Marrecos limpam o arrozal

Em Torres (RS), plantel já chega a 25 mil aves, que, além de combater pragas, adubam e revolvem a terra .

O marreco-de-pequim se tornou um eficiente auxiliar dos produtores de arroz de Torres (RS). Posta na lavoura após a colheita, a ave come sementes de plantas invasoras e caramujos, ao mesmo tempo em que revolve e aduba a terra, deixando-a quase pronta para o plantio seguinte.

Ao fim do ciclo, a ave é abatida para consumo ou para venda no mercado regional. Há casos em que o custo do cultivo de cada hectare caiu de R$ 730 para R$ 400 por causa da substituição das aplicações de produtos químicos.
A técnica é considerada milenar na China e não chega a ser nova nem aqui. É utilizada desde 1986 em Santa Catarina. Não há levantamentos da quantidade de marrecos nas lavouras catarinenses, mas o pesquisador Ronaldir Knoblauch, da Epagri-SC, acredita que passe de 1 milhão.

Guardadas as proporções, a quantidade de marrecos-de-pequim colocada em parte dos 3 mil hectares cultivados pelos 110 produtores de Torres cresce a cada ano. Passou de 3.600 em 2004 para 35 mil em 2006. Em 2007, já chega a 25 mil somente nos registros do técnico agrícola Vicente Oliveira, chefe do escritório local do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) e incentivador de técnica na região.

PIONEIRO

A multiplicação ocorreu depois dos bons resultados colhidos pelo pioneiro, o agricultor Pedro João Magnus, da localidade de Jacaré. Em 2003, vendo o arroz vermelho avançar nos seus 3 hectares de arroz cultivado, visitou um produtor de Turvo (SC) e se entusiasmou ao ver o resultado do uso do marreco no controle da praga. Encomendou 150 aves. Colocou-as numa quadra em março de 2004. Perdeu 64 delas, abatidas por cachorros, na primeira noite. Mas as 86 restantes fizeram um bom trabalho.

– Na colheita, o arroz vermelho estava reduzido a quase zero – recorda.

Com isso, outros produtores aderiram. É o caso de Jairo Luiz dos Santos Matos, do Distrito de Rio Verde, que cultiva 85 hectares em parceria com cinco irmãos. A família aderiu à técnica em 2004, depois de passar quatro anos tentando reduzir a infestação de um lote de 17 hectares por caramujos com inseticidas ou com troca do plantio da semente pré-germinada pela convencional, na terra seca.

As aves foram mais eficientes que os métodos anteriores.

– A colheita saltou de 4 mil quilos para 7.200 quilos por hectare – diz Jairo, que utiliza de 500 a mil marrecos a cada ano.

– E o custo da produção baixou: em vez de dez operações com trator para revolver a terra, fizemos apenas sete, deixando, além disso, de comprar produtos químicos.

Outra vantagem é o menor uso de adubo, pois a terra é fertilizada pelos dejetos dos marrecos.

SEMENTES

Outro agricultor, Alfredo Trein Lothhammer, 55 anos, dedica-se à multiplicação de sementes numa área de 17 hectares e, por sua atividade, precisa de um controle muito mais rigoroso sobre a lavoura. Ele fez a experiência com marrecos no ano passado e está contente.

– Colhi 12 toneladas por hectare e baixei significativamente os custos – revela o agricultor.

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