Volume de safra freou a alta do arroz

Recuperação de preços perdeu impulso pelo aumento da oferta e do volume da safra dos principais estados produtores. Conab anunciou novo leilão dia 10 de abril.

A recuperação de preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul perdeu impulso desde a última semana, apesar dos bons resultados do mais recente leilão de contratos de opção realizado pela Conab, que indicaria média de preços acima de R$ 21,50 para o início de abril. Em algumas regiões gaúchas, as cotações que chegaram próximas dos R$ 21,00, recuaram até 50 centavos. Em outras, foi mantida uma estabilidade cautelosa.

A causa deste “esfriamento” nos preços é a entrada de maior volume de grãos nos silos, secadores e nas indústrias, com a aceleração do processo de colheita. Muitos produtores, sem silos próprios ou cooperativas, estão ofertando produto no mercado, o que fez a indústria “sentar para trás” na hora da compra. Muitas empresas mantêm a estratégia de não aceitar arroz a depósito, só compra, o que força a venda do produtor menos capitalizado e sem uma infra-estrutura de estocagem.

A notícia de um novo leilão de contratos de opção para o dia 10 de abril, aliada à liberação de mais R$ 200 milhões do governo federal para EGFs, pode funcionar como fator de neutralização desta nova tendência, obrigando o mercado a, se não reagir, manter-se estável nos patamares atuais. Esta estabilidade, no entanto, não seria uma boa notícia para o setor, que ainda confia que o mercado alcance patamares próximos dos R$ 22,00 de preços mínimos até o final de abril.

Ainda assim, a maioria dos analistas de mercado arrisca indicar uma “leve alta” nos preços médios até o final deste primeiro semestre do ano e uma recuperação mais acentuada a partir de agosto. A preocupação entre os produtores é o limite de 20 contratos de opção por CPF, ou seja, quem já alcançou este patamar não terá mais direito ao uso do mecanismo.

Enquanto espera o anúncio de novos leilões a partir da segunda quinzena de abril, o mercado voltou a apresentar um volume mais significativo de ofertas, principalmente na Fronteira-Oeste, Litoral Norte e Depressão Central gaúcha, onde um temporal, seguido de granizo afetou gravemente as lavouras dos municípios de Novo Cabrais, Vale do Sol e Vera Cruz.

Em Cachoeira do Sul, Dom Pedrito e Alegrete, os preços da saca de 50 quilos do arroz com 58% de grãos inteiros, que já indicavam patamares entre R$ 20,50 a R$ 21,00 há 10 dias, agora apresentam-se entre R$ 20,00 a R$ 20,50. Pelotas, Camaquã, Uruguaiana e Itaqui também é menor o preço médio ofertado para o arroz colocado na indústria, R$ 21,00, ante os R$ 21,50 da semana passada. Itaqui e São Borja mantêm entre R$ 21,75 e R$ 22,00 as variedades nobres, dependendo do percentual de inteiros. No Litoral Norte, as variedades nobres alcançam cotação de R$ 24,00 a R$ 25,00 em sacos de 50 quilos do produto com até 63% de inteiros.

INDICADORES

O indicador do arroz Cepea/Esalq/BM&F, indica preço médio de R$ 21,04 para esta quinta-feira, quando chegou a R$ 21,16 na sexta-feira passada, uma queda de 12 centavos por saca para o produto dentro da indústria gaúcha. A Emater-RS, em seu levantamento semanal, indica preços médios de R$ 20,61 pagos ao produtor gaúcho pela saca de 50 quilos do arroz com 58% de grãos inteiros.

MATO GROSSO

No Mato Grosso os preços da saca de 60 quilos do arroz Primavera, com mais de 50% de inteiros, manteve-se por mais uma semana com preços firmes entre R$ 22,50 e R$ 23,00 nos municípios de Sinop e Sorriso, com significativa demanda e pouca oferta. O produto chega a Cuiabá entre R$ 25,00 e R$ 26,00. A maior parte da oferta é de produto de baixa qualidade, o que valoriza o arroz superior, com mais de 55% de inteiros na região.

SANTA CATARINA

Em Santa Catarina, o mercado é comprador e os preços firmes. O valor médio pago ao produtor de arroz está em R$ 21,00 a saca, nas três principais regiões produtoras do estado: Alto Vale do Itajaí, Médio Vale e Litoral Norte, e no Sul catarinense. A colheita está em adiantado estágio, mas com significativo atraso na região Sul, onde apenas 30% da área foi colhida. As intensas chuvas estão atrapalhando o processo, bem como provocando perdas.

Nas regiões mais ao norte, já está em desenvolvimento o cultivo da “soca”, que permitirá nova colheita até o final de maio. Os produtores do estado esperam estar incluídos nas novas medidas anunciadas pela Conab e o MAPA para o Rio Grande do Sul (leilões e ampliação de recursos para EGF).

INDÚSTRIA

A indústria gaúcha e as indústrias de Santa Catarina e Mato Grosso vivem momentos opostos. Enquanto as empresas gaúchas aproveitam a safra para restabelecer seus estoques no pico de colheita, com o aumento da oferta por parte dos produtores, as beneficiadoras catarinenses e mato-grossenses estão demandando mais fortemente o produto, com resistência dos produtores. No Mato Grosso, a oferta mais significativa é de arroz de baixa qualidade. Em Santa Catarina, os produtores estão segurando bem o arroz e a oferta é baixa, principalmente no Sul do estado onde a colheita está atrasada pelas chuvas.

Em comum, estas empresas têm apenas a resistência do varejo em remunerar melhor o produto beneficiado. O fardo de 30 quilos do arroz tipo 1, gaúcho, é negociado entre R$ 28,50 e R$ 39,00 (final São Paulo), dependendo da marca. O preço mais usual é R$ 32,50. O fardo do arroz beneficiado (branco) catarinense fica entre R$ 32,00 e R$ 38,00 (final São Paulo) e o parboilizado entre R$ 31,00 e R$ 34,00.

A saca de 60 quilos do produto beneficiado gaúcho é negociada entre R$ 42,00 e R$ 43,00 no mercado gaúcho. Chega a São Paulo entre R$ 56,00 e R$ 60,00.

DERIVADOS

O mercado de derivados também perdeu um pouco de força esta semana, com o canjicão perdendo R$ 2,00 por saca no preço médio. Caiu de R$ 30,00 para R$ 28,00, com uma redução na demanda por parte das indústrias e, também, dos exportadores. A quirera, em compensação, subiu para R$ 21,00, valorização de R$ 1,00 por saca.

TENDÊNCIAS

O mercado deverá entrar em compasso de espera até o leilão do dia 10. Até lá, o que vai ditar preços é a relação oferta x demanda. Como o volume de safra deve se acentuar nestes próximos 10 dias, há uma leve tendência de queda à estabilidade, com os preços se mantendo mais próximos dos R$ 19,50 do que dos R$ 20,50 na maioria das regiões. A demanda seguirá forte por arroz das variedades nobres e produto para parboilização.

O clima, mais uma vez, também será fator importante na formação de preços. A volta de chuvas mais intensas no Rio Grande do Sul poderá afetar a colheita mais uma vez e, com isso, reduzir a oferta e aumentar as perdas. O varejo deve seguir sua política de comprar apenas o essencial para reposição nas gôndolas e forçando redução de preços em função das ofertas de marcas médias ou pouco conhecidas a preços baixos.

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