10 toneladas no horizonte da produtividade do arroz

A produtividade de arroz irrigado, nas últimas décadas, tem uma trajetória ascendente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina pela utilização de variedades com alto potencial produtivo e uso apropriado de insumos e tecnologias modernas. No entanto, há consciência de que os índices obtidos estão abaixo do patamar que poderia ser alcançado. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o potencial produtivo das oito variedades de arroz irrigado lançadas pela pesquisa nas últimas décadas, e cultivadas em mais de 90% da área, é superior a oito toneladas por hectare, representando mais de 32% em relação ao resultado obtido nas lavouras.

Para reduzir estas brechas de produção, propostas de adequação de manejo estão ganhando forma no Rio Grande do Sul. Uma delas é o Projeto 10.

 

Semeadura

A época de semeadura deverá ser planejada em função das temperaturas baixas durante a fase reprodutiva da cultura e como meta para alcançar uma maior produtividade, fazendo coincidir a fase de acumulação de fotoassimilados com os meses de maior luminosidade e temperatura. Semeaduras tardias normalmente não proporcionam altos rendimentos quanto às semeaduras do cedo. A semeadura deve iniciar tão logo as temperaturas do solo sejam adequadas para a germinação das sementes. A época ideal para Dom Pedrito e região é até 10 de novembro. Temperaturas do ar baixas na fase de estabelecimento, durante os meses de setembro e outubro, ou na fase reprodutiva, nos meses de fevereiro e março, afetam negativamente a produtividade da lavoura gaúcha. Materiais genéticos com maior capacidade de tolerar o frio na fase de cultivo permitiriam antecipar a implantação das lavouras, possibilitando usufruir os benefícios da temperatura e radiação solar de novembro, dezembro e janeiro.

 

Arroz Vermelho

Para alcançar os máximos rendimentos, as lavouras devem crescer livres de plantas daninhas. As lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul estão altamente infestadas. A interferência destas invasoras é um dos principais limitantes à produtividade e rentabilidade da cultura. Dentre as espécies daninhas, o arroz vermelho merece um destaque especial, por estar disseminado em quase toda a área cultivada do RS. As alternativas de controle desta infestante são somente parciais e estima-se uma redução anual de produção em torno de 1,2 milhão de toneladas por safra. Além dos prejuízos causados pelo arroz vermelho, este não permite adoção de determinadas práticas agronômicas fundamentais para alcançar altos rendimentos, como, por exemplo, a adubação nitrogenada. Para que o estado altere o atual teto de produtividade é necessário reduzir a infestação de arroz vermelho de suas lavouras.

 

Plantas daninhas

Com relação às plantas daninhas, na quase totalidade da área os produtores utilizam o controle químico e o mercado oferece alternativas eficientes. No entanto, como em muitas áreas os produtores atrasam o controle, o resultado é um custo maior com herbicidas e uma redução no rendimento de grão. Antes do estádio de afilhamento o controle de plantas daninhas já deve ter sido feito.

 

Irrigação

De um modo geral, a lavoura de arroz do Rio Grande do Sul atrasa o início da irrigação. Além do que, os produtores costumam dar um ou dois “banhos” para o arroz perfilhar até estabelecer a irrigação definitiva. O atraso na irrigação interfere negativamente na produção. Os melhores rendimentos têm se obtido com o início da irrigação logo após o controle precoce das plantas daninhas e quando as plantas de arroz tenham altura suficiente para suportar uma lâmina de água permanente (4-5 folhas) até a drenagem para a colheita (estádio grão pastoso).

A irrigação logo após a aplicação dos herbicidas interage com a ação destes produtos, evitando o rebrote das espécies daninhas ou a emergência de novas plantas. Outro fator importante a lembrar é que a disponibilidade de nutrientes na solução do solo aumenta com a inundação. Por isso, quanto mais cedo iniciar a irrigação, mais prontamente as plantas de arroz poderão usufruir deste benefício.

