Chuva prejudica arroz gaúcho
Acostumadas a sofrer com a estiagem, lavouras de arroz desta vez foram prejudicadas pelo excesso de água. Em alguns lugares, a perda chegará a 50% .
Nos últimos três anos, a seca durante o verão trouxe grandes prejuízos para muitos agricultores da região, que tiveram perdas na produção. Este ano, está ocorrendo justamente o contrário com o clima. Desta vez, é o excesso de chuva que vem tirando o sono dos produtores.
Somente na primeira quinzena de março, já choveu mais que a média histórica do mês. Tanta chuva tem atrapalhado a colheita do arroz e até mesmo destruído parte de algumas lavouras perto de rios, em locais de risco de inundação. O aumento da umidade também ocasionou, em algumas cidades da região, um surto de ferrugem asiática, praga que ataca a soja e compromete o desenvolvimento da planta.
O agricultor Leandro Savian, 32 anos, que planta arroz na localidade de Canabarro, em Boca do Monte, deve amargar por causa da chuva uma perda de mais de 50% na lavoura da família nesta safra. Em novembro, ele, o pai e o irmão plantaram cerca de 32 hectares de arroz e esperava colher 5 mil sacos de 50 quilos, a partir de abril. Mas a grande quantidade de chuvas no início do mês fez com que a água do Rio Ibicuí invadisse boa parte da lavoura, afetando a criação do grão.
– Choveu três dias seguidos e era tanta água com a enchente que dava até para andar de barco em cima da lavoura. Não é fácil ver tanto serviço perdido. Meu pai ficou desacorçoado. Vamos ter de diminuir a área plantada no ano que vem. Não vale mais a pena arriscar plantando perto do rio – lamentou Savian, mostrando as plantas encharcadas.
A família costuma vender arroz para cooperativas de Santa Maria e São Pedro do Sul. Nos planos para 2007, estava usar o dinheiro da venda do arroz para comprar um silo. Com a perda na produção, Savian teve de adiar o investimento.
– Tivemos de desistir do silo. Sobrou para colhermos apenas o arroz plantado na parte alta, onde não pegou água. Dos 5 mil sacos que imaginávamos colher, vai dar só uns 2 mil. Chuva é bom, mas não pode ser demais. Tudo tem limite – lamenta.
DIÁRIO DE SANTA MARIA
Veja quanto choveu no ano em Santa Maria
Janeiro 163,9 milímetros (média é de 145,1 milímetros)
Fevereiro 145,2 milímetros (média é de 130,2 milímetros)
Março (até dia 13) 142,2 milímetros (média do mês é de 151,7 milímetros)
Previsão não é otimista
– A Central de Meteorologia explica que predominou em março o ar quente e úmido de origem tropical que ocasiona as chuvas de verão, de pouca duração e de bastante volume. Com isso, só na primeira quinzena do mês choveu quase a média histórica de março
– A previsão é que o mês de março continue chuvoso e termine com um volume de chuvas acumulado bem acima do normal para o mês. Conforme a Central de Meteorologia, hoje a temperatura será alta, entre 30ºC a 32°C e haverá pancadas de chuva no sábado e no domingo
– Nos próximos meses, a situação deve se regularizar e as chuvas devem ficar dentro da média.
Chuva de problemas para o arroz
– Um levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) aponta que as chuvas já causaram perdas parciais em 18 mil hectares de arroz no Estado.
Segundo o Irga, os maiores estragos foram no Litoral Norte. Na Campanha, que inclui Dom Pedrito, Bagé e São Gabriel, 2,4 mil hectares (2% da área plantada) sofreram danos. Conforme a Emater de São Gabriel, algumas lavouras de arroz perto do Rio Vacacaí tiveram perdas devido a alagamentos. A cidade tem 25 mil hectares de lavouras de arroz. A previsão é colher, em média, 7 mil quilos por hectare.
– Como a colheita do arroz na região começou há cerca de um mês e da soja há cerca de 15 dias (apenas 20% do arroz e 5% da soja foram colhidos em Santa Maria), a Emater regional ainda não tem dados sobre os prejuízos da chuva nas plantações