Movido a farelo
Óleo de farelo de arroz é opção ao diesel.
Os esforços realizados no Rio Grande do Sul para encontrar formas de agregar valor ao arroz gaúcho levaram um grupo de pesquisadoras da Faculdade de Química da PUC/RS a desenvolver tecnologias para a obtenção de biodiesel a partir do óleo do farelo desse cereal.
Esse projeto nasceu da proposta da Associação de Arrozeiros de Uruguaiana (RS) pela busca de usos alternativos para o arroz.
A pesquisa é desenvolvida pela mestranda em Engenharia e Tecnologia de Materiais Tatiana Magalhães da Silva e a aluna de graduação em Química Cledi Perciuncula, sob orientação da professora Jeane Dullius. O método utilizado para obtenção do biocombustível nesse trabalho é diferenciado de outros processos mais comuns. “A maioria dos fabricantes de biodiesel usa o metanol, derivado do petróleo, no processo de transesterificação. O nosso projeto usa o etanol, proveniente da cana-de-açúcar”, explica Jeane. Segundo ela, com esse método é produzido um combustível 100% renovável.
O produto ainda está passando por fases de testes em motores e será alvo de um estudo de viabilidade econômica, mas o projeto é visto como promissor. Com sua eficácia comprovada, acredita-se na possibilidade da sua produção em escala em pólos industriais arrozeiros, com farta presença dessa matéria-prima de baixo valor.
VANTAGEM – O projeto ganhou grande repercussão por seu valor ambiental e também pela possibilidade de agregar valor econômico a um derivado do arroz que é naturalmente aproveitado para ração animal. Por ter como característica a rápida oxidação, o farelo de arroz, apesar de seu alto valor nutricional, é pouco utilizado na alimentação humana. As enzimas lipase e peroxidase são as grandes responsáveis pela liberação dos ácidos graxos que causam essa rancificação. É justamente esse o produto aproveitado para a produção do biodiesel, agregando valor à matéria-prima. O processo, além de extrair o óleo, ainda oferece o resíduo do farelo para ser aproveitado para ração animal. Além do biodiesel, a Faculdade de Química da PUC/RS ainda desenvolve outros projetos com derivados de arroz.
Fique de olho
As experiências com derivados do arroz para a produção de biodiesel levantaram um debate: é melhor utilizar esse derivado para biocombustível ou para a alimentação? O pesquisador do Irga, Carlos Fagundes, diz que comparado com a disponibilidade de outras fontes, como mamona, amendoim, colza e soja, por exemplo, a participação do arroz no processo é reduzida. Enquanto em 100 quilos desses produtos podem ser extraídos até 40% de óleo, no arroz são retirados apenas 2%. O pesquisador Gilberto Amato defende o aproveitamento do óleo na culinária e considera o produto de caráter fino. O óleo de arroz tem melhores propriedades nutricionais e funcionais que os similares de soja e milho e, além de tornar as frituras menos gordurosas, possui em sua composição o antioxidante gama-orizanol, que ajuda a combater o envelhecimento.