Uma variável da Pesada

 Uma variável da Pesada

El Niño frustra expectativa de safra recorde de arroz no RS
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O clima de incerteza que paira sobre as lavouras de arroz no Rio Grande do Sul neste início de colheita deverá ser a marca registrada da safra 2009/2010. Isso porque a dimensão dos prejuízos causados pelo fenômeno climático El Niño – que trouxe chuvas em excesso e prejudicou as lavouras pelos constantes alagamentos principalmente nas regiões do Vale do Jacuí e da depressão central – só poderá ser contabilizada no final da safra. Para piorar, a previsão é de que a colheita seja concluída abaixo de chuva. 

De acordo com o 5º Levantamento de Intenção de Plantio para a safra de arroz, divulgado no dia 9 de fevereiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do cereal no estado está estimada em 6.855.500 toneladas. Este volume representa uma queda de 13,4% em relação às 7.905.000 toneladas colhidas na safra 2008/2009. 

A área cultivada está em torno de 2.775.100 hectares, 3,9% inferior à da safra 2008/2009, que foi de 2.909.000 hectares. A produtividade média deve ficar em torno de 6.350 quilos por hectare, desempenho 11,19% menor que o obtido no período anterior, que foi de 7.150 quilos por hectare. Conforme a Conab, a diminuição em parte é considerada normal porque o incremento da produtividade na safra passada foi consequência do desempenho recorde do RS, que nesta safra semeou quase 30% da área fora do período recomendado pela pesquisa. 

Mas a redução de área e de produtividade poderá ser ainda maior, o que será conhecido quando estiver concluído o levantamento e a avaliação das perdas causadas pelo último alagamento ocorrido no dia 19 de janeiro. Já a produção nacional de arroz está estimada em 11.507.900 toneladas, reduzindo 8,7% em relação à safra 2008/2009, que foi de 12.602.500 toneladas. 

PERDAS PONTUAIS

Na análise do presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, o índice de quebra na safra gaúcha, estimado pela Conab em 13,4%, bate com as previsões iniciais feitas pelo Irga. “As estatísticas mostram que em anos de El Niño as perdas em produtividadedade variam de 10% a 13,5%”. 

De acordo com Fischer, os prejuízos mais significativos se devem ao fato da semeadura da safra 2009/2010 em mais de 30% das lavouras do RS ter sido concluída fora do período recomendado pela pesquisa em razão das condições climáticas desfavoráveis com chuvas em excesso, enchentes e enxurradas. Em outras palavras: o período ideal para o estabelecimento da cultura esgotou antes que os produtores conseguissem concluir a semeadura normal e o replantio das áreas perdidas por causa das adversidades climáticas. 

As perdas mais pontuais foram registradas na depressão central e no Vale do Caí, onde muitas lavouras sofreram quebra total. “Há casos de produtores que plantaram, replantaram três ou quatro vezes e acabaram perdendo tudo de novo”, diz Fischer. Felizmente, segundo ele, os outros 66% das lavouras puderam ser plantados na época correta e deverão alcançar índices de produtividade muito semelhantes aos obtidos em 2008/2009. 

Para o presidente do Irga, o que preocupa agora é a possibilidade da colheita ser realizada abaixo de chuvas, porque segundo a previsão os efeitos do El Niño deverão ir até maio. “Outro aspecto a ser levado em conta nesse contexto é a infraestrutura dos municípios produtores, sobretudo no que diz respeito ao estado das estradas, que é calamitoso nas regiões arrozeiras. São estas variáveis que fazem da safra 2009/2010 uma incógnita para todos os envolvidos na cadeia produtiva do arroz”, observa Fischer.

GUERRA DE NERVOS 

O impacto do El Niño na safra de arroz do Rio Grande do Sul também está servindo para testar os nervos de produtores e de entidades representativas do setor. A quebra na produção das lavouras de Cachoeira do Sul e das cidades da depressão central causou divergências no levantamento das perdas. 

Um levantamento do Irga/Cachoeira do Sul apontou um prejuízo de apenas 20%, ou seja, menos da metade do que os produtores já haviam calculado. Mas de acordo com os cálculos da União Central de Rizicultores (UCR) e da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz) foi apontado que as perdas na lavoura cachoeirense chegariam aos 50%. Com base neste índice, mais de R$ 100 milhões deixariam de circular na economia. No calor das discussões os produtores chegaram a ameaçar um boicote ao Irga. 

A situação só foi revertida a partir de um novo levantamento feito pelo Irga. A revisão identificou perdas que deverão ficar em 49,1% ao final da safra. De acordo com o coordenador regional do Irga, Jaceguay Barros, as perdas de 20% eram referentes à área plantada que já estava totalmente perdida e identificada. “Hoje, agregadas novas informações, já estão em 22,3% (8.814 hectares), isto conforme dados que continuam sendo pesquisados. Outra coisa é a perda estimada final, a qual continua em 11.150 hectares. A estimativa de perda de produção ao final da safra é de 49,1%. Essa estimativa envolve a avaliação de outros aspectos, como área não plantada, despesas com replantio, infraestruturas perdidas ou danificadas, redução de produtividade e redução de qualidade industrial”, argumentou Barros.

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