Mato Grosso menos pessimista

 Mato Grosso menos pessimista

Gonçalves Filho: espera safra maior

Produção poderá aumentar em 10% no Mato Grosso
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Os produtores e a indústria de arroz do Mato Grosso já não se apresentam tão pessimistas com relação à próxima safra como estiveram há dois meses. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Mato Grosso (Sindarroz-MT), Joel Gonçalves Filho, há uma expectativa de alta de 10% na produção orizícola estadual, o que se não é tudo aquilo que a indústria necessitava, é muito melhor do que a redução ou uma estabilidade prevista. 

Mas a posição mais otimista não se refere apenas à destinação de área. Essa esperança é o resultado do desenvolvimento e entrada em mercado de novas cultivares para o ambiente de produção denominado terras velhas, já que a abertura de novas áreas no Mato Grosso está sob forte vigilância. “A expectativa é muito grande, pois o produtor alcançou preços sempre superiores às outras praças nas áreas orizícolas mato-grossenses e o arroz se tornou uma alternativa interessante, que está muito associada à rotação de cultura e recuperação de áreas velhas”, afirma com otimismo Joel. 

Segundo ele, novas tecnologias estão sendo agregadas para esse sistema, favorecendo o plantio rotacionado, maior produtividade e principalmente qualidade de grão. “Hoje, a maior exigência da indústria e do varejo está concentrada na qualidade dos grãos, o que historicamente é uma deficiência do Mato Grosso. Com as novas variedades e tecnologias, este padrão será bem melhor nesta safra”, acrescenta.

CONAB – A Conab, em seu levantamento de outubro, não ratifica o otimismo da indústria. A Conab prevê uma queda de 4% a 1% da área plantada no Mato Grosso, ficando entre 269,1 a 277,5 mil hectares, ante 280,3 mil hectares do ciclo passado. A produtividade irá aumentar 3,6%, podendo compensar as perdas. Serão 2.715 quilos por hectare ante 2.620 quilos por hectare na safra 2006/2007. Assim, a produção média deverá chegar a 730,6 mil toneladas ou 753,4 mil toneladas perante 734,3mil toneladas do ano passado, podendo reduzir 0,5% na produção ou aumentar 2,6%. A diferença é que o Mato Grosso entra o ano com estoques públicos zerados e os estoques privados muito ajustados, com compras no Sul e importações.

Fique de olho
Para o economista Carlos Magri, da Embrapa Arroz e Feijão, se não ocorrer um acerto entre indústria, pesquisa e produtores para que a demanda de matéria-prima do Mato Grosso seja atendida, o estado passará por muitas dificuldades. A maior prejudicada será a indústria, que não terá matéria-prima em volumes e no momento necessário. Segundo ele, diante deste cenário, as opções serão fechar ou mudar para novas regiões que estão crescendo em outros estados, principalmente o Pará. 

Questão Básica
1 – O economista da Embrapa Arroz e Feijão, Carlos Magri, revela que a produção orizícola mato-grossense continua sem a “merecida atenção”. Segundo ele, as notícias dão conta de que os produtores estão mais preocupados com outros problemas, como por exemplo a descapitalização. Desta maneira, o arroz fica em segundo plano, optando por alternativas mais rentáveis, como a soja e o milho. “O problema mais sério continua sendo para as indústrias”, completa. Ele lembra que a indústria está sensibilizada e realizando ações coletivas, visando maior estabilidade, enquanto no caso dos produtores as ações ainda são isoladas.

2 – Joel Gonçalves Filho, presidente do Sindarroz-MT, destaca que a indústria vem dando passos importantes no sentido de conscientizar o produtor mato-grossense e a área de pesquisa dos caminhos que precisam ser seguidos. “Fatalmente passamos pela necessidade do desenvolvimento de variedades mais produtivas, mais adaptadas às condições de clima do Centro-oeste e com melhor qualidade de grão. Este papel está sendo desempenhado pela Embrapa e pelas empresas privadas, bem como com a criação de um comitê técnico para o Mato Grosso e Rondônia, que desenvolve um manual de recomendações técnicas para o manejo do arroz”, avisa. Ao mesmo tempo, cita, é necessário desenvolver tecnologias eficientes de manejo em áreas velhas. “Mas não basta isso. Precisamos de melhores estradas e condições de armazenagem e logística para reconquistar a competitividade do nosso produto nos outros estados”, frisou.

