Basmati: arroz que vale ouro

 Basmati: arroz que vale ouro

Processo artesanal: aromático indiano é muito valorizado

Brasil consome volumes ainda muito pequenos
.

O consumo de variedades aromáticas de arroz no Brasil é bastante limitado. Restringe-se às comunidades de imigrantes asiáticos e aos restaurantes mais refinados ou étnicos. Esta realidade, no entanto, está mudando. Ainda que de forma bastante incipiente, percebe-se o aumento do interesse dos chefes-de-cozinha e dos consumidores pelo sabor exótico do aromático, além da própria pesquisa brasileira, especializada em variedades de arroz. Originário da Índia, o arroz Basmati é o mais famoso dos tipos de arroz aromático. É um dos mais valorizados do mundo, razão de disputas comerciais e internacionais na última década, quando empresas norte-americanas e européias tentaram registrar a marca para suas variedades.

O Governo da Índia impediu a apropriação e agora estuda com o Paquistão um regramento para certificação e denominação de origem para o Basmati tradicional. Exatamente na fronteira desses dois países está concentrada a produção do melhor arroz aromático do mundo. Essas variedades representam 10% do comércio anual internacional de arroz, cerca de 2,5 milhões de toneladas. Quase metade é Basmati.

No Brasil, duas variedades de arroz aromático foram criadas e ganharam alguma notoriedade: a BRS Aroma, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), e a IAC-500, do IAC paulista. Mas o número de produtores que as adotaram ainda é relativamente pequeno.

O aroma natural e o sabor delicado fazem com que o arroz aromático tenha boa aceitação no mundo todo. Possui qualidades muito similares aos tipos convencionais. No Brasil, a procura por esse tipo de arroz é muito pequena. A oferta ocorre exclusivamente com produtos importados em mercados mais sofisticados.

Em 2006, o Brasil importou 8,82 toneladas de arroz da Índia, pagando 1.075 dólares por tonelada. A considerar o preço pago, uma quantidade significativa desse produto é Basmati ou similar. Sinal que o produto já tem admiradores no país. 

Questão Básica
Todo arroz possui aroma, mas alguns têm perfumes típicos. Esta é uma característica hereditária, e as variedades que a possuem de forma mais acentuada são conhecidas como aromáticas. Nas variedades mais conhecidas no Brasil, o ingrediente fica em torno de 78 partes por milhão (ppm). As aromáticas sintetizam componentes químicos em concentrações que vão de 850 e 970 ppm, ultrapassando 1.600 em algumas espécies. Desta forma, elas são perceptíveis não só nos grãos cozidos, mas também nas próprias plantas no campo. 

 

Aromático para os dois ambientes
 
Brasil pode plantar irrigado ou sequeiro

A possibilidade de expansão da demanda de mercado de variedades especiais de arroz fez com que os centros de pesquisa do Brasil investissem nesse nicho em seus programas de melhoramento genético. Atualmente existem variedades para os dois ambientes de produção do Brasil: irrigado ou sequeiro. Em 2001, o Instituto Agronômico de Campinas lançou a IAC-500, cruzando o arroz tipo agulhinha convencional e o Basmati, do Paquistão. Segundo o coordenador do programa, Cândido Bastos, a cultivar lembra o cheiro da pipoca de microondas. A Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, lançou a BRS Aroma em 2003, que remete a cheiro de ervas finas.

A diferença básica entre as variedades é que a paulista pode ser adaptada para irrigação e sequeiro e ao clima temperado, enquanto a BRS Aroma é para o cultivo em terras altas, no centro-oeste e norte do país. Ambas são precoces (colheita até 100 dias) e têm boa resposta à adubação nitrogenada, com potencial produtivo entre 3,2 e cinco mil quilos/hectare. O manejo não difere das demais variedades desses dois ambientes (irrigado e terras altas) e o custo de produção é similar. Irga (RS) e Epagri (SC), apesar de manterem bancos de germoplasma com materiais aromáticos e reproduzirem sementes sob encomenda, não têm planos de investimento nesses mercados.