 

Adubação

Para que a lavoura de arroz irrigado do RS rompa o atual patamar de produtividade (5,4 toneladas/hectare), é preciso mudar a atual estratégia de adubação utilizada. Para uma adequada adubação, visando atingir o patamar de sete toneladas/hectare ou mais, será necessário considerar, além da análise de solo, o histórico da área cultivada e a quantidade de nutrientes disponíveis e removidos pela cultura. Caso os nutrientes não estejam disponíveis ou abaixo das necessidades das plantas, o potencial desejado não será alcançado.

Além disso, é necessário considerar a interação da nutrição de plantas com as demais práticas agronômicas, tais como época de semeadura, controle de plantas daninhas e manejo de água. De um modo geral, as plantas daninhas utilizam melhor os recursos disponíveis do que as culturas. Por isso, se não houver um bom controle de invasoras, a resposta à adubação será baixa ou até terá reflexos negativos sobre a produção. A disponibilidade de nutrientes na solução do solo aumenta com a inundação das áreas.

 

Nutrição da planta

Tão importante quanto adubar é ter os nutrientes disponíveis nos momentos fundamentais para o desenvolvimento e crescimento das plantas. Sempre que possível, deve-se colocar toda a adubação de base por ocasião da semeadura. Já a adubação nitrogenada deve ser feita segundo os estádios de crescimento da planta em duas aplicações.

O nitrogênio deve estar disponível para as plantas em quantidade suficiente nos estádios de crescimento em que são definidos os componentes do rendimento. Após a definição do número de panículas e o número de espiguetas, esta prática será pouco eficiente.

 

Época

De pouco valem os investimentos em adubação se a semeadura não for na melhor época. Toda a estratégia de manejo, da mais simples a mais complexa, deve considerar os momentos fundamentais de definição dos componentes do rendimento e que, embora existam algumas práticas que interferem mais diretamente com o desenvolvimento e crescimento da cultura, o resultado final é fruto da interação de todas elas – manejo integrado do cultivo. Para semear na época mais adequada é necessário contornar os problemas decorrentes da drenagem deficiente das várzeas causados pelas precipitações pluviais elevadas que ocorrem durante o inverno e a primavera. Para tanto, é preciso melhorar a drenagem das lavouras e adotar sistemas de cultivo que dependam menos das condições do ambiente para realização da semeadura, tais como o pré-germinado e a semeadura direta.

 

Outras dicas

1. Melhor período de plantio: 20 de outubro a 11 de novembro. É fundamental plantar na época certa: o período reprodutivo da planta tem que coincidir com maior disponibilidade de radiação solar. Dezembro é o mês de maior radiação, seguido de novembro e janeiro. Portanto, não adianta usar adubo e uréia para produzir mais se o limitante é luz.

2. Com a ocorrência do El Niño, que os produtores já sabiam antecipadamente, o solo deveria ter sido preparado ao máximo possível. O ideal é que 40% a 60% da área esteja pronta até outubro.

3. É fundamental aprontar antecipadamente a drenagem, as estradas e o restante da estrutura.

4. Nos sistemas de plantio direto ou cultivo mínimo, é importante realizar o preparo antecipado com bom entaipamento. Tem que observar o leiveiro para não torná-lo área perdida. Antecipando o preparo, o leiveiro se reconstitui. O atraso reflete em menor eficiência do produto, pois o inço está mais forte. Desta forma, é preciso aplicar dose ou reaplicar.

 

Expansão

O Projeto 10 ganhou repercussão estadual no seminário “Lavoura em evolução”, realizado em junho em Dom Pedrito. Após conhecer as práticas utilizadas, arrozeiros de outros municípios começaram a pedir a expansão do projeto ao Irga. Segundo o gerente do Irga em Dom Pedrito, Eloy Cordeiro, as orientações serão incluídas em futuro programa com as mesmas diretrizes, mas novo formato, para as demais regiões do estado.

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