Encontro do setor produtivo do arroz destaca exportação

Citando estimativas da Conab, Tiago disse que atualmente as estimativas de exportação do grão estão em torno de 600 mil toneladas e que os principais parceiros comerciais do Brasil são empresas do continente africano.

A expansão do setor produtivo do arroz no Brasil depende do desafio de buscar novos mercados pelo mundo. Esse foi um dos assuntos abordados pelo analista de mercado do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Tiago Sarmento Barata, em palestra durante o 3º Seminário da Cultura do Arroz de Terras Altas do Estado do Mato Grosso, evento realizado ontem (04.08) no auditório do Sebrae, em Rondonópolis (MT).

Citando estimativas da Conab, Tiago disse que atualmente as estimativas de exportação do grão estão em torno de 600 mil toneladas e que os principais parceiros comerciais do Brasil são empresas do continente africano. Trata-se de um processo incipiente, mas que pode ser intensificado, uma vez que o País possui pontos fortes para aumentar sua participação no mercado internacional.

De acordo com Tiago, o Brasil possui vantagens em relação ao sudeste asiático, que é a principal zona produtora, consumidora e exportadora de arroz no mundo. Dentre as características favoráveis, encontram-se a localização do País em uma região do globo menos sujeita a desastres naturais e a colheita da safra nacional, que acontece na entressafra do mercado internacional.

Segundo Tiago, esses fatores podem contribuir para a exportação do arroz, especialmente para duas das cadeias produtivas superavitárias, a do Rio Grande do Sul (em áreas irrigadas) e a do Mato Grosso (em áreas de terras altas).

No que diz respeito a este último, conforme Tiago, existe a possibilidade de atuação no mercado de países da América Central e de nações vizinhas, como a Venezuela, embora haja dificuldades de logística, devido à localização geográfica e à infraestrutura.

Concernente ainda ao Mato Grosso, Tiago destacou que o avanço rumo a novos mercados poderia se dar também por meio do incremento do abastecimento interno, como por exemplo, as regiões do Norte e do Nordeste.

Contudo, seja em âmbito nacional ou internacional, Tiago chamou a atenção do setor produtivo para uma tarefa.

– Será preciso tornar a atividade sustentável, buscando superar as dificuldades, consolidando a posição Mato Grosso no mercado – afirmou.

Para tanto, é consenso entre os cerca de 50 técnicos, empresários, agricultores e pesquisadores que estiveram reunidos em Rondonópolis que a cultura terá de passar por uma mudança de concepção, a saber, a inserção do arroz de terras altas nos sistemas de produção agrícolas, ao invés de considerá-lo apenas como cultura de abertura de áreas do cerrado.

Essa façanha é difícil, mas exequível, conforme o agricultor Ricardo Weissheimer, da Fazenda Montenegro, localizada no município de Jaciara. Nos 1.150 hectares de lavoura em sua propriedade, ele realiza a rotação anual entre soja e arroz em plantio convencional há 14 anos.

Ricardo Weissheimer conta que inicialmente foi trabalhoso acertar a parte agronômica e aprender a lidar no mercado de arroz matogrossense, mas garantiu que, após quase abandonar a cultura, não se arrepende hoje de ter persistido na atividade.

– Como agrônomo, posso recomendar aos agricultores que plantem arroz, pois é uma cultura lucrativa. Mas, como empresário, prefiro não dizer isso, porque assim sobra mais espaço no mercado para o meu produto – afirmou Ricardo em tom de brincadeira.

Para os participantes do encontro em Rondonópolis, outro aspecto que deve unificar as ações do segmento produtivo é que a produção de arroz no Mato Grosso envolve a questão da qualidade da matéria-prima disponível para as indústrias beneficiadoras.

As cultivares de arroz lançadas nos últimos anos e consideradas de qualidade superior não foram adotadas pelos agricultores, o que é atribuído em parte à falta de entrosamento entre os atores da cadeia produtiva e ao melhor ajuste dos materiais às condições de manejo locais.

Some-se a isso o desafio ao setor rizícola de terras altas com a nova legislação de classificação de grãos de arroz, que entrará em vigor em 1º de março de 2010, por meio da Instrução Normativa no 06/09. Conforme os especialistas, os novos critérios de classificação do arroz Tipo 1, de maior valor comercial, irão demandar o aprimoramento do manejo das lavouras e da pós-colheita para a produção de arroz de boa qualidade.

Pensando nessas questões e também para incrementar a produção estadual de cerca de 700 mil toneladas e reverter a ociosidade do parque industrial instalado por insuficiência de matéria-prima, a cadeia produtiva do arroz já vinha formatando um projeto de pesquisa e transferência de tecnologia, o qual foi citado no encontro de Rondonópolis.

Esse projeto está sendo liderado pela Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT) e tem como instituições parceiras a Embrapa, o Sindicato das Indústrias da Alimentação da Região Sul de Mato Grosso (Siar-Sul), o Sebrae-MT e universidades. No momento, a iniciativa encontra-se sob análise da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).

O projeto segue os moldes do Plano de Desenvolvimento das Indústrias de Arroz do sul do Estado do Mato Grosso, que abrange cerca de 30 indústrias de alimentos, com destaque para as beneficiadoras de arroz, e 19 municípios, como Rondonópolis, Primavera do Leste, Paranatinga, Jaciara, Pedra Preta e Alta Araguaia.

Esse Plano é empreendido desde o ano 2006 pelo Siar-Sul, Sebrae-MT, Prefeitura de Paranatinga, Embrapa Transferência de Tecnologia e Embrapa Arroz e Feijão. Como principal resultado, a iniciativa está conseguindo alinhar os interesses da cadeia produtiva.

De acordo com o presidente do Siar-Sul, Mauro Cabral, que esteve presente no evento de Rondonópolis, esse tipo de atuação planejada foi pioneira. “Podemos considerar que foi a base para que outras instituições utilizem o Plano como modelo, o que, com certeza, trará frutos importantes nos próximos anos”, disse Mauro Cabral.

O atual projeto, capitaneado pela Empaer-MT, será empreendido com recursos da Fapemat e terá seus primeiros passos executados já na safra 2009-2010, com o estabelecimento de áreas experimentais de cultivo.

As discussões sobre a orizicultura tem sequência hoje (05.08), no auditório do Sebrae, em Rondonópolis (MT), com a 3ª Reunião da Comissão Técnica da Cultura do Arroz, regional Mato Grosso e Rondônia. O evento reúne profissionais da cadeia produtiva para a atualização de documentos técnicos, com ênfase nas recomendações agronômicas. Para mais detalhes, telefone (66) 3423-1239 e 3421-4947.

Realização: Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Rondônia

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