Sabemos que será uma boa safra, que os estoques governamentais estarão muito baixos, teremos uma instabilidade cambial, como a que vimos no segundo semestre do ano anterior, e sabemos também que toda a região do Mercosul terá uma excelente safra. Dadas estas condições, cada um terá que fazer seu próprio prognóstico e atuar conforme suas condições e necessidades, pois é muito perigoso arriscar uma previsão.
Planeta Arroz – Sendo paulista, de Santa Cruz do Rio Pardo, que análise o senhor faz sobre o abastecimento de arroz nesta região frente à concentração da produção nos dois estados do Sul, RS e SC?
Mário Pegorer – O setor orizícola paulista existe há muitos anos.Havia uma infinidade de indústrias que se espalhavam por todo o estado, sempre sendo abastecido pelo arroz de diversas regiões do país. Acredito que hoje ainda continue sendo assim, porém com uma maior concentração das indústrias. O abastecimento a 30 ou 40 anos atrás era oriundo da abertura de terras novas do Mato Grosso do Sul e até mesmo de várias áreas de cultivo dentro do estado de São Paulo. Mais tarde, o Rio Grande do Sul passou a ser o principal abastecedor das indústrias paulistas, bem como os países do Mercosul. Não vejo, portanto, nenhum problema de abastecimento para as indústrias paulistas.
Planeta Arroz – Aproveitando o gancho da questão anterior, como o senhor avalia a importação de arroz do Paraguai (que vai direto para SP)?
Mário Pegorer – O arroz paraguaio, bem como o argentino e uruguaio, participa do mesmo bloco formado pelo Mercosul juntamente com o arroz brasileiro. Uma parte significativa desta produção é produzida por empresários brasileiros que acreditaram nestas regiões, investiram e levaram a tecnologia brasileira para estas terras. O Mercosul é uma realidade que devemos saber trabalhar com as condições que existem. Não estamos isolados do mundo, mas sim fazemos parte de um complexo sistema chamado globalização. O fato é que os países do Mercosul representam uma importante fonte de abastecimento para as indústrias, não só de São Paulo, mas de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e todos os estados do Nordeste. Neste caso, o que existe não é apenas a oferta de produtos destas regiões, mas sim a falta de uma política tributária uniforme para todos os estados.
Planeta Arroz – É a chamada guerra fiscal. Como o senhor avalia essa questão?
Mário Pegorer – Essa não conformidade da política tributária é a maior causa do impacto do Mercosul no mercado orizícola. Como eu disse anteriormente sobre a questão do Mercosul, a distorção provocada pela guerra fiscal é muito forte em nosso setor. A Abiarroz trabalha para a equalização da alíquota do arroz para todo o país. Devemos ter condições de igualdade para todo o setor, em qualquer parte do país, e isso trará mais previsibilidade à indústria e produtores para planejar o futuro.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia o projeto de exportação do arroz brasileiro desenvolvido pela Apex-Brasil e qual a importância das exportações para a indústria brasileira de arroz?
Mário Pegorer – O projeto de exportação que temos com a Apex-Brasil é de suma importância para a internacionalização do nosso setor, para o desenvolvimento de nossas empresas e para o escoamento do excedente de nossa produção. Acredito que as empresas que estão participando deste projeto darão um salto qualitativo nos próximos anos, com maturidade exportadora, desenvolvimento de novos processos de qualidade e seleção de produtos e embalagens, e desenvolvimento de novos produtos tendo o arroz como matéria-prima.
Planeta Arroz – Na sua avaliação, existe alguma possibilidade do Centro-sul se somar ao RS neste esforço para exportar e quais os caminhos a serem seguidos neste sentido (pelas indústrias do Centro-sul)?
Mário Pegorer – Acredito que as empresas, em todas as regiões do país, têm condições de aderir ao projeto. Não se trata apenas de uma iniciativa direcionada às empresas que estão próximas ao Porto de Rio Grande, nosso principal porto exportador de arroz, mas sim de empresas que possuam perfil empreendedor e que queiram desenvolver o mercado externo.
Planeta Arroz – Quais são os grandes gargalos da indústria de arroz e como estão as tratativas com o governo federal para solucioná-los?
Mário Pegorer – Os grandes gargalos de nosso setor estão relacionados à infraestrutura. Sabemos que o nosso país não investe nessa área há muitos anos. Isso causa problemas para nós, que trabalhamos com um produto que necessita de grande movimentação. Não existem estradas de qualidade, o setor ferroviário está sucateado e o setor de cabotagem não consegue atender a demanda. Assim, nos faz falta um serviço de qualidade a um custo aceitável. Outro problema que o setor enfrenta são os altos custos para realizar a logística nos grandes centros consumidores do país, com imposições de restrições de circulação dos caminhões sem que se apresente uma via alternativa.