FAMILIAR – Pelas características de mercado, as variedades aromáticas são mais indicadas para exploração na pequena propriedade familiar, principalmente pela capacidade de agregação de valor. Contudo, trata-se de uma decisão difícil para o produtor, que precisaria de um esforço muito grande para abrir um canal no mercado. O ideal seria a organização de um sistema integrado, no qual a indústria e o agricultor estivessem unidos nesse esforço.

As variedades 

BRS Aroma
– A BRS Aroma, desenvolvida pela Embrapa, alcança produtividade média superior a 3,2 mil quilos/hectare a campo, número semelhante ao das variedades convencionais de terras altas. Destaca-se pelo potencial de agregação de valor, uma vez que pode chegar ao mercado com preço cinco vezes superior ao grão tradicional. A variedade é indicada para as terras altas de Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí, onde o rendimento é igual à BRS Primavera. Com rendimento ligeiramente inferior, é própria também para Rondônia e Mato Grosso. Sua obtenção se deu com o cruzamento da cultivar Basmati 370 e a Lebonnet, cultivar de arroz irrigado americana, além de duas outras linhagens brasileiras de arroz de terras altas.

IAC-500 – O IAC iniciou em 1992 pesquisas focadas no melhoramento genético de linhagens de arroz trazidas dos Estados Unidos e adaptadas ao estado de São Paulo. Em 2001, lançou a variedade aromática IAC-500. Segundo Cândido Bastos, do Centro de Plantas Graníferas do IAC, a IAC-500 apresenta ciclo biológico precoce, elevada resistência ao acamamento e bom potencial produtivo. Pode ser utilizada em sistema de arroz inundado ou de terras altas com irrigação suplementar por aspersão. A produtividade chega a ser 15% menor do que cultivares tradicionais, mas o alto rendimento de grãos inteiros e o valor agregado do produto diferenciado compensam.

 

O dilema consumo x produção
 
O país produz pouco porque consome pouco

O consumo mais acentuado de arroz aromático no Brasil está centralizado na cidade de São Paulo. O estado concentra algumas das maiores colônias de imigrantes asiáticos e árabes do Brasil, nas quais a procura por esse produto diferenciado é mais intensa. O mercado brasileiro é pouco diversificado, priorizando o consumo do arroz branco polido, parboilizado e integral. Este é um indicador de que há espaço para crescimento de outras variedades. Por enquanto, no entanto, o setor vive um dilema: não há consumo por não ter produção e não tem produção porque não existe consumo que a justifique.

Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura constatou que os mercados dos Estados Unidos e da Comunidade Européia apresentam um acelerado crescimento de demanda por variedades especiais de arroz.

Os produtores que trabalham com tipos especiais de arroz e desejam que o produto encontre lugar nos mercados interno e externo devem alcançar o padrão de qualidade internacional. Isso requer cuidados e, principalmente, investimentos em conhecimento e tecnologias de manejo. Estima-se que com uma maior divulgação do arroz aromático o produto possivelmente geraria curiosidade nos consumidores, que levariam o produto para suas mesas. A continuidade na compra e no consumo, contudo, só será observada se o alimento apresentar qualidade. Os fatores preço e hábito cultural certamente influenciarão no momento da escolha também.

Questão Básica 
O arroz Basmati é uma variedade de grão longo, branco ou marrom, famosa por sua fragrância e sabor delicado. O nome, em hindi, significa “rainha das fragrâncias”. É cultivado na Índia e no Paquistão há vários séculos. Os melhores tipos do arroz Basmati são envelhecidos para atender aos mais exigentes paladares. H á duas categorias de Basmati. A variedade tradicional, citada nos poemas de Heer Ranjha, no século X VIII, e a chamada “Basmati evoluído”, que é resultado de cruzamento a partir de um Basmati com outras limitadas variedades aromáticas: este é o Pusa-Basmati-1, que representa 64% das exportações desse tipo de arroz no mundo. 

 

 

 

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter