Prejuízo da estiagem chega ao consumidor

Na Argentina, a província de Corrientes pediu esta semana um decreto de estado de emergência ao governo federal em razão da seca. A região produz 50% do arroz argentino..

Preços de soja e trigo devem sofrer alta no mercado internacionalNão são só os gaúchos da Fronteira Oeste e Campanha que estão perdendo o sono devido à falta de água para irrigar suas lavouras. Uruguaios e principalmente argentinos lamentam a quebra nas safras de grãos e os prejuízos nas lavouras já plantadas.

A condição climática dá suporte à elevação nos preços globais de derivados da soja e do trigo. Apenas o preço do arroz, mesmo com estimativa de perda de 10% a 15% nas lavouras uruguaias e argentinas, não tem perspectiva de aumento significativo em razão da estiagem.

Essa é a previsão do analista de mercado e professor de economia internacional da Unijuí, Argemiro Luís Brum, e do diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Rubens Silveira. Brum ressalta que o trigo é a cultura mais prejudicada na Argentina. A quebra de quase 50% no volume de grãos é a que mais deve se refletir no bolso dos brasileiros. Isso porque o Brasil é o maior importador de trigo da Argentina. O país colheu cerca de 9 milhões de toneladas nesta safra – em 2008, foram 16,3 milhões.

– A oferta de trigo argentino para exportação diminuiu. O Brasil terá de importar uma quantidade maior do grão dos EUA e do Canadá. O preço, a partir de março, deve subir em 20%, chegando a cerca de US$ 200. Vamos depender de como vai se comportar o câmbio também – analisa Brum.

Produção na Argentina e no Uruguai também encolhe

Com 1 milhão de hectares a menos de soja plantada, a Argentina deve encolher a produção em cerca de 2,5 milhões de toneladas este ano. Os rumores de uma queda considerável da oleaginosa já balançaram o mercado internacional. O farelo da soja subiu US$ 80 por tonelada no último mês, e hoje é oferecido a US$ 380 a tonelada. A Argentina é responsável por 60% do comércio mundial de farelo de soja.

– Mas acredito que o preço alto não deve se manter por muito tempo. É só começarmos a nossa colheita (em abril), e o mercado deve se estabilizar– afirma Brum.

As perdas nas lavouras de arroz da Argentina e do Uruguai não devem respingar no Brasil. Segundo Silveira, mesmo produzindo menos, os dois países têm um estoque de passagem (o que sobrou da safra passada) bem maior do que na colheita anterior, o que possibilitará uma oferta tão grande quanto a de anos anteriores.

– No Uruguai, o estoque de passagem subiu de 50 mil para 150 mil toneladas de arroz. Na Argentina, de 80 mil para 200 mil toneladas. Teremos oferta – afirma Silveira.

Sem previsão de aumento do grão, quem produz no Uruguai lamenta a má fase. Zeferino Escosteguy planta em Taquarembó há 20 anos e nunca viu seca como a atual. Plantou arroz numa área 40% menor do que a de 2008 e já calcula prejuízo de 10%.

– Está faltando água para irrigação, minha barragem está quase seca. Exporto a maioria do que colho para o Brasil. Vou mudar os planos (nesta safra). Terei mais arroz quebrado do que de qualidade, e o Brasil deixa de ser o alvo. Terei de exportar para África e terei um retorno menor– lamenta.

Na Argentina, a província de Corrientes pediu esta semana um decreto de estado de emergência ao governo federal em razão da seca. A região produz 50% do arroz argentino.

– Esperamos subsídios do governo. Mais de 20% das lavouras de arroz de Corrientes estão perdidas – diz o vice-presidente da Sociedade Rural de Paso de Los Libres, Júlio Mecozzi.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter