Uruguai confirma a sua segunda exportação de 30 mil t ao Iraque em uma semana
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Poucos dias depois de confirmar a venda de 30 mil toneladas de arroz branco (5% de quebrados) para o Iraque, ao preço médio de US$ 560/t FOB Montevidéu, para embarcar em julho, o Uruguai fechou nova carga com o mesmo volume, somando 60 mil toneladas a embarcar nos próximos 60 dias para o Oriente Médio. Desta vez, segundo informações extra-oficiais, o valor ficou em US$ 555/t FOB Montevidéu. A negociação aconteceu diretamente com a empresa privada que assumiu as compras no Iraque.
A venda faz parte da nova modalidade que o Iraque se comprometeu a comprar arroz. Antes era feito por meio de licitações e agora é feito por empresas privadas que entram no mercado e negociam diretamente. Até segunda ordem, não acontecerão mais concorrências internacionais promovidas pela autoridade iraquiana de alimentos.
Alfredo Lago, presidente da Associação de Cultivadores de Arroz (ACA), destaca que “houve uma demora de algumas semanas para fechar os negócios” e admite que a segunda carga estava, até o início da semana, mais no nível de esperança do que de comercialização concretizada. Na visão dos produtores, a nova modalidade de compra do Iraque deve dar mais fluidez aos negócios no curto prazo.
“O Uruguai é, por enquanto, o primeiro da América a vender seu arroz por meio desse novo mecanismo. É um destino que leva em conta a qualidade do grão, bem como a seriedade do fornecimento”, afirma o dirigente uruguaio.
Do ponto de vista dos produtores uruguaios, este negócio com o Oriente Médio ajuda a formar referência com vistas a negociar o preço provisório para a safra 2020/21, que a ACA iniciará na próxima quinta-feira, 24, com as usinas que financiam o cultivo. Até agora, a indústria vendeu mais de um terço do arroz produzido em uma safra com rendimentos recordes – mais de 1.300.000 toneladas de arroz em base casca foram produzidas com produtividade média de 9.445 quilos por hectare – ajudado pelo clima e pelo avanço tecnológico.
O nível de vendas dá força à negociação entre as duas partes e os produtores estão em jogo para fazer novas vendas que permitam chegar a 40% da produção comercializada em curto prazo.
O acordo anterior com o Iraque era de 60 mil toneladas, embarcadas em dois navios que partiram em abril e maio. Até então, fazia um ano que o arroz uruguaio não era vendido para este destino. “Na licitação anterior, o Uruguai competiu com Argentina, Brasil e Paraguai e ofertou a preço mais alto e ainda assim a venceu, o que prova o reconhecimento da qualidade do produto, a seriedade das certificações do país e o estrito cumprimento de cada negócio que realiza a indústria”, enfatiza Lago.
A demanda pelo cereal foi auxiliada pela pandemia de Covid-19, pois retirou do mercado mundial grandes fornecedores que buscavam preservar seus estoques. Esse espaço foi rapidamente ocupado por outros licitantes, dentro de um quadro de mercado mais exigente.
Preocupação
A exemplo de outros setores de exportação, o arrozeiro está preocupado com o aumento dos fretes e principalmente com o aumento do valor das operações com contêineres. “Existe uma preocupação em todo o setor de exportação, que é o aumento do custo do frete, não só ao nível dos contêineres, mas também ao nível do granel em navios. Por isso, com o preço que os contêineres estão tendo hoje e as dificuldades em obtê-los, certamente o Uruguai está orientado a fazer negócios por meio de granéis”, estima Lago. Para ele, certamente, alguns países do Caribe ou da América Central surgirão como um mercado ativo num futuro próximo. (Com Pablo Antunez, Rurales El País)
ENTREVISTA
O presidente da ACA, Alfredo Lago, que é nascido no Brasil, mas tem cidadania uruguaia onde vive há décadas, também conversou com Planeta Arroz esta semana e enfatizou a relevância de, após uma ótima safra, o Mercosul posicionar-se para realizar rendas estratégicas diante de seu excedente produtivo. Acompanhe:
Planeta Arroz – Presidente, uma nova venda do arroz uruguaio a um cliente do porte do Iraque, que é grande importador de grão de qualidade superior, é relevante para o Mercosul?
Alfredo Lago – Sim, e ganha especial relevância por se tratar de uma nova modalidade de negócios. O Iraque não fará mais concorrências internacionais por meio do governo, mas pelas empresas privadas que assumiram este mercado. O Uruguai saiu na frente por sua tradição, qualidade e credibilidade no mercado internacional. É uma operação importante não apenas para o mercado uruguaio, mas para todo o Mercosul.
Planeta Arroz – Em função da nova safra, que teve recordes de produtividade?
Alfredo Lago – Também por isso. Precisamos escoar os excedentes de nosso mercado e aproveitar as oportunidades para isso, mas a importância é maior ainda porque somos um bloco que tem qualidade a oferecer e disputa com os Estados Unidos a liderança como grande fornecedor do grão para os mercados fora da Ásia. Além das Américas, da União Europeia e da África, poder atender o Oriente Médio é um grande passo para mantermos esta posição, mas também para assegurar um equilíbrio de preços e, em última instância, a remuneração dos agricultores.
Planeta Arroz – Até porque os custos estão subindo…
Alfredo Lago – Sim. Tivemos um ano muito bom de comercialização em 2020, infelizmente em função da pandemia, mas com preços mais atraentes e remuneradores. No rastro disso veio também uma alta significativa dos insumos, que ainda não pararam de subir e devem se manter nesta trajetória até o próximo plantio.
Planeta Arroz – A formação de preços no Uruguai é diferente do Brasil?
Alfredo Lago – Sim. Aqui a definição dos valores se dá por negociação entre produtores, governo e indústria. As movimentações são muito transparentes, pois dependemos muito das exportações. Produzimos 1,3 milhão de toneladas e consumimos menos de 100 mil, pois somos um país de 3,5 milhões de habitantes. Então, é com base no que exportamos – e nos valores dessa exportação – que são definidos os valores finais da remuneração da matéria-prima. Os valores de 2020/21 deverão ser muito bons, mas já houve temporadas em que os arrozeiros precisaram devolver dinheiro à indústria porque o preço provisório foi maior do que o preço final. No caso de não haver acordo, o governo serve como ente conciliador.