Vilões no ano passado, alimentos agora seguram a inflação

Na última pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de maio na comparação com abril, os alimentos que pesavam no carrinho do supermercado em 2008 passaram a deixar a conta mais leve com um recuo expressivo de preços.

O preço dos alimentos esteve no foco da inflação ao longo de 2008, com fortes altas, especialmente em produtos como milho, trigo, arroz, carne e hortaliças. Mas agora, em 2009, os índices apontam um movimento inverso: os preços dos alimentos têm forte queda, muitas vezes até segurando a inflação.

Na última pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de maio na comparação com abril, os alimentos que pesavam no carrinho do supermercado em 2008 passaram a deixar a conta mais leve com um recuo expressivo de preços. O feijão merece destaque: no mês passado, o preço do feijão preto recuou 10,75%, enquanto o carioca caiu 6%. O arroz, outro vilão dos preços altos no ano passado, ficou em média 2,30% mais barato em maio. A inflação média registrada no período foi de 0,47%.

A técnica dos Índices de Preço do IBGE Irene Machado destaca que, enquanto estes alimentos fecharam o ano de 2008 com forte alta, os seus preços acumulam queda neste ano até maio.

– O feijão carioca subiu 29% no ano passado, e o preto ficou 65% mais caro. Neste ano, o carioca já tem uma queda de 25% nos preços, e o preto recua 29%, pelo IPCA – explica.

O arroz, segundo ela, segue o mesmo caminho. Neste ano, o preço já cai 8,5%, depois de subir 33,95% em 2008.

Os valores cobrados no ano passado estavam “inflados”, segundo Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) Brasil, calculado pela Fundação Getulio Vargas.

– Os alimentos seguraram a inflação entre 2005 e 2006, viraram vilões em 2007 e atingiram o auge dos preços em 2008 – explica.

Para ele, ao longo deste ano os preços estão em um patamar “mais normal”.

O pesquisador na área de socioeconomia da Embrapa Arroz e Feijão Alcido Elenor Wander afirma que, até o ano passado, o comportamento dos preços do arroz passaram por uma situação “completamente atípica” e, desde então, já caíram bastante, retornando atualmente a patamares próximos aos vistos em 2005 e 2006.

– Os estoques de arroz no mercado internacional caíram, o que elevou os preços. Com essa valorização, muitos países passaram a produzir arroz, o que está ajudando a recompor os estoques e, aos poucos, a reduzir os preços.

Crise reduziu preços

Pichetti, da FGV, explica que entre as causas da alta do ano passado estão o aumento na demanda externa somado a um forte movimento especulativo que elevaram os preços agrícolas. Este movimento, segundo ele, começou a partir de 2007.

– Com a crise mundial, houve queda na demanda, redução do movimento especulativo, e, consequentemente, redução no preço das commodities agrícolas – afirma.

– E esse movimento tem reflexo nos preços ao consumidor.

Mas esses fatores, segundo ele, influenciaram na cotação dos produtos que têm preços dependentes do mercado internacional. Este é o caso do arroz, trigo, milho e da carne, por exemplo.

– No caso de hortaliças, legumes e frutas, a oscilação de preços acontece em função da demanda interna – explica.

Isso foi o que ocorreu com o feijão, segundo Wander, da Embrapa. Ele destaca que, no caso do carioca, os preços são formados exclusivamente por fatores internos, uma vez que ele só é produzido no Brasil e o consumo também é totalmente interno.

– Antes da alta dos preços, houve uma quebra de safra que reduziu a oferta e causou aumento nos preços – diz.

Irene, do IBGE, acrescenta que o feijão preto é produzido fora do País, e por isso pode ser importado em caso de queda na oferta ou forte aumento da demanda.

– Às vezes, com a alta no preço do carioca, o mais consumido no Brasil, a população acaba substituindo pelo preto – afirma, o que, segundo ela, pode acabar causando uma reversão nos preços, aliviando a alta do feijão carioca e pressionando o preto.

Atualmente, os preços do feijão cobrados pelo produtor estão baixos a ponto de desestimularem a produção, na opinião de Wander, da Embrapa.

– Esta redução demora a chegar ao consumidor, então no supermercado o efeito não é tão intenso, mas a redução fez muitos agricultores desistirem de produzir feijão nesta safra – diz.

Por isso, a oferta deve diminuir e ele acredita que haverá um ligeiro aumento para o segundo semestre.

– Mas não se espera nenhum pico de preços, a não ser que haja algum efeito climático não esperado – afirma.

Confira como os preços baixos do feijão estão afetando os produtores

Já no caso do arroz, Wander acredita que a tendência é de queda por mais um período, seja por causa da recomposição dos estoques, seja pelo desaquecimento da economia mundial.

– Tanto que, no Brasil, o governo reajustou os preços mínimos da quantidade de arroz que compra, para estimular o produtor – explica.

Para Picchetti, os preços dos alimentos, de maneira geral, atingiram uma certa estabilidade e devem se manter nos patamares atuais.

– O Brasil chegou a um piso no nível da atividade, houve uma correção nos preços das commodities e a tendência é de que os preços permaneçam como estão hoje – acredita.

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