Casca estabiliza em baixa no RS, mas com argumentos de alta

Arroz chegou a perder R$ 1,00 por saco no Rio Grande do Sul nos últimos 10 dias, mas a cadeia produtiva aposta em recuperação a partir de segunda-feira.

Confirmando a tendência divulgada por Planeta Arroz na última terça-feira, os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul mantiveram-se estabilizados em baixa esta semana. Em algumas regiões, a queda chegou a R$ 1,00 por saco de 50 quilos, mas na maior parte do estado, as cotações recuaram em torno de R$ 0,50/saco.

A primeira sinalização ocorreu em Cachoeira do Sul, que passou a trabalhar com preços na faixa de R$ 33,00 para o saco de 50 quilos com 60% de inteiros, uma queda de R$ 1,00 diante das cotações da semana passada, quando o mercado esteve praticamente inoperante.

Na Zona Sul os preços seguiram a tendência de declínio no início da semana e estabilizaram-se no mesmo patamar da Depressão Central. Mesmo assim, não houve demanda maior pelo produto em casca ou beneficiado, demonstrando que o mercado, atingido em cheio por questões externas, como oscilações cambiais e a estagnação de duas semanas no mercado da soja, manteve-se em compasso de espera.

As demais regiões gaúchas, principalmente Fronteira-Oeste e Depressão Central, ainda resistiram na faixa dos R$ 33,50 para o mesmo tipo de arroz, mas com muitas indústrias fora do mercado comprador e mesmo atacadistas paulistas e empacotadoras não realizando negócios a espera de uma queda de preços. No Litoral Norte, mesmo com poucos negócios, os preços seguiram firmes.

Interferem, ainda no mercado gaúcho, os anúncios de uma safra recorde no Brasil e a confirmação da maior safra da história no Rio Grande do Sul, os problemas com o mercado da soja, que lentamente volta à sua normalidade, e o ingresso de produto do Mercosul. Uma estimativa oficial de estoque final acima de 1,5 milhão de toneladas ajudou a tumultuar o mercado nos últimos dias.

CENÁRIO

O cenário do mercado do arroz, no entanto, tende a mudar já para a próxima semana, segundo importante evento ocorrido ontem na 13ª Fenarroz. O Seminário da Sala de Agronegócios de Cachoeira do Sul reuniu todos os elos da cadeia produtiva na Fenarroz para debater mercado e tanto produtores quanto indústria, agentes financeiros e demais entidades integradas à cadeia, concordaram em trabalhar com números que consideram “muito próximos da realidade”.

A safra brasileira, segundo consenso da Federarroz, Farsul, Irga, Emater/RS e outras entidades, deverá ficar em torno de 12,1 milhão de toneladas, com um estoque final de um milhão de toneladas, o equivalente a menos de um mês de consumo que será pulverizado dentro do ano e nos diversos segmentos (do produtor ao consumidor).

Para o diretor da Federarroz e colunista da Revista Planeta Arroz, Marco Aurélio Marques Tavares, que representou ainda a Farsul e o Irga no evento, não há motivos de queda nos preços do arroz diante destes números finais de safra. “A própria Conab já reconheceu que seus dados não levaram em conta perdas significativas no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste”, afirmou.

Segundo Tavares, os preços de paridade do mercado interno com o internacional, no momento, ficam entre R$ 34,00 e R$ 35,00 (FOB). “Hoje, um dos principais fatores determinantes de preço no mercado interno é o mercado externo, que apresenta cotações em alta, principalmente no produto em casca”, destacou.

Segundo ele, o estoque final de 1 milhão de toneladas, que é o dobro do ano passado, significa apenas que o mercado estará mais calmo e abastecido em 2004, com preços fluindo entre as médias de 2003 e, até, um pouco acima. “Isso, em hipótese alguma, sinaliza para uma oferta descontrolada”, garante.

ACORDO

Um novo acordo no Mercosul será costurado para garantir um fluxo ajustado de entrada de produto no Brasil. Segundo o presidente do Irga, Pery Sperotto Coelho, historicamente o Mercosul vende 70% de sua produção para o mercado internacional e 30% divide-se entre o Brasil e o consumo interno. Pelos cálculos de Coelho, há nos demais países do Mercosul um estoque na ordem de 1,5 milhão do qual parte poderá ingressar no mercado brasileiro.

“Quando há frustração de safra no Brasil, vale a pena para eles ingressar com valores maiores no nosso mercado, o que nesta safra não se justifica pelo viés de alta nos preços internacionais, que tornam-se mais compensadores”, analisa o dirigente arrozeiro.

Uma nova rodada de negociações entre os produtores gaúchos, uruguaios e argentinos deve ocorrer nos próximos dias, reafirmando o pacto de vendas somente a partir de um patamar remunerador para a atividade. Assim, o estoque do Mercosul é fator de grande importância para manter a normalidade das cotações no mercado interno brasileiro.

Ainda segundo Pery Sperotto Coelho, do Irga, não haverá pressão significativa de oferta para o pagamento de custeio. “O volume de recursos necessário para que os produtores possam honrar com o pagamento das parcelas do custeio equivale a 30% do produto comercializado por mês no Rio Grande do Sul, um número pouco significativo dentro do atual quadro de comercialização”, garantiu.

Marco Aurélio Marques Tavares, da Federarroz, informa que apenas 20% do total de recursos disponibilizados pelos agentes financeiros oficiais para a realização de EGFs, CPRs e outros mecanismos de comercialização pelos produtores foram convertidos em contratos até o momento. Ainda há 80% dos recursos disponíveis, o que é uma excelente alternativa à venda, se o produtor precisar de dinheiro.

TRANQÜILIDADE

Pery Sperotto Coelho garantiu que com base nestes números, a cadeia produtiva gaúcha não deverá se atirar ao mercado para ofertá-lo. “Os números nos indicam que não há motivos para susto ou queda de preços neste momento”, afirmou.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado, Alfredo Treichel, concorda parcialmente com os números apresentados em Cachoeira do Sul ontem pela cadeia produtiva do arroz. Em sintonia com os arrozeiros ele afirmou que o estoque final não passará de 1,3 milhão de toneladas, dependendo do ingresso de produto do Mercosul. “A indústria é parceira do produtor para manter os preços acima dos patamares atuais”, frisou. Segundo ele, a margem de lucro da indústria gira ao redor de 5% e que o setor, obviamente, prefere ganhar 5% sobre um valor maior.

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