Crise mundial sustentará alta do arroz no país, dizem especialistas

Consumo maior e oferta reduzida fizeram preço da saca subir 63% no Brasil. Para professor da USP, Brasil vive ‘medo exagerado’ e não há risco de desabastecimento.

A alta mundial dos preços do arroz, recentemente agravada pela seqüência de anúncios de suspensão de exportações do cereal em diversos países – como Vietnã, Índia, Indonésia e Egito – já chegou às prateleiras brasileiras e não vai embora tão cedo, segundo especialistas.

No varejo, o preço do arroz subiu 15% somente nos últimos 30 dias nos supermercados paulistas, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas). De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, o aumento do consumo e a redução na oferta mundial devem manter a tendência de alta nos preços até o fim de 2008.

Isso porque, ao contrário do que geralmente ocorre, os preços subiram em plena safra. A colheita do arroz no Brasil ainda nem terminou e, desde o início do plantio, o preço da saca no mercado interno saltou de R$ 19 para os atuais R$ 31 – um salto de 63%.

De acordo com Francisco Schardong, representante da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) na Câmara Setorial de Arroz do Ministério da Agricultura, há um volume considerável do cereal à espera da colheita. Segundo ele, 15% da safra ainda não foram colhidos.

– O mercado vai continuar firme. O produto fez seu preço em função da procura. A alta não foi forçada – afirmou Schardong.

Medo exagerado

Na avaliação do economista Guilherme Dias, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), a suspensão das exportações de arroz dos estoques públicos reflete um medo exagerado de desabastecimento no Brasil, desencadeado pela suspensão das vendas dos grandes exportadores mundiais asiáticos.

– Apesar de o país ainda estar terminando de colher uma safra boa, a colheita de apenas um ano não é suficiente para acabar com essa alta nos preços – diz.

Já Schardong, da CNA, afirma que os preços do arroz são conseqüência mais direta da situação mundial dos alimentos do que de um risco interno de desabastecimento.

Apesar disso, ele admite que a área plantada de arroz no Brasil não tenha variado muito nos últimos anos, enquanto a de cana-de-açúcar, para produção de etanol, aumentou. Para Schardong, o aumento nos preços foi bem-vindo: isso porque, segundo ele, os produtores de arroz chegaram a trabalhar no prejuízo nos últimos anos.

Trincheiras

Para o professor da USP, a medida adotada pelo Brasil de anunciar a suspensão da venda dos estoques públicos vai além do necessário para o cenário de abastecimento doméstico, e contribui para o clima de tensão mundial em torno da escassez de alimentos.

– Essas medidas que ‘puxam o tapete’ estão assustando o mercado. É um tipo de atitude em que o país cava uma espécie de trincheira e diz:‘a partir de amanhã, você não vai mais poder contar com o meu estoque – diz Guilherme Dias.

– O que eu acho mais sério nisso é que o Brasil está se posicionando como um líder no setor de agronegócio, e esse discurso de suspensão não é de líder. Ele fez uma política de ator pequeno no mercado – afirma.

Além disso, de acordo com o representante da CNA, as exportações de arroz representam uma fatia pequena da safra brasileira. “Exportamos 400 mil toneladas dentro de uma safra de 12 milhões de toneladas”, explica.

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