Sem fórmula mágica

Variáveis que oscilam sem parar determinarão preços do arroz em 2010.

É razão de uma boa dor de cabeça para a cadeia produtiva e seus analistas estabelecer uma previsão aproximada do comportamento do mercado e dos preços do arroz no Brasil no ano comercial 2010/11. Isso porque os cenários se constroem e oscilam sem parar, com variáveis que afetam em diferentes proporções as tendências e os valores efetivamente pagos pelo cereal. “Algumas variáveis podem ser determinantes em um momento e irrelevantes em outro, dependendo da combinação de fatores”, reconhece Élcio Bento, analista de Safras & Mercado. “Mas dá para compor cenários e, daí, projetar o comportamento futuro”, acrescenta.

Segundo ele, os preços pela saca de arroz no mercado doméstico serão determinados ao longo de 2010 e até a colheita da próxima safra pela conjugação de fatores como o ciclo de comercialização, a dimensão das safras – interna, do Mercosul, dos Estados Unidos e mundial -, os estoques de passagem, a disponibilidade de oferta, principalmente no Mercosul, a taxa cambial, o comportamento de preços internacionais e até mesmo a correlação de preços de commodities e do petróleo. “Tudo interfere em alguma dimensão, uns fatores mais e outros menos”, ensina Élcio Bento.

Para compor o cenário de alta em plena colheita, registrado em abril, apesar dos preços internacionais em baixa e já pressionando o mercado brasileiro com sondagens e ofertas, o analista de Safras & Mercado aponta a redução da safra local, do Mercosul e, principalmente, o baixíssimo estoque de passagem privado em fevereiro de 2010. “A indústria tinha pouco arroz na mão e precisou ir às compras. Como a safra é 1 milhão de toneladas menor e ainda está atrasada, a disponibilidade de arroz de boa qualidade para o beneficiamento, principalmente o da safra velha, foi baixa. Isso forçou a indústria a elevar os preços para equilibrar seus estoques. A velha lei da oferta e demanda. O final de março e todo o mês de abril foram demandantes”, explica.

Média de preços será maior em 2010
Para o analista de Safras & Mercado Élcio Bento, os preços pagos aos produtores ao decorrer desse ano terão equivalência com as cotações internacionais por teto e os preços mínimos (R$ 25,80) por piso. A equivalência de preços internacionais, principalmente do Mercosul, será um freio à alta mais significativa dos preços internos, pois o Brasil terá a necessidade de importar mais de 1,2 milhão de toneladas para garantir o abastecimento interno, segundo a Conab. A quebra de quase 9% da safra gaúcha interferiu para formar preços internos mais firmes em abril.

Há uma tendência de o piso já ter sido alcançado nos R$ 26,50 de fevereiro, mas uma sobreoferta do Mercosul, que perdeu mercados com a queda dos preços internacionais, e a entrada de produto da Ásia sempre cria o risco do mercado precisar buscar a proteção dos mecanismos de comercialização do Governo Federal. Essa, aliás, vem sendo uma garantia, um fator a mais, de sustentação dos preços do final de março ao início de maio, na faixa de R$ 28,00 a R$ 29,00 no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. “Temos a garantia do Governo de que não faltarão recursos se precisar assegurar os mecanismos de comercialização como contratos de opção, PEP e AGFs, caso o mercado caia a patamares próximos do preço mínimo.

Isso remeteria o mercado da saca de arroz de 50 quilos, em outubro, para algo em torno dos R$ 30,00”, revela o vice-presidente de mercados da Federarroz, Marco Aurélio Tavares.

Para o analista da Agrotendências Consultoria Tiago Sarmento Barata, a margem entre a mínima e a máxima cotação do arroz no mercado interno em 2010 será muito ajustada e maior que no ano passado, quando alcançou R$ 27,70.

Na ponta do lápis
O analista da Agrotendências Consultoria Tiago Sarmento Barata aposta na interação de fatores Comercialização: lucro e prejuízo serão definidos na hora de venderbaixistas e altistas determinando as referências de preços no mercado doméstico. Para ele, a quebra da safra só é um setor influente se for considerado isoladamente. “Com o Brasil inserido no mercado mundial como um dos 10 maiores importadores e também entre os 10 principais exportadores, não há mais como desprezar a influência da baixa nas cotações internacionais, do câmbio fortalecido e da safra em outros países”, cita.

Segundo ele, a agressividade da Ásia, principalmente do Vietnã, pela venda de arroz está forçando uma baixa inesperada nos preços mundiais. Ainda assim, estima que a média de preços, se o Brasil conseguir resistir à pressão da oferta externa, deve ficar em torno de R$ 28,00. “Não se deve esperar preços acima de R$ 35,00 ou R$ 36,00, nem abaixo do preço mínimo, se os cenários atuais se confirmarem”, avisa. Para ele, os produtores devem ter cautela, trabalhar em cima de planilha de custos e manter um fluxo de oferta adequado para fazer média de preços nas vendas. “Vai ser mais um ano em que, para muitos produtores, o lucro e o prejuízo vão se decidir na ponta do lápis”, afirma.

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