Xavantes decidem plantar arroz no MT rumo à independência
Além de utilizar como alimento para a própria subsistência, a comunidade também comercializará o produto, conquistando recursos para todos os membros.
Os povos indígenas xavantes da terra indígena Sangradouro, em Primavera do Leste, deram no último dia 12 o primeiro passo rumo à independência, iniciando o processo de preparação da terra para o plantio do arroz. Além de utilizar como alimento para a própria subsistência, a comunidade também comercializará o produto, conquistando recursos para todos os membros.
A iniciativa faz parte do projeto Independência Indígena, lançado no ano passado, e prevê a disponibilização de ferramentas para que os membros da comunidade produzam seu próprio alimento para subsistência e, posteriormente, para comercialização.
O projeto Independência Indígena é resultado de uma parceria entre o Governo de Mato Grosso, o Sindicato Rural de Primavera do Leste e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Ao todo, 2.700 mil xavantes serão beneficiados. Eles fazem parte de 57 aldeias situadas na terra indígena que abrange os municípios de Primavera, Poxoréu, General Carneiro e Novo São Joaquim. A área a ser utilizada para o plantio é de 999 hectares.
A segunda fase de gradeamento será iniciada nos próximos dias e a previsão é que a colheita do arroz ocorra em até três meses. No local também haverá plantação de milho e feijão, conforme explicou o cacique e presidente da cooperativa indígena da Grande Sangradouro e Volta Grande, Gerson Warawe.
"Nossa maior expectativa com esse plantio é mostrar para o mundo que a gente é capaz de produzir e ser independente, sem precisar buscar recursos na cidade. Tivemos algumas dificuldades no início, mas futuramente por meio dessa lavoura mecanizada alcançaremos o nosso progresso sem provocar o desmatamento ou danos ao meio ambiente ou ao ser humano", disse.
De acordo com o superintendente de assuntos indígenas da Casa Civil, Agnaldo Santos, esta etapa marca uma nova fase na realidade do povo indígena em Mato Grosso. "Superamos toda a parte burocrática após a autorização da Funai, autorização do Ibama e Ministério Público Federal de Barra do Garças. Além de auxiliá-los na questão do plantio, também estivemos na região para distribuir cestas básicas por meio do programa Vem Ser Mais Solidário […]. Este é o momento em que terão a oportunidade de produzir para comer e depois vender", explicou Agnaldo.
O líder da comunidade Sangradouro, Bartolomeu Partira, destaca que a plantação para a subsistência é necessária para que a comunidade indígena se mantenha nos próximos anos e a atividade não interferirá na preservação da cultura e da tradição.
"O plantio permitirá independência econômica para todas as aldeias. Ouvimos várias vezes que o índio, não quer trabalhar, mas isso não é verdade. Se nós temos terra, é preciso trabalharmos nela e contribuir também com o desenvolvimento do Brasil. Nesse mundo moderno precisamos mudar a nossa vida, sem deixar a cultura, cerimônia e rituais do nosso povo”, afirmou Batolomeu.
O Sindicato Rural de Primavera vem auxiliando com maquinários e orientações sobre a forma correta de produção. "Além do desenvolvimento econômico de forma integrada, contribuímos para o desenvolvimento pessoal de cada um deles. O sindicato auxiliou com o levantamento de receita para constituição dessa cooperativa que foi aportada pelos produtores rurais e não desistimos, mesmo em meio a dificuldades que surgiram para que chegássemos até aqui", contou o gestor administrativo do Sindicato Rural de Primavera, Renato Cozanelli.
Ary Ferrari é produtor rural em uma área próxima às aldeias e destacou as dificuldades da população indígena, que hoje se mantém com ajuda de programas sociais.
“A nossa convivência é muito boa, eles cuidam da roça vizinha. As crianças passam muita necessidade e decidimos ajudar. Na aldeia Parecis esse projeto já está acontecendo e melhorando a qualidade de vida deles”.