Indústria reage contra a taxa CDO
Indústria gaúcha reclama e produtores vibram com a decisão da governadora Yeda Crusius. Gaúchos deverão perder competitividade perante as indústrias dos demais estados
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O decreto da governadora Yeda Crusius, que obriga o arroz importado a pagar taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO) ao ingressar no estado, é criticado pela indústria gaúcha. Com a decisão, os importadores devem pagar a taxa quando fizerem o desembaraço aduaneiro do produto. A CDO é de R$ 0,33 para cada saca de 50 quilos do cereal e já é paga pelos produtores gaúchos.
O empresário Alfredo Treichel, proprietário do Engenho Treichel e presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado, salienta que a cobrança da CDO vai criar uma concorrência desleal entre as indústrias do país. Ele salienta que o Rio Grande do Sul não é a única porta de entrada para arroz do Mercosul, que agora deve entrar por outros estados, onde não existe cobrança.
– Esta decisão não é boa para a indústria arrozeira gaúcha – afirma Treichel.
O assessor de diretoria do Engenho Irmãos Trevisan, Gustavo Trevisan, salienta que a decisão de Yeda é um estímulo para os demais estados importarem o cereal, já que não pagam esta taxa. Atualmente, várias indústrias gaúchas têm filiais nos outros estados, por onde devem começar a importar o produto.
– Era tudo o que os catarinenses e paulistas queriam. Hoje, eles estão rindo da nossa cara, pois o Governo gaúcho está estimulando o crescimento das indústrias de fora. Isso é um tiro no pé – critica Trevisan.
INCHAÇO
O empresário Antonio Alvori Moraes, proprietário do Engenho Moraes, afirma que a CDO é mais uma taxa para inchar os custos da indústria gaúcha. Ele salienta que a indústria gaúcha perde competitividade perante outros estados.
– Enquanto a indústria gaúcha paga 12% de ICMS sobre o arroz importado para ser vendido na Região Sudeste, a indústria paulista, grande importadora de arroz do Mercosul, paga 7%. É enorme a diferença, pois a margem de lucro na industrialização do arroz é muito pequena – frisa Moraes.
De acordo com o empresário, 5% representa uma desvantagem enorme na comercialização do arroz gaúcho na Região Sudeste, a maior consumidora de arroz do país.
– A CDO aumenta mais ainda o abismo com relação à competitividade entre a indústria gaúcha e a indústria paulista – lamenta Moraes.
Ele enfatiza que grande parte das indústrias está descontente, principalmente as grandes importadoras.
– As indústrias dos outros estados brasileiros, principalmente catarinenses e paulistas, estão muito felizes. Com este decreto terão condições de importar mais por menos e na hora de comercializar, poderão ofertar seus produtos por menor preço e ter uma rentabilidade muito maior do que a da indústria gaúcha – afirma Moraes.
Ele antecipa que a médio e longo prazos, produtores e indústrias serão prejudicados, pois estão geograficamente distantes dos grandes centros consumidores, com custos de frete e ICMS maiores, e agora a CDO, que só os gaúchos pagarão.
Importante
O ex-presidente e um dos liqüidantes da Coriscal, José Derli Mouralles Pereira, afirma que a decisão da governadora Yeda Crusius beneficia os produtores, pois os gaúchos já pagavam a CDO, enquanto o arroz que vem do Mercosul era isento da taxa. Ele salienta que a indústria pagará a CDO, mas poderá descontar do preço pago ao fornecedor estrangeiro. Porém, isso não é regra e não existe garantia de que os hermanos irão aceitar arcar com esta despesa.
ATENÇÃO
O deputado estadual Jerônimo Goergen (PP), autor da Lei 12.685/06, que obriga a cobrança da CDO, afirma que o Rio Grande deverá arrecadar, por ano, cerca de R$ 5 milhões com a cobrança sobre o arroz importado, recursos que irão para o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga). Mais do que isso, veremos reduzir a concorrência predatória. Depois de meio ano do projeto aprovado pela Assembléia e sancionado pelo Executivo, devemos ressaltar a compreensão do Governo Estadual, disse Goergen. Para Goergen, os orizicultores gaúchos passam a ter reduzidas as assimetrias comerciais do arroz produzido no estado com o produto oriundo do Mercosul, em especial Argentina e Uruguai.