45º Congresso da Sober reúne estudos no setor orízicola

O Congresso da Sober (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural) aconteceu entre os dias 22 a 25 de julho na cidade de Londrina (PR), com a temática “Conhecimentos para a Agricultura do Futuro”. .

O XLV Congresso da Sober (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural) aconteceu entre os dias 22 a 25 de julho na cidade de Londrina (PR), com a temática “Conhecimentos para a Agricultura do Futuro”. Neste ano, segundo o presidente da Sober, Elisio Contini, o congresso teve um caráter internacional, devido à parceria com a Association of Food and Agroindustrial Economy (AIEA2), hoje sob a presidência do Prof. Roberto Fanfani, da Universidade de Bologna, Itália.

O arroz mereceu destaque entre os trabalhos apresentados durante o congresso, tendo sido tema de sete artigos, os quais abordaram aspectos econômicos, preferências de compra, comércio internacional e políticas setoriais. O Rio Grande do Sul foi a base de cinco desses artigos, revelando a necessidade de se voltar para as demais regiões produtoras também.

O artigo “Análise das preferências de compra de arroz de grandes empresas de auto-serviço de Santa Catarina”, de autoria de Marcelo Fernandes Pacheco Dias e colegas, apresentou um estudo de casos múltiplos sobre o mercado e os critérios mais valorizados pelas empresas no momento da compra. A pesquisa, realizada em três supermercados de Santa Catarina, indicou que a “qualidade” é o mais valorizado por todas as empresas. Outros critérios são preço, imagem, entrega, assistência e variedade.

Em outro trabalho, foi discutido o arroz do Mercosul,o processo de integração de barreiras tarifárias e a repercussão no mercado brasileiro. Em “A insustentável leveza da integração regional: um estudo da realidade do arroz mercosulino”, Rafael Pentiado Poerschke e Rita Inês Pauli Prieb, da Universidade Federal de Santa Maria (RS), avaliam que “o Mercosul criou um descontentamento nos produtores do país que alegam que o arroz argentino e uruguaio tomou uma grande parcela de mercado dos rizicultores brasileiros”.

Os autores afirmam que a atividade orizícola não estava devidamente preparada para enfrentar a concorrência, mas que tanto a indústria de processamento quanto o consumidor se beneficiaram da integração. A exploração das vantagens competitivas do Uruguai e da Argentina por seus agentes internos foi acompanhada da queda nos preços do arroz em casca brasileiro. Por isso os autores defendem uma integração com eqüidade para todos os Estados e Membros envolvidos no processo: “desenvolver-se e integrar-se parece ser o caminho correto, faltando, para isso, seriedade na busca dos objetivos com olhos não mais no próprio umbigo, mas, um olhar sobre o bloco como um todo”.

A análise de relações de curto e longo prazo entre os preços de arroz em casca no Rio Grande do Sul foi tema da pesquisa realizada por Andréia Cristina de Oliveira Adami e professores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). O artigo, intitulado “Política de garantia de preços para o arroz em casca do Rio Grande do Sul: curto ou longo prazo?”, estudou o período de 1966 a dezembro do 2006, quando o governo adotou medidas para garantir o preço mínimo ao produtor.

Os resultados mostram que não existe uma relação de longo prazo entre preço de mercado ao produtor e preço mínimo, “o que indica que, no longo prazo, o preço mínimo não segue o preço de mercado e o contrário também não ocorre”. Porém, no custo prazo, verificou-se que os preços mínimos influenciam os preços de mercado, tratando-se de uma política ativa. Na análise, Andréia destaca que a atuação do governo tem o sentido de “estimular o armazenamento privado e subsidiar apenas uma parcela do preço e não garantir o mínimo através de compras indiretas”. Os autores afirmam que, mesmo com a forte atuação do Governo no mercado gaúcho, nos últimos dois anos o Governo não conseguiu assegurar a sustentação dos preços de mercado ao nível do preço mínimo, devido ao fato de o produto ser muito sensível às variações de oferta.

O sistema agroindustrial do arroz no estado do Rio Grande do Sul foi alvo da pesquisa de Sílvia Helena Miranda e colegas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da ESALQ/USP. O trabalho propõe uma estrutura para a cadeia do arroz no Sul do país e caracteriza seus principais agentes (produtor, secador, corretor, cooperativa, indústria, atacadista e representantes do beneficiado). A conclusão da pesquisa versa sobre “a importância da produção gaúcha e do varejo da região sudeste para a formação dos preços internos, a importância das marcas para os abastecimentos regionais e nacionais, a concentração industrial (incluindo as cooperativas), pela falta de contratos entre os segmentos produtivo e industrial, e a necessidade de equilibrar o comércio externo, melhorando o saldo entre exportações e importações, mais propriamente verificando as possibilidades de elevar as vendas externas”.

Com o título “Relações contratuais e de governança do sistema agroalimentar do arroz no Rio Grande do Sul: o caso da empresa Josapar”, os autores Leonardo Xavier da Silva e Luciana Mello Fonseca, de Pelotas, destacam os acordos entre a empresa e agricultores integrados. “Constata-se que essas [relações contratuais] estão organizadas de forma híbrida, pois mesmo havendo contratos e a consolidação da freqüência das transações, pode-se afirmar que ainda existem algumas nuances que as aproximam de uma governança de mercado”, dizem os autores, ressaltando que caberá à empresa e aos agricultores identificar qual a forma de governança mais conveniente para o longo prazo.

A armazenagem e secagem do arroz em casca como um diferencial na comercialização foi o tema do estudo “Efeitos em termos comercialização da armazenagem do arroz em propriedades rurais do Rio Grande do Sul”, de Sandro Alam Elias e colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O objetivo foi verificar se a armazenagem e secagem do arroz em casca na propriedade rural constituem um diferencial positivo de preços no momento da comercialização. A pesquisa confirmou a possibilidade de comercialização dos produtos agrícolas nos períodos de entressafra, quando o preço de mercado é maior. Outra vantagem constatada foi que a adoção desta estrutura permite a venda da produção com maior valor agregado, “uma vez que o arroz é vendido com índices de impureza e umidade adequados, ou seja, seco e limpo”.

Os autores afirmam, porém, que a maioria dos orizicultores do RS está endividada, o que acaba por não lhes permitir a adoção desta técnica; e destacam que há um tempo necessário para o retorno do investimento.

O trabalho “A Taxa de Proteção Nominal implícita na agricultura: um estudo para a soja, trigo, arroz e cana de açúcar entre 1991-2002”, de Ricardo Schmidt Filho e Maurício Vaz Lobo Bittencourt, de Curitiba, traz uma análise sobre os impactos e mudanças relacionadas ao processo de liberalização comercial na economia brasileira sobre o grau de proteção nominal dos produtos agrícolas comercializáveis. Os resultados do trabalho indicaram a presença de uma taxa implícita nos produtos agrícolas, tanto nos exportáveis e importáveis.

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