Agora em nova embalagem
Vendas externas de arroz já ultrapassam as 600 mil toneladas em 2009.
As exportações brasileiras de arroz no acumulado do ano agrícola (março a setembro de 2009) totalizaram 622 mil toneladas, superando a estimativa anteriormente prevista pela Conab, em 600 mil toneladas (e posteriormente reavaliada para 750 mil toneladas). Este volume indica um crescimento de 14% nas vendas externas do produto se comparado ao mesmo período do ano anterior.
O continente africano, de acordo com o gerente corporativo de produto dos terminais portuários Termasa e Tergrasa, José Antônio da Silva, continua sendo o principal comprador e atualmente representa mais de 73% das exportações nacionais. Mas Silva destaca que o crescimento nas vendas se deve à inclusão de novos tipos de arroz na pauta das exportações, sobretudo o parboilizado.
Com volume de 375,5 mil toneladas, o arroz parboilizado representou 55% das exportações, tornando-se o principal produto da pauta exportadora do cereal. Conforme o diretor comercial do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Rubens Silveira, o produto apresenta grande aceitação mundial pela sua qualidade e pela logística operacional. “O parboilizado está inserido em um importante nicho de mercado que permite agregar mais valor às vendas externas e atualmente é mais valorizado do que o tradicional arroz branco (que respondeu com somente 8% do volume embarcado) no competitivo mercado internacional”, informa.
Para Silveira, o destaque fica por conta das exportações em contêineres, com 5.770 unidades embarcadas nesta modalidade de janeiro a setembro de 2009 e que já representa 96% do volume recorde atingido em 2008. “Só no mês de setembro o volume de contêineres aumentou 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, com quase 20 mil toneladas”, observa.
Esta modalidade, segundo o dirigente, apresenta uma série de vantagens: proporciona maior agilidade na logística de embarques, permite atender mercados diferenciados (na quantidade, na qualidade, na marca e até na embalagem solicitada pelo comprador) e agrega valor ao produto (chegando a mais de 10% sobre os granéis). “Além de ser uma ferramenta importante para a fidelização do cliente, as exportações em contêineres ampliam a participação dos exportadores, permitindo que indústrias, cooperativas e inclusive produtores de qualquer porte tenham acesso a mercados no exterior”, avalia.
As exportações de arroz a granel também ganharam um diferencial em 2009, com o advento do liner bag, embalagem especial desenvolvida para transportar grãos em contêineres com mais segurança, funcionando como uma espécie de minissilo. Como o nome já diz, o liner bag é um tipo de bolsa que, por ter as mesmas dimensões do contêiner, fica dobrada para reduzir seu tamanho. Uma vez acoplada na parte superior do contêiner, permite que o arroz seja descarregado diretamente da carreta. Na medida em que vai sendo preenchida, a bolsa vai se expandindo até ocupar por inteiro a parte interna do contêiner.
EVOLUÇÃO
As operações através de contêineres, a crescente participação do arroz beneficiado na pauta das vendas externas e a conquista de importantes mercados na Europa mostram que as exportações brasileiras evoluíram muito desde 2004, quando o país exportava apenas arroz quebrado para o continente africano. O diretor comercial do Irga, Rubens Silveira, lembra que antes para exportar era preciso ter grãos em quantidade suficiente para encher o porão de um navio. “O canal está aberto para indústrias de todos os portes, beneficiando as pequenas e médias, que podem exportar pequenas quantidades”, diz.
Além das indústrias, cooperativas e produtores também estão apostando no mercado externo. Em junho deste ano pequenos produtores de arroz de Faxinal de Soturno, associados da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), viabilizaram a exportação de 20 contêineres do cereal (480 toneladas) para a cidade de Valência, na Espanha.
A cidade espanhola é conhecida como a “terra do arroz”, onde é feita a tradicional Paella Valenciana. “Cada contêiner possui capacidade para 24 toneladas de arroz parboilizado integral, produto que tem maior valor agregado", destaca o gestor da Unidade de Negócios Grãos – Arroz, Camilo de Oliveira. Esta é a primeira exportação de arroz por parte da Cooplantio. “Começamos a prospectar mercados em março deste ano e agora concretizamos o primeiro negócio, o que é um tempo bastante curto”, informa.
DA LAVOURA AO NAVIO
O arroz brasileiro está ganhando mercado no exterior. Em 2008 o RS exportou 10% do que produziu e a África foi o principal destino. Mas graças a algumas iniciativas, o produto vem conquistando promissores mercados, como o Oriente Médio.
É o que foi mostrado no fórum Arroz da Lavoura ao Navio, organizado pelo Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) durante a Expointer. O evento contou com a presença de um produtor gaúcho que se tornou um pioneiro no mercado externo há pouco mais de um ano. Mário Petry, da cidade de Tapes, exporta atualmente 100% de sua produção por conta própria e sem uma estrutura industrial.
Petry contou que resolveu exportar porque a produtividade tende a dobrar nos próximos anos e o mercado interno não dará conta de comprá-la.
O agricultor visitou vários países do Oriente Médio para exibir a qualidade do produto e assim ganhou um consumidor que deve ser fidelizado. “A exportação depende de duas coisas para ter sucesso: qualidade e fidelidade. A qualidade nós temos. As oportunidades estão chegando aos borbotões”, disse Petry.
Ele defende que é preciso manter a exportação mesmo com o câmbio desfavorável e a margem de lucro baixa, porque só assim é possível consolidar o mercado. Além do Oriente Médio, países como Rússia, Bielorússia e Costa Rica já compram o arroz da marca Mario’s Rice.
A iniciativa de Mário Petry é estimulada pelas trades, que estão dispostas a prestar a assessoria necessária para o produtor que quiser entrar no mercado internacional.
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