Safra de arroz sofre redução em até 70% em Iguatu (CE)
A previsão foi feita pelo Centro de Atendimento ao Cliente (Ceac) da Ematerce.
A safra de verão de arroz irrigado de 2006 sofrerá uma redução de 70%, no Município de Iguatu, no Ceará. A previsão foi feita pelo Centro de Atendimento ao Cliente (Ceac) da Ematerce. O índice é elevado e revela uma crise crescente a cada ano que o plantio de arroz vem enfrentando na região. De acordo com os técnicos e produtores, três fatores contribuem para o abandono da cultura: escassez de água, elevado custo de produção e baixo preço do produto.
O Município de Iguatu na década de 1990 destacou-se no Ceará por apresentar uma das maiores áreas do Ceará de produção de arroz irrigado, cuja plantio e colheita acontecem no segundo semestre. As várzeas das lagoas, dos rios Jaguaribe e Trussu e a bacia do Açude Orós são importantes núcleos produtivos, de geração de emprego e de renda para o campo. Em face das dificuldades, a cada ano, vem ocorrendo a redução do plantio da cultura de arroz.
Na bacia do Açude Orós, a crise verificada na cultura de arroz é crescente a cada ano.
– O custo da tarifa de energia elétrica, adubo e inseticida é alto – reclama o produtor Marconi Chagas da Silva, na localidade de Cajás, no distrito de Alencar, na zona rural de Iguatu.
No ano passado, ele plantou dez hectares, mas neste ano somente três. Os agricultores também reclamam do preço do produto, que nesta semana foi vendido, em média, por R$ 25,00, a saca de 60 quilos.
– Deveria ser pelo menos, R$ 35,00.
Além desses fatores, a água do Açude Orós, neste ano ficou distante das áreas de cultivo na localidade de Cajás.
– Seria necessário um serviço de implantação de um canal provisório para facilitar a chegada da água aos pontos de produção – explicou Marconi da Silva.
Ele e outros produtores solicitaram apoio da secretaria de Agricultura do município.
Esse trabalho já foi feito em alguns anos pela Prefeitura. Precisa ser novamente realizado – destacou.
A bacia do Orós, que banha os municípios de Iguatu e Quixelô, já foi uma das maiores áreas de produção de arroz irrigado da safra de verão, que é feita no período de junho a dezembro. Somente em Iguatu, nas localidades de Cajás, Serrote, Várzea Grande, Carrapicho e Santa Rosa, estima-se que mais de 500 pequenos agricultores cultivem o produto. O número total de produtores que trabalham nos três municípios é superior a 1500.
Neste ano, a redução da área de plantio vai provocar o crescimento do desemprego da mão-de-obra temporária que é utilizada nas vazantes de arroz.
– Por aqui pouca gente está plantando – disse o trabalhador rural, Antônio Amorim.
– O custo da energia está acabando com a gente.
Amorim também reclamou do distanciamento da água na bacia do Açude Orós.
O gerente do Ceac, em Iguatu, Antônio Pereira de Souza Neto, observa que a cultura do arroz requer elevado consumo de água.
– Neste ano, as chuvas foram de pouca intensidade e não houve recarga dos açudes e lagoas – observou.
– O arroz é uma cultura perdulária de água – prosseguiu.
A lagoa do Barro Alto importante área de plantio de arroz está totalmente seca. O mesmo ocorre nas lagoas do Quixoá, Baú, Saco e Iguatu. O temor é a falta de água nessas áreas até mesmo para o consumo humano.
Geralmente, o plantio de arroz nas várzeas do Iguatu começa a partir de julho e a colheita geralmente é feita até o mês de dezembro, quando a partir deste mês deve começar um novo ciclo de cheia dos açudes, lagoas e dos leitos dos rios. O reflexo da redução da área de plantio pode ser notado no escritório local da Ematerce. Até agora só foram encaminhados seis projetos de financiamento para o custeio da cultura de arroz.
– Em anos anteriores, nessa época, o número de projetos chegava a uma média de 100 – disse Antônio Pereira Neto.
Os produtores de arroz reclamam da falta de uma política agrícola para o setor. A maioria reivindica redução na tarifa de energia elétrica para irrigantes e compra da safra para manutenção de um preço mínimo. Por outro lado, técnicos mostram que a revitalização da cultura de arroz passa por pesquisas para a descoberta de novas variedades que ofereçam aumento da produtividade e a implantação de tecnologias modernas de plantio.