Cautela no plantio de arroz no RS

A escassez hídrica ameaça a lavoura arrozeira no Rio Grande do Sul
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A falta de chuvas nas regiões produtoras de arroz está comprometendo o plantio – que começa a ser preparado – e pode reduzir o volume de grãos na próxima safra. No ano passado, segundo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), 1 milhão de hectares foram destinados ao cultivo do grão no Estado. Neste ano, o número deve cair.

– Tem de chover acima do normal para recuperar as barragens. Caso as previsões meteorológicas se mantenham, teremos uma redução de 5% de área plantada – prevê Maurício Miguel Fischer, presidente do Irga.

Se a projeção se confirmar, pelo menos 50 mil hectares deixarão de ser cultivados. A produção, que na última safra chegou a 6,8 milhões de toneladas, deve ser, no mínimo, 5% menor. A queda vai representar uma diminuição de 340 mil toneladas na próxima colheita. É como se todo o arroz plantado em Santa Vitória do Palmar no ano passado – terceiro maior produtor gaúcho – deixasse de ser colhido.

O produtor Rodrigo Rosina, de Uruguaiana – município com maior produção do cereal no Estado – plantou 200 hectares em 2005. Neste ano serão 180 hectares.

– Se chover dentro do previsto, não conseguirei nem plantar essa área – lamenta.

Além da seca, os preços pagos pelo produto intimidam investimentos. Para produzir uma saca de 50 quilos, o agricultor gasta, em média, R$ 27, mas, na hora de vender, acaba recebendo entre R$ 19 e R$ 20.

– As políticas públicas do governo não chegaram ao bolso do produtor. Ficaram só na teoria – critica o arrozeiro César Maciel, de Livramento.

Em Dom Pedrito, na Campanha, a área de 46 mil hectares pode diminuir drasticamente. De janeiro até o início deste mês choveu 30% menos do que a média histórica para o período. Quem depende de barragem para produzir está cauteloso quanto ao plantio. Se não houver precipitação forte nos próximos dois meses, haverá uma redução de até 40% na área plantada.

– A situação é muito difícil. Temos poucas reservas de água, esperaremos até setembro para ver o que acontece – diz o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado, Valter José Pötter.

Para o arrozeiro Frederico Wolf, de Dom Pedrito, haverá mudanças no campo. A área de 600 hectares cultivada na propriedade em 2005 vai diminuir. Este ano, o arroz ocupará 450 hectares – 25% menos:

– Vamos destinar os outros 150 hectares a pastagens, sorgo e soja.

O produtor deve ter um custo 10% maior neste ano por causa dos gastos com energia elétrica e manutenção de equipamentos que levam água de um rio para uma das barragens, que está com apenas 15% da capacidade. A esperança dos arrozeiros é de que uma safra mais magra represente preços melhores.

E não é só o campo que sofre os efeitos da falta de chuvas, a cidade também vive dias de expectativas. Em uma revenda de máquinas e implementos agrícolas de Santana do Livramento o jeito foi mudar o foco das vendas.

– Estamos apostando nos pecuaristas, é para eles que estamos vendendo a maior parte de nosso maquinário – informa Nilto Albornoz Júnior, diretor de uma revenda de máquinas e implementos agrícolas do município.

A prefeitura de Dom Pedrito, município que tem no arroz a principal atividade econômica, faz contas para manter a casa em ordem. Dos R$ 322 milhões arrecadados em impostos em 2005, R$ 123 milhões, ou 38% do total, têm origem no cereal.

A diminuição da área vai representar uma perda de, no mínimo, R$ 2 milhões na arrecadação do município.

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