 

QUEDA ANUNCIADA

A queda na produção de arroz no Mato Grosso já apresentou seus efeitos sobre o complexo industrial arrozeiro do estado, que reduziu pela metade. Há dois anos o estado era o segundo maior produtor do cereal no país – com dois milhões de toneladas – e 72 beneficiadoras. Atualmente, produz pouco mais de 730 mil toneladas, ante a demanda de pelo menos um milhão de toneladas, e conta com apenas 35 empresas. Esta era uma queda anun-ciada. O surgimento de alternativas de produção mais rentáveis, o salto da valorização do milho e a entrada da cana-de-açúcar, e principalmente o rigor da legislação ambiental que proíbe novas aberturas de área, restringem a produção de arroz. 

A cultura nunca se consolidou no sistema produtivo do Mato Grosso, permanecendo apenas para abertura de área, para preparar a terra após a derrubada da mata por dois anos, até que o solo tivesse condições de comportar a safra de soja, milho, algodão e outras atividades mais lucrativas e estáveis. O desmatamento desenfreado e as perdas ambientais obrigaram o Governo a tomar medidas de restrição, entre as quais a não liberação de linhas de custeio para o arroz de terras altas. 

ABERTURA – Isso, segundo Ângelo Maronezzi, ex-presidente da extinta Associação dos Produtores de Arroz do Mato Grosso (APA/MT), foi crucial para a redução de área, pois a tecnologia para plantio de arroz em áreas velhas recém está sendo desenvolvida e o produtor ainda não a domina integralmente. “As cotações em baixa nas safras anteriores também foram muito importantes para desestimular o plantio”, lembra Tiago Sarmento Barata, analista da Safras & Mercado. Todavia, nesta safra, com maior demanda que oferta, os preços ao produtor subiram, mas retiraram a competitividade da indústria, que não tinha preço para chegar com seu produto no Nordeste e no Sudeste, mercado que havia conquistado há alguns anos. “Os preços do arroz gaúcho e do Mercosul são muito mais competitivos”, confirma Barata. 

COMPETITIVIDADE – Joel Gonçalves Filho, do Sindarroz-MT, revela que o frete para o Nordeste chega a ser 20% mais barato para o arroz gaúcho, pois o produto segue por navio, enquanto o arroz mato-grossense é transportado de caminhão e por estradas precárias. A segregação e perda do padrão para tipo 1 da variedade Cirad 144, há três safras, também afetaram decisivamente, pois tratava-se da variedade mais rústica e produtiva do Centro-oeste, embora sem o padrão de qualidade do Primavera. 

Assim, os investimentos que criaram um dos três maiores parques industriais do arroz no Centro-oeste no final da década de 90, desapareceram. Muitas unidades foram desativadas. Algumas voltaram desmontadas para o Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, outras rumaram para o Pará, Tocantins, Piauí, Maranhão e Rondônia. Estima-se que só na indústria de arroz 1,5 mil postos de trabalho foram extintos. Nem os incentivos fiscais do Governo mato-grossense conseguiram manter a atividade em alta. 

Fique de olho
A cadeia produtiva do Mato Grosso sabe quais são as causas dos problemas que está enfrentando. E está tomando medidas para saná-las e buscar uma estabilidade na produção. “A médio e longo prazos, a redução da lavoura será positiva, porque haverá profissionalização e quem plantar será por opção, portanto buscará qualidade e produtividade”, afirma Ângelo Maronezzi, diretor da AgroNorte Sementes, um centro de pesquisas privado de Sinop. 

 

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