Exportar é fundamental

 Exportar é fundamental

Exportação movimentou os portos do interior gaúcho

Vendas de arroz brasileiro no mercado externo superaram as expectativas
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Saiu melhor do que a enco-menda. A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) era de que o Brasil exportasse 700 mil toneladas de arroz entre março de 2008 e fevereiro de 2009, o ano comercial agrícola. O volume foi superado em janeiro, quando as vendas ao mercado externo contabilizaram 725.287 toneladas, um incremento de 152% em relação às 288.018 toneladas no período anterior. 

Na avaliação do analista do Irga, Tiago Sarmento Barata, o ano de 2008 foi marcado por quatro mudanças significativas no cenário das exportações: crescimento excepcional no volume embarcado, o aumento no preço médio em 40%, a diversificação dos mercados compradores e o incremento nas vendas do produto com valor agregado. “O Brasil soube aproveitar o espaço deixado por grandes exportadores”, observa. 

Barata explica que o aumento no número de países compradores do arroz brasileiro dá mais segurança na hora de vender. O país não fica limitado a um cliente internacional. “Antes exportávamos apenas para a África e hoje já atingimos cerca de 60 países em cinco continentes”, calcula. 

Um avanço importante, segundo o analista do Irga, foi o crescimento nas vendas do produto com valor agregado. “Até o ano passado, 58% das exportações brasileiras eram de arroz quebrado e 41,6% de beneficiado, no caso o parboilizado. Agora o quebrado representa apenas 35% e o beneficiado mais de 60%”, destaca. 

A boa aceitação que o arroz brasileiro de qualidade vem obtendo no mercado internacional, na opinião do diretor comercial do Irga, Rubens Silveira, é um dos sinais mais evidentes desta mudança no perfil das exportações do setor verificada em 2008. “Antes o Brasil produzia o melhor e exportava o pior. Agora o parboilizado é o carro-chefe das vendas e a Europa já responde por 12,6% dos embarques”, compara. 

De acordo com Rubens Silveira, em 2008 teve início um processo de democratização nos embarques de arroz brasileiro para o exterior. “As vendas são mais pulverizadas. No início só as grandes empresas estavam aptas para exportar porque tinham volume suficiente para fechar um navio. Hoje temos várias indústrias de pequeno e médio porte acessando o mercado internacional via contêineres, com embarques de 500 a mil toneladas, com valor agregado e diversos tipos de embalagens. Esta versatilidade é importante”, enfatiza. 

Para o diretor comercial do Irga é fundamental que o Brasil consolide sua posição de player internacional. Mas para isso deve estar preparado para manter o abastecimento dos clientes conquistados. “Buscar novos mercados compradores é importante, mas precisamos manter os atuais. Vamos continuar exportando o arroz quebrado para a África porque é o nosso maior comprador. O consumo per capita lá é de 145 quilos por ano, semelhante ao consumo asiático. E o Porto de Rio Grande tem a vantagem logística de estar próximo ao continente africano”, reforça Silveira. 

Com a conclusão das obras de melhoramento na infraestrutura do terminal da Cesa e a instalação de novos equipamentos, o Porto de Rio Grande ganha mais capacidade e agilidade para exportar maiores demandas. “Modernizar a logística de armazenamento é mais um avanço importante para reduzir os gargalos que impedem um maior dinamismo da orizicultura brasileira”, comple-menta.

 

Os gargalos de sempre

O novo ano comercial será apertado e com boas perspectivas para os produtores e para a cadeia como um todo. A previsão é do analista de mercado de arroz da consultora Safra & Mercado, Elcio A. Bento. Contudo, ele observa que a efetivação deste cenário positivo depende do bom posicionamento do setor no momento da comercialização, bem como da participação do Governo, que na última temporada monitorou de perto o comportamento dos preços. 

Elcio Bento acredita que em 2009 o mercado internacional do arroz estará mais disputado pelos exportadores. “Apesar do quadro ainda ser apertado no âmbito global, não há sinais de que poderá haver desabastecimento, como ocorreu na temporada anterior. Com isso, os grandes players vendedores não devem taxar ou suspender vendas e os nossos parceiros do Uruguai e da Argentina voltarão a concentrar as atenções para o Brasil”, prevê. 

Para o analista, os principais gargalos que impedem um maior dinamismo da orizicultura brasileira ainda estão relacionados ao arma-zenamento, à logística e à tributação. “Com a colheita concentrada no bimestre março/abril, muitos produtores são obrigados a vender ou depositar seu produto em armazéns de indústrias, o que impossibilita uma melhor comercialização no momento em que os preços recuperam na entressafra”, explica. 

Bento observa que o Governo tem estado muito presente nos últimos anos, evitando que estas deficiências comprometam ainda mais a lucratividade do setor. Mas, segundo ele, ações como a compra de produto no mercado são sempre paliativos, pois não vão à raiz do problema. “Por isso, em momentos em que o mercado possibilita melhores ganhos é necessário voltar as atenções para a solução definitiva destes gargalos. O financiamento para a construção de silos próprios é um exemplo”, aconselha. 

Em termos de logística, Elcio Bento considera que o RS deu um grande passo investindo no transporte hidrográfico. “Somado a isso, a possibilidade de estocagem nos silos da Cesa pode ajudar a colocar o Brasil no rol de grandes exportadores. Esta válvula de escape para a produção nacional é de extrema importância para que os produtores brasileiros possam ter maior liquidez nos negócios”, avalia.

 

Vamos importar mais

As importações de arroz também ultrapassaram as expectativas da Conab, previstas em 500 mil toneladas. Faltando pouco menos de 30 dias para o fechamento do ano comercial agrícola, as compras brasileiras do grão já somavam 494.337,33 toneladas. Ainda assim, este volume representa uma redução de 53% em relação ao período de março de 2007 a janeiro de 2008, que registrou a importação de 1.062.109,79 toneladas. 

O analista de mercado do Irga, Tiago Sarmento Barata, acredita que em 2009 as importações tendem a aumentar basicamente por duas razões: “O produto brasileiro não vai ser suficiente para suprir a demanda interna e os estoques estão baixos. Paralelamente, a retração do mercado internacional deverá atingir o Brasil, mas também o Uruguai e a Argentina. Com isso, esses dois países deverão voltar sua atenção – e seus embarques – para o mercado brasileiro”, estima. 

Ainda assim, Barata considera cedo – e arriscado – fazer uma análise pontual sobre o comportamento do mercado em 2009. E por uma boa razão: “Em dezembro de 2007 não se podia prever o que aconteceria em março de 2008”, lembra.

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