URGENTE: Índia suspende exportação de quebrados e taxa arroz branco e integral
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O governo da Índia, país que é o maior exportador mundial de arroz, com 21,5 milhões de toneladas embarcadas no ano passado, proibiu as exportações de arroz quebrado e impôs uma tarifa de 20% sobre as exportações de vários tipos do grão hoje, quinta-feira, 8 de setembro. A meta é aumentar a oferta interna e acalmar uma escalada nos preços locais após as monções com chuvas abaixo da média terem determinado uma redução na área de semeadura prevista para a sua principal safra.
A Índia exporta arroz para mais de 150 países, representa 40% do comércio mundial, e qualquer redução em seus embarques tende a aumentar a pressão sobre os preços dos alimentos globais dos alimentos, que já estão altos por causa da seca, ondas de calor na Ásia, Europa e América do Norte, e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A nova tarifa deverá desencorajar os clientes tradicionais do país asiático a fazerem compras no mercado indiano e direcioná-los aos rivais, que são Tailândia e Vietnã. Estes dois países também anunciaram um acordo para elevar os preços e o volume de embarques nesta temporada.
O governo da Índia excluiu o arroz parboilizado e o basmati da tarifa de exportação, que entrará em vigor a partir de amanhã, 9 de setembro.
Nova Délhi também proibiu a exportação de arroz 100%, que alguns países pobres da África importam para consumo humano, embora a variedade seja mais usada como pet food e para a composição de rações para animais em cadeias de produção de proteínas como aves, suínos e pecuária leiteira.
O imposto afetará os embarques de arroz branco e integral, que representam mais de 60% das exportações da Índia, segundo BV Krishna Rao, presidente da All India Rice Exporters Association (AIREA). A China é um dos primeiros países a ser afetado pelo corte do fornecimento, uma vez que tem comprado quebrados em grande escala do vizinho, muito embora as relações diplomáticas estejam estremecidas pela disputa de um território fronteiriço.
“Com este imposto, os embarques indianos de arroz se tornarão pouco competitivos no mercado mundial. Os compradores vão buscar alternativas e, num primeiro momento, mudar para a Tailândia e o Vietnã”, disse Rao.
A Índia responde por mais de 40% dos embarques globais de arroz e compete com Tailândia, Vietnã, Paquistão e Mianmar no mercado mundial.
Chuvas abaixo da média nos principais estados produtores de arroz, como Bengala Ocidental, Bihar e Uttar Pradesh, levantaram o governo indiano a preocupar-se quanto à manutenção de sua escala produtiva, seus estoques e os preços. Tanto que os dirigentes políticos anunciaram um plano de compras subsidiadas da produção local para estoques públicos que é recorde. O país já proibiu as exportações de trigo e restringiu os embarques de açúcar este ano.
Diante da ação, projeta-se que as exportações indianas do cereal cairiam pelo menos 25% nos próximos meses por causa do imposto agregado, disse Himanshu Agarwal, diretor executivo da Satyam Balajee, maior exportador de arroz da Índia.
Os exportadores querem que o governo não considere a validade da regra para os contratos de exportação já assinados, com os navios embarcando ou programados nos portos. “Os compradores não podem pagar 20% a mais sobre o preço acordado e nem mesmo os vendedores podem pagar a taxa. O governo deveria isentar os contratos já assinados”, disse Agarwal.
As exportações de arroz da Índia atingiram um recorde de 21,5 milhões de toneladas em 2021, mais do que os embarques combinados dos próximos quatro maiores exportadores mundiais do grão: Tailândia, Vietnã, Paquistão e Estados Unidos.
A Índia tem sido o fornecedor mais barato de arroz por uma margem enorme e isso protegeu países africanos como Nigéria, Benin e Camarões, em certa medida, de uma alta nos preços do trigo e do milho, disse um negociante de Mumbai com uma empresa de comércio global.
“Exceto o arroz, os preços de todas as culturas de alimentos estavam subindo. O arroz está se juntando ao rali agora”, disse ele. A proibição de embarques de arroz quebrado pode afetar gravemente as compras da China para fins de ração, disse ele.
A China foi o maior comprador de quebrados de arroz, com compras de 1,1 milhão de toneladas em 2021, enquanto países africanos como Senegal e Djibuti compraram quebrados para consumo humano.
Como isso impacta o Brasil?
A medida adotada pela Índia terá impacto imediato no mercado mundial. Os preços do arroz tendem a ganhar impulso nos mercados da Tailândia, Vietnã, Birmânia e Paquistão, num primeiro momento. Gradativamente, mantida a demanda e com uma provável busca mais ávida pelo grão para garantir o abastecimento de países na Ásia e África, deve ocorrer nova onda de retirada de tarifas alfandegárias e barreiras econômicas em países grandes importadores.
Por fim, esta onda deve alcançar Estados Unidos e o Mercosul. Os quebrados de arroz do Brasil são responsáveis por médias anuais próximas de 400 mil toneladas exportadas (em base casca) para a África, EUA e Europa. Estados Unidos e Europa com objetivo de produção de rações para cães e gatos, e para a África dirigida ao consumo humano, visando atender demanda por culinária regional.
No entanto, deve-se frisar que a Índia e o Vietnã são mais conhecidos no mundo do arroz por integrarem um rol de fornecedores da variedade Índica – o nosso longo fino – de baixa qualidade. Tanto que quase todo o volume das últimas importações realizadas pelo Brasil, em 2020/21, sob a retirada da TEC pelo governo federal, teve que ser direcionado para ração animal por causa do cheiro e do aspecto visual.
A notícia agita o mercado global, mas não se deve esperar uma reação imediata de alta vertiginosa. Ela será gradual. Mas, para a cadeia produtiva, é muito bem-vinda.
2 Comentários
Excelente notícia!!!
Porque será manter o preço local atrativo proibindo as exportações, provavelmente o consumo interno aumentou, como já havia falado, se a Índia aumentar consumo interno de arroz, faltará para o mundo, sem falar da segurança alimentar q é muito preocupante atualmente.